Durante a convenção e feira anual do setor atacadista distribuidor – Abad 2015, promovida no início de agosto em Fortaleza (CE), a direção da Abad (Associação Brasileira de Atacadistas e Distribuidores), promotora do evento, anunciou a queda, inédita por sinal, de 9,5% nas vendas brutas nominais do setor atacadista, de janeiro a junho. Descontada a inflação (IPCA), o índice real supera 19% e é termômetro do impacto da crise econômica no setor, englobando operações dos mais variados portes. Exceção pontual a esse quadro, o Atacadão de Embalagens, rede com quatro unidades com sede há 25 anos em Carapicuíba, na Grande São Paulo, não apenas vem mantendo crescimento anual na faixa de 20% como investiu R$ 5 milhões na instalação de sua quinta e maior loja. Construída a cerca de 100 metros da matriz, ela tem inauguração prevista até o final de 2015, anuncia Manuel dos Santos, diretor da rede atacadista. “Neste ano, sentimos um enfraquecimento nos negócios, mas não conseguimos distinguir se é consequência da conjuntura econômica ou da limitação na loja principal, que não tem mais espaço para ampliação”, comenta o dirigente, justificando a expansão em curso.
Com cerca de mil metros quadrados de espaço de venda, erguida em prédio próprio que ocupa área total de 2.500 metros quadrados, a nova unidade do Atacadão de Embalagens vai operar no formato cash and carry (atacarejo) e deve elevar em 50% a oferta de cerca de 25 mil itens disponíveis na loja principal de Carapicuíba, calcula Santos. As demais operações da rede, ele informa, estão instaladas em Paraty, litoral do Rio de Janeiro; Itapetininga, no interior de São Paulo e Praia Grande, na Baixada Santista. Para abastecer toda a cadeia, o Atacadão conta com um Centro de Distribuição (CD), localizado próximo à matriz, com sistema porta-paletes universal de acesso a 170 posições, repassa Luiz Renato Venancio dos Santos, diretor financeiro da rede. Em grande parte, o crescimento registrado pelo Atacadão tem a ver com a gestão familiar implantada e que opera um efetivo bastante enxuto. Enquanto Luiz Renato e seus dois irmãos dividem a administração do CD e da matriz com Santos, parentes e antigos funcionários comandam as demais filiais. Ao todo são aproximadamente 50 funcionários.
Câmeras instaladas em todas as unidades monitoram em tempo real a operação, com as imagens acessadas pelos diretores até pelo celular. “Controlamos o movimento de todas as lojas pelo telefone e se, por exemplo, notamos algo diferente, uma prateleira vazia, comunicamos na hora os funcionários daqui de Carapicuíba”, exemplifica Luiz Renato.
Avanço da confeitaria
Outra justificativa para o avanço nos negócios do Atacadão é o próprio agravamento da crise que, com o desemprego e queda da renda, infla a busca de alternativas para complementação da renda familiar e a informalidade, observa Santos. Depois de iniciar a operação como fonte de embalagens e descartáveis, reduto hoje responsável por 30% da receita total, o Atacadão migrou para o filão de artigos para festas, que responde por outros 30% do faturamento. Antes presente em poucos metros lineares de prateleira, os insumos e apetrechos para confeitaria e chocolate artesanal passaram, com o tempo, a dominar os espaços das lojas e atualmente abocanham 40% da operação, relata Santos. “Há cerca de cinco anos passamos a oferecer os cursos culinários e é essa atividade que tem sustentado essa demanda crescente de chocolate, cobertura, compounds e itens de decoração, nacionais e importados”, nota o atacadista. Para ele, o interesse inicial da clientela por receitas de doces e guloseimas para fazer em casa evoluiu para uma onda de empreendedorismo, que vem determinando inclusive a programação dos cerca de 15 cursos ministrados mensalmente na loja. “As pessoas hoje em dia querem montar um negócio e sair vendendo trufas e bombons para garantir um rendimento extra”, assinala o diretor do Atacadão. Na programação, renovada a cada mês, a loja disponibiliza cursos a partir de R$ 10,00, mas Santos adverte que a procura maior é pelas aulas de R$ 70,00 a R$ 130,00. “Os especialistas que ministram esses cursos não apenas repassam receitas culinárias, mas ensinam como empreender nessa atividade”, sublinha o negociante.
Esse contingente cada vez maior de donas de casa, aprendizes de confeiteiro e profissionais em busca de aprimoramento encontra no Atacadão de Embalagens cerca de 10 mil itens, entre acessórios para manipulação de chocolate e doces, formas, moldes, confeitos decorativos, pasta americana, chocolates e coberturas/compounds. Segundo Luiz Renato, esse movimento apenas na unidade de Carapicuíba totaliza cerca de 500 tíquetes por dia com valor médio de R$ 50,00. Além desse varejo, a loja cobre toda região Oeste da Grande São Paulo, atingindo os municípios de Itapevi, Jandira, Barueri e Osasco, com dois caminhões e três vans, além de transporte terceirizado.
“O nosso maior trunfo é dispor de chocolate belga importado, da marca Barry Callebaut, que fornece também a grife Sicao e é um dos grandes parceiros ao lado da Harald e da Garoto”, frisa Luiz Renato. Enquanto chocolates convencionais têm preço, na média, na faixa de R$ 15, 00 o quilo, a especialidade importada não sai por menos de R$ 80,00 o quilo, turbinado ainda mais pelo câmbio atual. “Mas o produto tem saída porque agrega valor e quem quer hoje em dia ser chocolateiro visa oferecer algo diferenciado”, analisa o diretor financeiro.
Essa demanda em brasa foi a salvação da Páscoa de 2015 com a rede atingindo crescimento de 20% em relação à campanha anterior. O varejo nacional, por exemplo, teve um dos seus piores desempenhos, desde 2007, quando a Serasa Experian acionou seu indicador de atividade do comércio e passou a medir as vendas na data. Por conta desse êxito o Atacadão já fechou, por exemplo, com a Harald a sua compra de Páscoa para o próximo ano. “Começamos a comprar a dez meses da data e já temos 70% do estoque garantido para 2016“, posiciona Luiz Renato. Em 2014, o Atacadão de Embalagens venceu o concurso da Harald que premiava o estabelecimento de maior crescimento no filão de chocolate artesanal. “Ganhamos uma viagem e desde então só estamos pisando no acelerador”, assinala o diretor. •