É fogo no giro

Festas juninas e jogos de futebol incendeiam a demanda de doces e confeitos de amendoim
Planta da Santa Helena 4.000 toneladas/mês de confeitos de amendoim adicionadas ao setor.

A aproximação das festas juninas incrementadas pelas rodadas do Brasileirão acendem o consumo de confeitos salgados e doces à base de amendoim. A expectativa gerada na ala da indústria é de que a venda sazonal de guloseimas cresça de 20% a 30%, consideradas as empresas de maior porte que operam com a categoria. “O período junino corresponde a cerca de 30% das nossas vendas anuais no segmento de doces e, para a campanha atual, esperamos um aumento de 20% nas vendas em relação ao mesmo período do ano passado”, projeta Luis Bertella, diretor comercial da Santa Helena, peso-pesado do setor de doces e confeitos à base da oleaginosa. A estimativa, completa ele, inclui a demanda inflada no meio e finais de semana por conta dos jogos de futebol. “As partidas realmente alavancam o consumo de snacks e amendoim”, observa ele. Essa alta aguardada no giro de doces tradicionais e salgadinhos também é temperada com ações promocionais e ativações, que já começam a ser preparadas e entram em cena em versões de barracas caipiras e cenografias imitando arraiais nas redes de autosserviço e também no trade atacadista. “Percebemos que os fãs da categoria buscam cada vez mais alternativas para os diferentes momentos de consumo e temos atendido com novidades nas linhas de produtos, sabores e embalagens para os diversos canais”, frisa Bertella. Para chamar a atenção nesse período, a empresa também aposta em decorações especiais e exposição diferenciada nos pontos de venda (PDVs) que, além das tradicionais barracas, inclui negociação de pontos extras, displays e forrações para prateleiras e bancadas, encartes, tabloides e anúncios em parceria com o trade.
Na Agtal, indústria especializada em confeitos e snacks à base de amendoim, o diretor André Guedes estima o peso da temporada de abril a junho nas vendas de aproximadamente 30% em relação ao giro anual. Para o executivo, que acumula a vice-presidência do setor de amendoim da Abicab (Associação Brasileira das Indústrias de Chocolate, Cacau, Amendoim, Balas e Derivados), as rodadas do Brasileirão são o principal motor da demanda, uma vez que a empresa não opera linhas de doces tradicionais. No ano passado, a Agtal investiu R$ 7 milhões na instalação de uma unidade na cidade de Queluz (SP) para a fabricação de sua linha de barras Mixed Nuts, a primeira no gênero à base exclusivamente de castanhas e nuts diversos, reporta Guedes. “Como não direcionamos nossa linha para a comemoração junina, além de ações promocionais no PDV, com a negociação de reduções nos preços, empenhamos a estratégia no período na expansão de espaço métrico e share nas gôndolas”, sublinha ele.
Produto genuinamente brasileiro e com preço popular, o amendoim passou a frequentar a mesa do consumidor em ocasiões corriqueiras e confraternizações. Pente-fino do Ibope, encomendado pela Abicab, constatou que 66% dos brasileiros consomem a oleaginosa, principalmente em encontros com amigos, por exemplo, para assistir e torcer nas partidas de futebol. “No ano passado, a Copa do Mundo paralelamente às festividades juninas no meio do ano impactaram fortemente os negócios do setor e, para este ano, por conta das rodadas do Brasileirão, as indústrias estão bastante otimistas”, afirma Guedes.

