O futuro é agora

Os 60 anos da Associação Brasileira da Indústria de Chocolate, Cacau, Amendoim, Balas e Derivados (Abicab), completados neste exercício, reverberam ações que, ao longo de sua trajetória, conduziram o setor à atual condição de potência e player global. Considerando esse início, o futuro é agora. Mas na memória ainda viva dessa caminhada sobressai a campanha que marcou a primeira grande realização da entidade. Apesar de criada em 1957, foi no início dos anos 1970 que surgiu o maior desafio aos dirigentes da então Associação Brasileira da Indústria de Chocolate, ainda sem a incorporação das demais categorias. Com população na faixa de 100 milhões de habitantes, o Brasil produzia cerca de 32 mil toneladas (t) de chocolate para um consumo per capita em torno de 320 gramas. Para se ter a dimensão desse volume, a referência na Colômbia, país sul-americano de clima semelhante, era três vezes maior. Hoje o índice brasileiro é de 2,5-3 quilos/habitante/ano.

Ursulino Netto, do Sicab: aumento no consumo per capita de chocolate foi primeiro desafio.

Unindo forças, os setores de cacau e chocolate, em articulação com o governo, deflagraram um dos maiores êxitos de marketing de que se tem notícia no país, lançando uma campanha massiva de incentivo ao consumo de chocolate. “A ideia foi gestada na Lacta e, através da associação, proposta à Garoto e à Nestlé, as três maiores do setor e, em seguida, levada à Ceplac (Comissão Executiva de Planejamento da Lavoura Cacaueira), órgão do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), pois o eventual aumento no consumo de chocolate também beneficiaria a produção brasileira de cacau”, rememora Getulio Ursulino Netto, dirigente da Abicab e atual presidente do Sicab (Sindicato da Indústria de Chocolate, Cacau, Amendoim, Balas e Derivados do Estado de São Paulo).

Ao custo aproximado de US$ 5 milhões, a iniciativa atravessou seis anos e foi encerrada em 1978, alcançando plenamente os objetivos. Naquele período, a produção de cacau saltou de 160 mil t para 280 mil t, colocando o Brasil, antes em sexto lugar, na segunda posição do ranking mundial (hoje o país ocupa a sexta posição mundial). Os volumes de chocolate, que empregavam cerca de 10-20% da produção nacional de cacau, quase triplicaram, alcançando o patamar de 90 mil t, e o consumo per capita avançou mais que o dobro, cravando 770 gramas. Atualmente, toda produção brasileira é absorvida pelo mercado interno.
O mais importante é que a campanha mudou o conceito de chocolate, até então tido como mera guloseima e impregnado de mitos que inibiam o seu consumo. Conforme senso comum, o produto engordava, atacava o fígado e provocava espinhas no rosto. Mais recentemente, à luz de descobertas e comprovações científicas sobre os efeitos antioxidantes de substâncias contidas no cacau, o setor chocolateiro vivenciou novo boom na produção, distribuição e consumo.

Luccas, do Cereal Chocotec: programa de desenvolvimento tecnológico viabilizou acesso ao mercado exterior

A estratégia adotada, que também envolveu os canais de distribuição, reposicionou, primeiramente, o chocolate como alimento e fonte de energia. Em seguida, trabalhou a frequência de consumo e, finalmente, posicionou o produto como item de consumo popular e custo acessível. “Cada entidade assumiu 50% dos custos da ação e o planejamento e coordenação foi feito no âmbito da Comissão Nacional de Expansão do Consumo de Chocolate (Conec), criada somente para esse fim”, informa Ursulino Netto, assinalando o envolvimento de escolas do ensino primário e secundário, através de concurso nacional que mobilizou todo
o país.

O ciclo se completou com a incorporação a esses atributos racionais de uma carga sensorial, apelando para a emoção contida no gesto de consumir ou presentear alguém com chocolate. Nos seis anos de campanha, foram realizadas sondagens que constataram os resultados positivos quanto à imagem do produto, perfil do consumidor e aumento no consumo. Em 1972, apenas 8% das pessoas consumiam chocolate habitualmente. De 1976 em diante, as pesquisas revelaram que 94% das pessoas passaram a cultivar o hábito de consumo. A demanda criada pela campanha não arrefeceu nem mesmo com os preços do produto, superando em cerca de 38% a alta inflação da época. As vendas de 1972 a 1978 acusaram crescimento de 136%.

