O politicamente incorreto
A morte do americano negro George Floyd, sufocado por um policial branco em maio, em Mineápolis (EUA), gerou uma onda de protestos por todo os Estados Unidos e mundo afora. Manifestações massivas tomaram o país para dizer que vidas negras importam (black lives matter) e o tema se impôs no debate político e econômico global. Como reflexo do movimento black lives matter, duas marcas de produtos alimentícios consagradas pelos consumidores americanos estão sendo retiradas do mercado por conta de suas origens e conotação racista. No começo de junho, a PepsiCo americana anunciou que removerá a imagem da mulher negra dos rótulos das misturas para panquecas, xaropes e outros produtos da marca Aunt Jemima, sem distribuição oficial no Brasil. Um eventual novo nome para a linha ainda não foi definido, mas a mudança deverá ocorrer ao longo do quarto trimestre deste ano. A corporação Mars, por sua vez, estuda como vai mudar a marca Uncle Ben’s – disponível no Brasil – e sua imagem, que apresenta um homem negro de cabelos grisalhos. A companhia ainda não definiu quais serão as mudanças, nem quando irão ocorrer, mas avalia todas as possibilidades, reporta um artigo do The Wall Street Journal. Os fabricantes desses produtos estão empenhados em repensar suas estratégias de marketing no momento em que os Estados Unidos enfrentam conflitos raciais após a morte de Floyd. A marca Aunt Jemima foi criada em 1889, inspirada na canção popular “Old Aunt Jemima”. À época, uma ex-escrava foi contratada para ser sua porta-voz. Ela fez sua estreia como Aunt Jemima na Feira Mundial de Chicago em 1893. Os primeiros anúncios publicados em revistas promovia o slogan da marca, “I’se In Town, Honey” (“Estou na cidade, querida”, em tradução livre), e estimulava os leitores a enviar um envelope selado para a companhia (4 centavos de dólar em selos postais) para receberem em casa a história de “Aunt Jemima e suas bonecas pretinhas”. A embalagem da panqueca trazia a imagem de uma mulher negra usando um lenço na cabeça. Em 1926, a Quaker Oats comprou a empresa e contratou uma nova porta-voz, uma mulher mais robusta cuja aparência se aproximava do estereótipo das “mamas” dos shows teatrais. A companhia atualizou a marca em 1989 e substituiu o lenço na cabeça por brincos de pérolas e um colar. A PepsiCo comprou a Quaker Oats em 2001. Já a marca Uncle Ben’s tem sua origem no começo dos anos 1940. Segundo a Mars, o nome veio de um agricultor negro do Texas, conhecido como uncle Ben (tio Ben), que cultivava um arroz de alta qualidade. O rosto nas caixas, que personifica a marca, é o de um maître de Chicago, informa a empresa. A imagem original mostrava um homem negro de cabelos grisalhos vestindo um terno azul com gravata borboleta preta e foi reformulada em 2007. Esse esforço para reinventar o tio Ben foi recebido com críticas, algumas observando que ele ainda usava a gravata borboleta, símbolo de servidão, além do honorífico “uncle” (tio), refletindo um período em que os sulistas brancos usavam “aunt” (tia) e “uncle” porque não queriam se dirigir aos negros como “senhor” e “senhora”. ■
Deixe um comentário
Você precisa fazer o login para publicar um comentário.