Zero gordura trans

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) colocou no ar em julho uma consulta pública para avaliar a possibilidade de banir a presença de gordura trans em alimentos. A reportagem de capa da presente edição, por sinal, joga luz sobre reduções de ingredientes considerados nocivos à saúde, a exemplo de gorduras, no segmento de snacks. Entre 2008 e 2010, um acordo voluntário entre a Associação Brasileira da indústria de Alimentos (Abia) e o Ministério da Saúde conseguiu retirar cerca de 310 mil toneladas de gordura trans de diversas categorias de alimentos. Atualmente, esse tipo de ingrediente, gerado por meio de processo industrial que transforma óleos em gordura consistente, é usado para garantir textura e crocância, além de aumentar a validade em alimentos industrializados, como biscoitos, cremes, pastas, margarinas e sorvetes. O problema está nos efeitos à saúde. Estudos apontam que esse tipo de gordura reduz os níveis de colesterol HDL (“bom”), aumenta o LDL (“ruim”) e eleva o risco de doenças cardiovasculares. A proposta da Anvisa é adotar uma mudança em duas etapas. Na primeira, seria adotado um limite de 2% de gordura trans sobre o teor de gordura dos alimentos. As indústrias teriam 1,6 ano de prazo para adequação. Em seguida, o país passaria à segunda etapa, que prevê proibir totalmente o uso dessas substâncias. As empresas teriam mais 1,6 ano para isso. A proposta foi apresentada em reunião da diretoria da agência e seguiu para consulta pública – ainda em curso – por 60 dias. Entidades como o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) e Conselho Federal de Nutricionistas aplaudem a possibilidade da adoção de novas medidas, mas ainda avaliam pontos como o prazo para adequação. Segundo o instituto, o país tem evidências do impacto das gorduras trans desde 2003, mas está atrasado na regulamentação do tema. E as medidas até então implementadas não foram suficientes para atingir um nível adequado de proteção à saúde dos consumidores. Já a ala dos nutricionistas lembra que esse tipo de gordura está presente em boa parte dos produtos ultraprocessados, mas é facilmente substituível. As regras atuais são limitadas para fazer com que essa substituição ocorra, daí a necessidade de mudança no modelo. Dados da Anvisa mostram que o consumo desse tipo de gordura, embora tenha sido reduzido nos últimos anos, continua alto no país. Atualmente, a Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda que o consumo diário de gordura trans não ultrapasse 1% do valor energético total de uma dieta ou não mais do que 2g por dia em uma dieta de 2 mil calorias. Segundo os estudos, o percentual de consumo diário no Brasil fica em torno de 1,4%, podendo chegar a 2,5% em alguns grupos. Um dos fatores que levam a esse cenário são os baixos preços de produtos com esse tipo de ingrediente, em geral mais em conta que os demais. ■

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