A relevância da associação da indústria de chocolate cresceu ao longo dos seus primeiros 30 anos e, em 1990, foram agregados a ela os setores de cacau, balas e derivados, assumindo a entidade a designação de Abicab. No decorrer do tempo, filiaram-se à instituição vários grupos e entidades regionais, como os sindicatos das indústrias de chocolates e balas de São Paulo, do Paraná e de Erechim, no Rio Grande do Sul, e ainda a Associação da Indústria de Chocolates Caseiros de Gramado (RS), além de diversos fornecedores. Com mais de 90 empresas afiliadas, a Abicab engloba hoje toda a cadeia produtiva nacional, representando 70% do mercado de cacau, 92% dos fabricantes de chocolate, 62% das indústrias de amendoim e 93% do segmento de balas e confeitos. E o Brasil se posiciona na terceira colocação, no ranking mundial dos produtores, atrás dos EUA e Alemanha, com 12% da produção e 10% do consumo desses produtos.

Cereal Chocotec: criação do Conselho Consultivo em julho de 2007.

Parcerias chaves
Para alcançar essa projeção, entraram em cena as primeiras grandes parcerias fechadas pela entidade. Na tentativa de incrementar as vendas domésticas, em um cenário que insistia em permanecer estabilizado, a Abicab foi bater na porta do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC) que, coincidentemente, buscava estimular as exportações. “Solicitamos apoio e fomos encaminhados para a Apex-Brasil (Agência de Promoção de Exportações e Investimentos), responsável pela expansão no exterior por meio de ações de inteligência e pesquisa do setor em outros países e, principalmente, promover a participação das indústrias brasileiras nas mais importantes feiras internacionais, rodadas de negócios e programas de relacionamento com clientes potenciais”, relembra Ursulino Netto, à época à frente da Abicab e das negociações.

A estreia do Brasil no mercado internacional de candies havia dado os primeiros passos na década de 1980, quando a entidade promoveu a ida de algumas indústrias na feira ISM, a maior e mais tradicional vitrine global do setor, organizada anualmente em Colônia, na Alemanha. Outros balcões de negócios no exterior foram sendo depois incorporados ao roteiro dos exportadores brasileiros, a exemplo do Sial de Paris, na França, e a Sweets & Snacks Expo de Chicago, nos EUA, assegurando cobertura global aos embarques brasileiros. Foi a entidade que idealizou a união de empresas brasileiras em feiras no exterior no espaço de ilhas, identificadas pelo movimento e símbolo nacional com a logomarca Sweet Brasil, estampada em um confeito com as cores da bandeira brasileira.

Fonseca, da Abicab: maior interlocução com o Congresso Nacional para discutir pleitos do setor.

Vinculada à Câmara de Comércio Exterior (Camex), a Apex-Brasil fora incumbida de coordenar o Programa de Novos Polos de Exportação, quando a Abicab apresentou seu primeiro projeto, por sinal, aprovado na íntegra e, depois, renovado em todas as reedições posteriores. Em síntese, a agência banca 50% dos custos operacionais de participação em feiras de negócios. O projeto original culminou com a inclusão do setor doceiro entre os dez selecionados pelo programa de exportações. Criado para inverter o perfil do modelo exportador vigente no país, ele era direcionado a empresas de menor porte. Dentro do setor de chocolates e candies, à época, menos de dez indústrias de um universo estimado em torno de 60, respondiam por cerca de 80% dos embarques totais. Em 1998, quando a Apex se preparava para atuar no setor, o total das exportações de confectionery do Brasil ficou em 46.000 t, algo próximo de 6% da produção do setor, participação que nos anos seguintes chegou a alcançar o pico de 23%. Cerca de 57% dos embarques foram patrocinados por empresas multinacionais estabelecidas no Brasil, que eram cerca de dez de grande porte, cabendo a parcela restante de 43% a indústrias genuinamente nacionais, bem menores. Em 2000, já sob a vigência do programa governamental, as dez maiores indústrias totalizaram 49% das exportações, ficando 51% dos embarques nas mãos de cerca de 25 empresas nacionais de médio porte.

