Otimismo, com pé na realidade

Quem sabe se um certo relaxamento nas medidas de isolamento social ou o retorno paulatino das pessoas à rotina foram responsáveis pela reativação do consumo de chocolates, O certo é que esse movimento resultou em volumes de processamento de cacau maiores nos últimos dois meses do que no mesmo período do ano passado. Levantamento da Associação das Indústrias de Processamento de Cacau (AIPC) capta que foram moídas pelas suas associadas 55.965 toneladas (t) de julho a setembro, registrando incremento de 1% na comparação com igual trimestre do ano passado. Pelos cálculos do mercado, o volume processado do trimestre ficou em 58.294 t, com uma redução anual de apenas 0,85%. O desempenho da indústria brasileira entre julho e setembro foi melhor do que o observado pelo segmento na Europa e na América do Norte, onde os volumes de processamento do período ficaram 4% abaixo dos níveis do mesmo trimestre de 2019. Descontados números mais promissores dos que os do segundo trimestre, as indústrias de outros países ainda não se recuperaram da pressão sobre o consumo provocada pela pandemia. Por aqui, o desempenho entre julho e setembro foi bem melhor do que o registrado no segundo trimestre deste ano, no auge das medidas de isolamento social, quando o volume sofreu queda de 23% na comparação anual. Em relação ao segundo trimestre, o volume de cacau processado no terceiro trimestre cresceu 28,6%, repassa a AIPC. A retomada foi mais significativa em agosto e setembro, mês em que a associação computou um aumento de 7,6% no volume de cacau processado, totalizando 18.971 mil t. A reabertura do comércio, dos restaurantes e, mais recentemente, de cinemas e teatros, além de darem mais segurança para os consumidores aguçaram um certo estímulo visual da demanda por chocolates. As vendas para exportação, por sua vez, ainda não reagiram, uma vez que as indústrias de cada país estão dando conta de demandas, ainda mais restritas. Os embarques de derivados de cacau desde o início do ano até setembro estão 7% abaixo do patamar observado no mesmo período do ano passado em volume, totalizando 57 mil t. Para este último trimestre do ano, quando as indústrias normalmente começam a produzir em conexão com a demanda das indústrias de alimentos para a próxima Páscoa, o cenário ainda é bastante incerto. As processadoras de cacau estão otimistas, mas com um pé na realidade, ponderam que poderá ser uma Páscoa mais conservadora, influenciada por um olhar pós-pandemia. O nível de contratação para a Páscoa também determinará se e quanto haverá de necessidade de importação de cacau, que costuma ocorrer de forma mais concentrada neste trimestre. Este ano, a importação recuou 7,9%, para 74,5 mil t até setembro, registra a a Secretaria de Comércio Exterior (Secex). ■

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