Tradicionalmente doce, a pasta de amendoim no Brasil contém teor elevado de açúcar e serve como base para a conhecida paçoca, guloseima popular associada às festas juninas. No entanto, a preocupação com o consumo de açúcar entre brasileiros, atentos a tendências de saúde e nutrição, gera oportunidade para a introdução de versões de pastas à base do grão mais saudáveis. Entre elas, figuram variedades fortificadas com proteínas voltadas a atletas e que enfatizam o ganho de músculos, exemplifica Melanie Zanoza Bartelme, analista global de alimentos da Mintel. “Um pequeno número de marcas começou a lançar pastas de amendoim posicionadas como livres de (free from), eliminando açúcares, glúten, lactose e gorduras trans”, observa a especialista. Na entrevista a seguir, Melanie, também colaboradora do Institute of Food Technologists (IFT), destaca aspectos positivos de recente relatório da Mintel sobre o tema para a indústria de snacks atrair mais consumidores.
DR – Qual é o principal apelo desses fabricantes de linhas de alimentos livres de?
Melanie – Essas marcas focam no fato dos produtos conterem apenas um ingrediente: o amendoim. E existe potencial de crescimento para esse tipo de produto, especialmente se as marcas destacarem a presença de proteína à base de plantas. Essa variedade pode atrair brasileiros que procuram alimentos saudáveis, mas também saborosos, que podem se tornar opções de snacks.
DR – Há algum dado que sinalize essa tendência?
Melanie – Ao mesmo tempo que os brasileiros apreciam doces, muitos deles também procuram moderar o que consomem: 52% afirmam que estão tentando limitar a quantidade de açúcar que comem. Portanto, pastas de amendoim naturais e simples podem ser posicionadas como um produto que estabelece uma ponte que preenche o espaço entre o produto doce consumido na infância e um “alimento saudável”.
DR – Ao contrário dos norte-americanos, os brasileiros não são muito fãs de pasta de amendoim. Qual o apelo para mudar essa posição?
Melanie – Essas pastas de amendoim podem conseguir uma aceitação maior do consumidor do que as variedades “saudáveis” atualmente existentes no mercado, que geralmente contém proteína adicionada e são voltadas aos atletas. As marcas também podem valorizar o conteúdo de proteína presente nas pastas de amendoim ressaltando suas propriedades que promovem saciedade e as posicionando como impulsionadoras naturais de energia. Aliás, 52% dos brasileiros estão tentando comer alimentos ricos em proteína/fibra e/ou bebidas.
DR – Enfatizar praticidade e conveniência também é um caminho?
Melanie – O investimento em embalagens em formato lanche pode tornar as pastas de amendoim mais acessíveis aos consumidores. Esses formatos podem encorajá-los a buscar, com mais frequência, as pastas de amendoim, quando precisarem de mais energia. Os brasileiros são fãs de lanchinhos. Por exemplo, 34% dos consumidores de snacks afirmam consumi-los enquanto estão trabalhando ou estudando. Entretanto, 23% dos estudantes concordam que não há muitas opções de lanchinhos em embalagens práticas.
DR – E como fica a questão do paladar?
Melanie – Como os consumidores estão acostumados com as pastas de amendoim mais doces, pode haver um desafio em ajudá-los a se acostumar com esses novos produtos. A combinação de pastas de amendoim com lanches populares brasileiros pode ajudar a fazer essa transição. Uma opção interessante é a banana seca, que surgiu no Brasil como um substituto saboroso, mas saudável, para outros tipos de lanches doces. Atualmente, a marca Eat Clean utiliza este ingrediente em suas embalagens para um snack que combina banana com pasta de amendoim.
No Brasil, a pasta de amendoim pode mudar sua percepção de um doce para se tornar mais saudável, natural e uma fonte de proteína e energia. A pasta de amendoim, especialmente em embalagens práticas e on-the-go, pode ser especialmente atraente para estudantes ou trabalhadores que precisam evitar a fome ao meio do dia. •