Mais recentemente a Abicab implementou uma grande gama de serviços, que busca fortalecer a representatividade setorial, aumentar a competitividade das empresas brasileiras e divulgar o setor no mercado interno e externo, insere Alberto Bicca, gestor da Apex-Brasil junto à entidade, destacando a campanha de divulgação do movimento Sweet Brasil na América Latina. “Esse programa foi tão bem sucedido que ganhou o prêmio Latin America Excellence Award na categoria Multi-Market Communications”, grifa. Nos últimos meses, o projeto setorial Sweet Brasil levou seus participantes às feiras Yummex Middle East, em Dubai (EAU), e ISM, em Colônia (Alemanha), com resultados positivos, comenta Bicca, complementando que, no ano passado, as empresas inseridas no projeto registraram crescimento acima de 10% nas exportações. “Em maio participamos da feira Sweets & Snacks Expo, de Chicago (EUA), com dez empresas brasileiras, sendo sete ligadas ao projeto da Abicab e três vinculadas ao da Abimapi, e agora devemos tratar da renovação do convênio entre a Apex-Brasil e a Abicab para os próximos dois anos”, anuncia o gestor.

Cereal Chocotec: laboratórios e plantas-piloto para desenvolvimentos
em confectionery.

Pesquisa e inovação
Em paralelo à parceria com a Apex-Brasil, foi criado o Centro de Tecnologia de Cereais e Chocolate – Cereal Chocotec, no âmbito do Instituto de Tecnologia de Alimentos (Ital) que, por sinal, completa 20 anos em setembro próximo. Para construir uma mentalidade exportadora baseada no tripé capacidade, produção e qualidade, as empresas associadas à Abicab precisavam de um centro de capacitação, pesquisa e desenvolvimento. Inspirado no instituto alemão ZDS, ilha de excelência no ensino do setor de confeitos (confectionery), Ursulino Netto conseguiu a instalação do centro via solicitação direta ao então secretário de estado da agricultura e ex- ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (2003/2006) Roberto Rodrigues. Com atuação em pesquisa, desenvolvimento, inovação, assistência tecnológica e difusão do conhecimento, o Cereal Chocotec vem desde então apoiando as indústrias do setor em serviços técnico-científicos nos segmentos de chocolates, balas e derivados, confeitos, cereais e produtos de panificação, sempre contando com a parceria da Abicab, observa Valdecir Luccas, diretor técnico do centro.

Ele lembra que o Chocotec foi oficializado em 1995 como um dos centros de pesquisas do Ital. “Dois anos depois, ocorreu a união com o Centro de Pesquisa e Tecnologia de Cereais (Cepec), existente no Ital desde a década de 1960, criando-se, assim, o Centro de Tecnologia de Cereais e Chocolate – Cereal Chocotec. Entre os pontos altos da parceria com a Abicab, Luccas inclui o projeto Apex/Abicab/Ital denominado Tecnologia Competitiva, visando o desenvolvimento tecnológico de empresas para aumento das exportações. À época, o Cereal Chocotec contribuiu tecnicamente para o incremento da competitividade exportadora de 14 pequenas e médias empresas, iniciativa que resultou em efetiva elevação das exportações do setor. “Os resultados obtidos no projeto culminaram com o lançamento, em 2005, do livro Atratividade de Mercado para Exportação de Chocolates, Balas e Confeitos”, assinala Luccas.

Gouvêa, da Abiad: os rumos da indústria, tendências e inovação na pauta do Conselho Consultivo.

Outro tento da parceria entre o Ital e a Abicab foi a criação do Conselho Consultivo do Cereal Chocotec, em 2007, cuja primeira reunião foi presidida por Ursulino Netto, que permaneceu por dois mandatos consecutivos. “O conselho permanece atuante e tem como principais funções a orientação da política de desenvolvimento e de relacionamento do Cereal Chocotec com a sociedade, bem como a busca de parcerias com os setores público e privado na execução de projetos e serviços de pesquisa, desenvolvimento e, sobretudo, inovação (P,D&I)”, sintetiza Carlos Eduardo Gouvêa, atual presidente do órgão e vice-presidente da Abiad (Associação Brasileira da Indústria de Alimentos para Fins Especiais e Congêneres). Para ele, que também preside a Abiis (Aliança Brasileira da Indústria Inovadora em Saúde), a existência e atuação do conselho são vitais para a indústria de confectionery. “Das reuniões saem deliberações que dão os rumos da indústria, identificando tendências e, mais que isso, orientado os caminhos para a inovação”, frisa Gouvêa.
Além de entidades governamentais, estaduais e federais, o Conselho Consultivo tem como membros representantes de associações e entidades setoriais, a exemplo da Abimapi (Associação Brasileira das Indústrias de Biscoitos, Massas Alimentícias, Pães e Bolos Industrializados). “A parceria que mantemos com a Abicab, via participação no Conselho Consultivo do Cereal Chocotec e também em outras instâncias, é de extrema importância, principalmente na área da exportação dos produtos de ambas associações”, considera Claudio Zanão, presidente executivo da Abimapi. Para ele, a aliança entre as duas entidades possibilita fomentar os dois setores (candies e panificados), buscando oportunidades que promovem e agregam valor às categorias de produtos dos dois setores no mercado internacional. “Essas ações fortificam a indústria brasileira como um todo”, sublinha Zanão.

