O isolamento social por mais de dois meses seguidos gerou uma transformação no consumo geral dos brasileiros, capta o relatório Consumer Insights, da Kantar, consultoria especializada de inteligência de mercado. Segundo o estudo, houve um aumento de 27% nas ocasiões de consumo de alimentos e bebidas dentro dos lares. “Alguns hábitos e rotinas de compras que os consumidores tinham fora de casa foram transferidas para dentro do lar. Além disso, o consumo aumentou em proporção acima da esperada”, assinala Renan Morais, gerente de Usage & Out of Home da Kantar. O simples prazer, ele completa, é a razão para compras mais buscada no confinamento. O consumidor, conclui, passou a incluir em sua rotina categorias mais indulgentes, sendo leite condensado, creme de leite, cervejas e leite as que mais se destacaram.
No pré-isolamento, posiciona o gerente, o objetivo dos consumidores foi grande estocagem, especialmente das cestas de limpeza e alimentos. Já no final do mês de abril, guloseimas, snacks e bebidas se destacaram, e o setor de higiene e beleza passou para segundo plano. A dinâmica de compra de fim de mês foi suavizada, com tendência de retração.
Na semana de 4 de maio, em comparação com a de 9 de março, os brasileiros optaram por opções mais indulgentes dentro de casa. O consumo de ingredientes para doces, confeitos, guloseimas e de cerveja cresceu. Por outro lado, houve queda na compra de itens como queijo, fraldas e frangos.
Desafiando todas as projeções econômicas, a pandemia do novo coronavírus transformou o comportamento dos consumidores brasileiros. Uma das mudanças mais significativas, capta o estudo da Kantar, foi a inclusão de novos canais na rotina de compra da população, que agora busca fazer o abastecimento em mercadinhos de bairro, pequenos varejos e varejos tradicionais para evitar aglomeração. Antes da pandemia, isso se concentrava principalmente em atacarejos.
No primeiro trimestre de 2020, em comparação com o último de 2019, mais de 2 milhões de lares passaram a comprar em pequenos varejos, mais de 1,2 milhão em varejos tradicionais e mais de 200 mil em supermercados da vizinhança.
Para 60,2% dos entrevistados a mudança deve-se à necessidade de evitar aglomerações, 59,6% a fizeram para não ter grandes deslocamentos, enquanto 53,5% a justificam pelos preços acessíveis.
O estudo da Kantar também segmentou os perfis de compra para cada tipo de canal de venda. Enquanto os minimercados atraem majoritariamente pessoas de 40 a 49 anos das classes CDE, com filhos adultos, o varejo tradicional é o preferido de quem tem até 29 anos e crianças pequenas.
Outro canal que passou por uma reformulação em seu formato para atender necessidades mais específicas do consumidor foi o hipermercado, que agora ganha relevância em missões de reposição, com tíquete médio menor e menos itens no carrinho de compras. O atacarejo também passa por uma transformação, atendendo não apenas compras de estocagem, mas também crescendo nas de reposição, movimento de fidelização dos consumidores que o frequentam.
Outros dados do relatório mostram que no primeiro trimestre de 2020, em comparação com o mesmo período de 2019, o gasto médio em bens de consumo massivo subiu 7,7% e os preços 4,8%. E ao mesmo tempo em que a frequência de compra aumentou 4,6%, o que representa uma visita a mais por mês ao ponto de venda, a quantidade de unidades compradas por viagem diminuiu 1,7%. Este aumento no consumo foi detectado principalmente nas classes AB e DE.