Surfando no novo normal

Antes reservadas para compra esporádica ou alguma promoção, as linhas de produtos saudáveis ingressaram de vez na lista do consumidor brasileiro. Essa demanda foi acelerada pela pandemia e as marcas que atuam no segmento não têm do que reclamar. É o caso da Lightsweet, uma das pioneiras no gênero e dona das marcas Lowçucar e Magro. “A pandemia do novocoronavírus teve um impacto positivo em todas as operações da empresa, pois a venda de itens saudáveis aumentou no período e estamos fazendo o possível para atender bem essa demanda”, sintetiza Amaury Cezar Cruz Couto, fundador e presidente da empresa, que detém a patente do processo de fracionamento das folhas da stevia rebaudiana (Bert) Bertoni. Na entrevista a seguir, ele analisa as consequências da crise pandêmica no setor de saudáveis e abre os planos da Lightsweet para enfrentamento do novo normal.

DR — Como a pandemia do coronavírus impactou as operações da Lightsweet nas esferas comercial, produtiva e de distribuição?
Couto — O impacto foi positivo em todas as operações da empresa. Organizamos comitês para administração e gestão de todo esse processo. Abrimos imediatamente um comitê para gestão da crise e envolver todo o processo dentro da empresa. Colocamos vários dos nossos colaboradores em home office e deixamos as pessoas absolutamente necessárias dentro da área de produção. Em paralelo, tomamos todas as medidas cabíveis para que não tivéssemos nenhum caso de cobid-19 dentro da empresa. E não tivemos.
Segundo ponto: nessa gestão da crise passamos a ter um trabalho mais intenso e forte com todos os canais de vendas. Mobilizamos e reorganizamos toda rede de trabalho, desde bancos a fornecedores, passando pelos distribuidores, atacados e varejos. Fizemos reuniões permanentes com todos os stakeholders e o resultado foi muito mais positivo do que nós imaginávamos. Assim, passamos a ter resultados melhores em todo processo produtivo, de vendas, marketing e tudo o que se refere à distribuição de nossos produtos. Como trabalhamos com alimentos que são necessários à dieta das pessoas, colhemos resultados muito positivos e não tivermos nenhuma contrariedade. Ao contrário, aprendemos a trabalhar melhor sob a pandemia. A crise fez com que acordássemos e agora estamos fazendo a gestão para o pós-coronavirus.

DR — Pesquisas têm mostrado que os consumidores em geral passaram a adotar hábitos de se alimentar mais em casa procurando ingerir produtos mais saudáveis. O que a Lightsweet vem fazendo para surfar nessa nova onda?
Couto — Nosso propósito é ajudar as pessoas a construírem uma vida mais saudável. Com ele, tudo o que aconteceu veio ao encontro do processo que estamos imprimindo na companhia. O consumidor passou a olhar melhor para a nossa linha, passou a ter uma condição de melhor consumo e de entender mais o produto. Fazer em casa ficou muito mais fácil, então itens que anteriormente não se vendia passaram a vender mais, isso porque envolvemos o consumidor nessa tarefa de fazer refeições saudáveis em casa. Todos os itens direcionados ao consumo doméstico passaram a ter um resultado mais positivo. Ajudamos o consumidor a entender melhor essa questão da saudabilidade, de cultivar hábitos mais saudáveis, a exemplo de reduzir o açúcar, fundamental para melhorar até mesmo o sistema imunológico.

DR ― Também é fato que a pandemia impactou a renda dos consumidores. Produtos enquadrados como mais saudáveis (especiais, diet/light, naturais, orgânicos) também têm maior preço comparados a itens convencionais. Como a Ligthsweet, que produz linhas desse gênero, contorna esse aparente problema?
Couto — Realmente nossos produtos são um pouquinho mais caros do que os normais, vamos dizer assim, mas o consumidor agora entende porque a categoria de uma maneira geral é um pouco mais cara. Ele também entende que vai ter mais saudabilidade adotando o consumo desses produtos e, muitas vezes, prefere gastar um pouco mais para alcançar o benefício. Claro que essa condição não se apresenta a todas as classes. As classes C, D e E – principalmente D e E – têm outro tipo de comportamento. Para esse gênero de produto, a classe C+ um pouco mais próxima da B, pode pagar um pouco mais. Por outro lado, como de uma maneira geral. A escala de venda desses produtos aumentou, os preços pelo menos se mantiveram nesse período da pandemia. A exceção surgiu agora com a questão da falta de matérias-primas. Mas de uma certa forma os preços se mantiveram e o consumidor identifica isso. As linhas saudáveis não deixaram de ser vendidas por questões de preço alto, pois o valor maior é a saúde do consumidor.

DR ― Nesses últimos 8-9 meses o que mudou na demanda das marcas da Lightsweet?
Couto — Todos os produtos que de alguma maneira podem ser usados em preparos no lar aumentaram as vendas. Um exemplo é o Adoçante Culinária, que permite fazer de bolos a sobremesas e passou a vender mais. Outros itens, de biscoitos a refrescos, para serem elaborados em casa também tiveram a demanda acelerada. Foi perfeito porque o consumidor passou inclusive a olhar melhor para estes produtos e a aprender a trabalhar melhor. De nossa parte, estamos dando assistência máxima e absoluta para esse consumo, porque essas linhas passaram a ter um valor melhor para o consumidor. Já no caso dos adoçantes, por exemplo, não, porque o adoçante já se usa normalmente. É mais barato se você olhar o rendimento, as características e as condições, do que o açúcar. Adoçar um café com adoçante hoje é mais barato do que adoçar com o açúcar, diante dos preços do açúcar e do rendimento de um frasco de 80ml, 100 ml ou até mesmo 200ml, cujo valor é extremamente pequeno. Um frasco de 80ml /100ml pode adoçar até 300, 400 ou 500 cafezinhos, dependendo da composição e da concentração dos edulcorantes. Consequentemente, é até mais barato. No caso dos outros itens, aumentaram as demandas e isso facilitou a vida do usuário, que passou a compreender a importância dos produtos mais saudáveis.

DR — Levando em conta o novo normal e as mudanças nos hábitos, o que a Ligthsweet planeja para o futuro próximo?
Couto — Essa pergunta vai ao encontro da gestão da transformação e não sabemos informar qual será o novo normal, mas sabemos que novos hábitos irão surgir, por exemplo na comercialização. Estamos trabalhando intensamente com os marketplaces e de uma forma generalizada para facilitar o acesso mais rápido ao nosso produto e com mais eficácia para o consumidor. Também procuramos desenvolver itens prontos para que o nosso cliente final possa adquirir e não ter que fazer em casa, a exemplo de sobremesas. Estamos estudando todas essas possibilidades. A Lightsweet poderá ter lojas on-line não exatamente para vender os produtos prontos, mas para linhas de insumos para transformação. Isso também vai ao encontro do novo hábito do consumidor e do novo normal. Dessa maneira, trabalhamos com mais canais de venda para facilitar a entrega, a presença e as ações em relação ao comércio de uma maneira geral, Fato é que uma parcela dos consumidores não quer mais sair de casa, está preocupada. Tem outra que sai apenas para ir ao supermercado, e ainda há um percentual maior que está comprando por delivery. Estamos trabalhando para demonstrar que podemos atender este consumidor de uma forma mais rápida e eficiente. ■

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