Zanão, da Abimapi: parceria estratégica com a Abicab para incremento das exportações.

Para Luccas, do Cereal Chocotec, ao longo de duas décadas de parceria, a Abicab sob a gestão de Ursulino Netto teve participação decisiva na busca de recursos, visando melhorias na infraestrutura física e modernização do centro de pesquisa. Em 2007, relembra ele, foram inaugurados o prédio administrativo e o auditório e, em 2010, as novas instalações das plantas-piloto e laboratórios. Hoje o centro conta com sete plantas-piloto (chocolates e derivados – massa e transformação, drageados, balas, alimentos em pó, pães e bolos, barras alimentícias), quatro laboratórios (desenvolvimento de produtos, microencapsulação, controle de qualidade de produtos e processos e controle de qualidade de farinhas e amidos) e um laboratório para estudos de estabilidade e vida de prateleira, além de área administrativa e auditório com capacidade para até 40 pessoas, totalizando 2.600 metros quadrados.

“O Cereal Chocotec se destaca também pelos seus eventos técnicos, direcionados para profissionais da indústria e empreendedores, possuindo calendário anual de cursos regulares, que podem ser consultados nos sites da entidade, da Abicab e das associações pertencentes ao conselho, além de oferecer cursos in company”, informa Luccas. Ele lembra que a primeira edição da Semana Tecnológica do instituto aconteceu em 2008, com o objetivo de oferecer aos profissionais do setor a oportunidade de participarem em uma única semana de diversos cursos e seminários sobre inovação. E o evento se repetiu nos anos de 2010, 2012 e 2014, sempre priorizando temas ligados à inovação. Em 2014, foi lançado o documento estratégico “Brasil Bakery & Confectionery Trends 2020”, elaborado por pesquisadores do Cereal Chocotec e colaboradores do Ital. A produção do documento teve o apoio da plataforma de inovação tecnológica do instituto e traz um amplo estudo sobre tendências e inovações nos setores de bakery e confectionery. “Com essa atuação, o centro de pesquisa se consolida como agente promotor da inovação, contribuindo com o crescimento de micros, pequenas e médias empresas, seja através de desenvolvimentos, melhoria da qualidade ou por meio de projetos estratégicos setoriais, com apoio de agências de fomento”, grifa o diretor.

Fechino, da Santa Helena: reabilitação do amendoim com o programa e selo de qualidade.

Programa de qualidade
A partir de 2001, a Abicab passou a agregar a categoria de amendoim, com adesão a princípio incipiente de empresas. Mas com a atuação eficiente da entidade essa ala hoje comporta 21 indústrias, que respondem por 62% da demanda nacional de produtos doces e salgados à base do grão. Em 2000, o setor de amendoim vivia uma crise de confiança junto aos consumidores e estava com a imagem deteriorada, rememora Renato Fechino, presidente da Santa Helena e primeiro vice-presidente do setor de amendoim da Abicab. Foi quando os fabricantes, com duas das maiores indústrias a tiracolo – a Dori e a própria Santa Helena – procuraram a Abicab com o intuito de organizar o setor no escopo da associação. Segundo o dirigente, a Abicab abraçou prontamente a ideia e apoiou a criação do Programa Pró-Amendoim, momento em que outras indústrias do setor também se engajaram no projeto. (ver à pág. 16). “Esse é um momento muito especial, pois a entidade é cada vez mais atuante no setor, representando muito bem todas as indústrias que dela fazem parte”, enfatiza Fechino.

