Alívio apenas por enquanto

Apesar da incerteza no horizonte, o setor de moagem de cacau registra crescimento no primeiro trimestre

A cadeia do cacau, principal matéria-prima da indústria do chocolate, se mantém cautelosa ao analisar os efeitos da pandemia da Covid-19 na demanda, apesar da forte queda nas vendas de Páscoa. Os resultados apurados no primeiro trimestre ainda ficaram na parte azul do gráfico de crescimento, ao menos para a indústria de processamento de cacau. Os volumes moídos pelas empresas da AIPC (Associação das Indústrias Processadoras de Cacau), com quatro fábricas no país, alcançaram 56,9 mil toneladas (t), cravando um aumento de 6,6% na comparação com o mesmo período do ano passado, repassa Anna Paula Losi, diretoria executiva da associação.

Anna Paula, da AIPC: contratos para 2020 foram fechados antes da pandemia.

Segundo a AIPC, as vendas de derivados de cacau para os itens de Páscoa já tinham ocorrido no início do ano, e boa parte das vendas dos próximos seis meses já foi contratada. Por isso, as processadoras do insumo preservam as projeções para 2020, sem acusar reflexos da crise, embora elas tenham grande dependência do consumo interno. Assim, a entidade mantém a expectativa de que devem ser moídas neste ano entre 230 mil t e 240 mil t de cacau, representando alta de quase 10% em relação 2019.

Conforme monitoramento da associação, o processamento de cacau no país vem se mantendo estável nos últimos cinco anos – em torno de 220 mil t -, acompanhando o avanço discreto da renda e do país. A última vez que a variação destoou dessa conjuntura foi em 2012, quando a moagem alcançou 235 mil t, registrando o aumento recorde de 2,9%, acima do crescimento do PIB naquele ano (1%).

Com projeções para este ano indicando uma recessão, a AIPC prevê um impacto imediato no perfil do consumo, com migração do food service para o varejo, mas ainda não no volume agregado. “O chocolate vai continuar registrando consumo pela população, mas o ritmo vai depender de quanto tempo perdurar e da intensidade do isolamento”, diz Anna Paula, que assumiu a diretoria executiva da associação em março.

A redução das vendas de chocolate na Páscoa, avalia ela, não chegou a afetar a indústria processadora porque os derivados de cacau foram entregues entre novembro e janeiro, escapando de cancelamentos e queda nas encomendas  de ovos de chocolate, que se intensificaram em março.

Quanto a riscos de não pagamento dos contratos de derivados feitos anteriormente pela indústria chocolateira, Anna Paula sustenta que “os impactos dessa pandemia ainda são imprevisíveis”.

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