Desde o ano passado à frente da Abicab, Ubiracy Fonseca, eleito para o período 2016-2019, imprime uma gestão que consolida o atual perfil da indústria de confectionery e de seu parque industrial tecnológico, estabelecendo um modelo de negócio hoje equiparado às frentes de produção e distribuição mais avançadas do globo. A trajetória do setor, observa o dirigente, atravessou os primeiros anos da década atual com um desempenho que mescla altos e baixos, tanto na ala de chocolates como na de candies e confeitos de amendoim. Em período que cobre os últimos 10-15 anos, relata o executivo, foram injetados aportes significativos de recursos na ampliação e modernização das fábricas, bem como na instalação de novas unidades, sobretudo no Nordeste do país, região que ainda concentra o menor consumo per capita do setor. Confiante na preservação dos fundamentos macroeconômicos durante o período de expansão da economia, a indústria comemorou consecutivos balanços no azul, refletindo a crescente penetração nos balcões de consumo em todas as categorias de guloseimas.

Qualidade e credibilidade

O Pró-Amendoim – Programa de Autorregulamentação e Expansão do Consumo do Amendoim surgiu em 2001. Preocupados com a imagem negativa dos produtos à base do grão e com a queda nas vendas, empresários do setor, tendo à frente dirigentes da Dori e Santa Helena, procuraram a Abicab (Associação Brasileira da Indústria de Chocolate, Cacau, Amendoim, Balas e Derivados) em busca de uma solução. Na época, eram veiculados na mídia, com suporte da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), alertas sobre  contaminações por aflatoxina acima do nível tolerado para consumo humano em 80% das marcas de confeitos doces e salgados à base de amendoim. Foi então que, sob chancela da Abicab, os fabricantes formaram um grupo em torno de um programa de qualidade, batizado de Pró-Amendoim. A missão era identificar e eliminar os produtos contaminados e, dessa forma, resgatar a credibilidade. Mas o Pró-Amendoim foi além, estabelecendo normas de boas práticas e checagem permanente, que introduziram inovações e aprimoramentos, conseguindo reabilitar a imagem do setor.  Segundo a Abicab, atualmente o índice é superior a 90% das marcas que disputam a categoria exibe condições seguras para o consumo. Um pente-fino realizado pelo Ibope, com mais de 2.000 entrevistas entre consumidores e formadores de opinião, confirmou que o receio da contaminação por aflatoxinas foi definitivamente eliminado. O programa se transformou em um case de sucesso, e criou um dos poucos selos que, de fato, garantem a qualidade dos produtos derivados de amendoim no Brasil. Essa segurança é obtida por meio de auditoria anual realizada nas plantas industriais e coletas trimestrais de amostras nos pontos de venda (PDVs) de todo o país, executadas por empresas especializadas e credenciadas pela Anvisa.

Essa trajetória, todavia, foi interrompida com o desempenho declinante do PIB. De 2010 a 2015, a demanda brasileira de chocolates sob todas as formas, salva pela aceleração de 2011 a 2013, cravou avanço de 1,1%, enquanto a de balas e derivados recuou 12,1%. Também o consumo de confeitos à base de amendoim se estabilizou no período. Com crescimento cada vez mais reduzido nos últimos exercícios e índice de inflação fora das expectativas, o Brasil tem revisado como nunca o tamanho de seu PIB, acentuadamente para baixo, e encerrou 2016 em patamar que desafia sua posição entre as nações emergentes. Refletindo alguma reação, o consumo nacional cravou leve alta nos primeiros seis meses de 2017, com variação positiva nos redutos de chocolates, balas e derivados. Tais performances não vêm sendo assimiladas como mero acidente de percurso e o alarme no campo da indústria já promove ações em diversas frentes, desde a composição do mix e ajustes na distribuição ao redimensionamento de preços e custos, visando a rápida retomada no pulso da demanda.

Em dia com investimentos nas alas de produção, vendas e marketing, o reduto de confectionery travou ao longo do ano intensa batalha para segurar o avanço sustentado que baliza as suas incursões tanto no flanco doméstico como nos balcões do exterior. “A expectativa é a de segurar a sua atual 3ª posição na produção mundial de confectionery”, assinala Fonseca. Com embarques este ano menos intensos para mais de 130 destinos, o Brasil mantém firme a sua posição de global trader, enfatiza ele.

Para conferir maior dinamismo ao setor nesse campo, a Abicab assumiu a coordenação de várias iniciativas, entre as quais sobressai para 2017 a interlocução com o Congresso Nacional no sentido de discutir melhor o projeto de lei (PLS 93/2015) que pleiteia aumento de 25% para 35% no teor de sólidos de cacau para confeitos de chocolate. “Também nos posicionamos à frente do pleito que pede o fim do embargo ao cacau procedente da Costa do Marfim, maior produtor mundial da commodity, destituindo a exclusividade da importação do cacau de Gana”, grifa o executivo.■

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