Capacidade ampliada
Pensando na cobertura dessa demanda, as indústrias antecipam providências. As duas maiores operações do país, por exemplo, acrescentaram 7 mil toneladas (t) mensais à capacidade do setor, totalizando investimento de R$ 40 milhões. A Santa Helena, confirma Bertella, inaugurou sua planta dedicada a confeitos à base da oleaginosa pela qual desembolsou R$ 30 milhões. A Dori, por sua vez, acionou as linhas de sua Unidade 40, despejando R$ 10-15 milhões no projeto. De olho na projeção da demanda de confeitos de amendoim nas festas juninas e eventos esportivos, a Santa Helena considerou a possibilidade de faltar produto. Assim, os 70 anos da empresa demarcou o projeto de instalação de uma planta zero quilômetro para sua expansão na ala de snacks. A unidade foi projetada dentro de um conceito de produção vertical, uma inovação praticamente exclusiva da empresa. Capacitado a produzir 4 mil t mensais de confeitos de amendoim, o complexo exibe alto índice de automação em 11 mil metros quadrados de área construída e ocupa três andares industriais, totalizando 26 metros de altura. Os produtos são formulados e fabricados no andar de cima, finalizados no piso intermediário e, através de um sistema de transporte pneumático, embalados no térreo, sendo encaminhados para armazenamento anexo. Caso a unidade precise operar a plena carga, a capacidade total da Santa Helena dobra, atingindo 8 mil t por mês. A antiga fábrica passou por processo de reforma e continua abrigando todas as linhas doces da Santa Helena, como Paçoquita, Crokatto, Gibi e Molecão, entre outras, enquanto a unidade de snacks vem sendo acionada exclusivamente na produção dos confeitos Mendorato, Crokíssimo, Grelhadito’s, Amindu’s e Troféu.
Batizada de Unidade 40, a fábrica dedicada a confeitos de amendoim da Dori opera com uma capacidade em torno de 3 mil t mensais de itens doces e salgados. A empresa havia investido R$ 6 milhões na instalação, mas para transformá-la em uma fábrica autônoma e integrada de derivados de amendoim, injetou mais R$ 9 milhões, totalizando R$ 15 milhões. Todo esse investimento foi direcionado a aprimoramentos nos processos produtivos, ampliação das linhas e desenvolvimento de projetos inovadores para afiar a competitividade da Dori. Com essas melhorias, a companhia potencializa sua eficiência operacional, conseguindo melhores custos, flexibilidade, confiabilidade e velocidade. Instalada em 12.000 metros quadrados, a Unidade 40 apresenta layout horizontal e utiliza o conceito sustentável de produção limpa, de fluxo contínuo e o mínimo de geração de resíduos. Possui também um laboratório montado com os mesmos equipamentos da fábrica para o desenvolvimento de produtos em escala menor, sem a necessidade de interromper a produção. Entre outros recursos de ponta, exibe seletoras eletrônicas Satake e secadoras Aeroglide (grupo Bühler), pois além da produção dos confeitos, a unidade também cuida das etapas de seleção dos grãos, torração, drageamento, coloração, brilho, classificação, empacotamento e expedição. Com essa unidade, a Dori centralizou a fabricação de todos os itens à base de amendoim das marcas Dori (nas versões japonês, torrado sem pele, chocolate e colorido) e Pettiz (tipo japonês, torrado e salgado sem pele, coberto com mel e crocante saborizado em quatro versões).
Conforme dados disponíveis na Abicab, a produção brasileira de amendoim acusou alta de 4,9% em 2013, fixando-se no patamar de 192 mil toneladas, volume equivalente a vendas acima de R$ 1,5 bilhão no varejo brasileiro. Apesar dos resultados positivos registrados nos últimos três anos, o setor amargou queda de 4,4% de janeiro a setembro de 2014, em relação a idêntico período do exercício anterior, repassa Guedes. Nos últimos cinco anos, nota ele, a demanda no período junino tem crescido na mesma proporção que as vendas anuais, em torno de 10%. “Dessa forma a representatividade no trimestre vem se mantendo”, diz.

Otimismo nas vendas
Com variações pontuais, o avanço das vendas de doces e confeitos de amendoim tem sido positivo para a maioria das empresas que atuam no segmento. Entre os mais otimistas, a Confirma projeta crescimento em dobro nos meses de maio e junho, apesar de a linha de guloseimas à base de amendoim hoje se limitar a 15% do portfólio da indústria, que vem centrando seu foco em suas marcas de candies de alta produção (balas e pirulitos). “Operamos com seis itens, que são os mesmos há anos e também os de maior demanda nessa época, a exemplo de paçocas tipo rolha e gibi e pé de moleque”, frisa Carlos Cruz, diretor da empresa, que totaliza cerca de 80 variantes de doces em seu portfólio. Ele pondera que o elevado custo com mão de obra é o principal motivo de a empresa limitar investimentos no segmento, uma vez que inexistem linhas automáticas para a fabricação dos doces tradicionais. “Eles ainda demandam etapas de pré e pós-processamento quase artesanais, inviabilizando a adoção de sistemas automatizados”, grifa o diretor.
Na Jazam, que também esfrega as mãos com a aproximação das festas juninas, a gerente de marketing Christina Zuardi estima para o período alta no giro de no mínimo 20%. Ela comenta, no entanto, que pelo perfil das linhas de doces da marca, que não opera com confeitos de amendoim, as rodadas de jogos de futebol influenciam menos. Além de apostas de merchandising no PDV, a Jazam negocia diretamente com o trade da categoria pontos extras e banca ativações com degustações e distribuição de materiais promocionais. “Procuramos chamar a atenção para as linhas de doces de amendoim e pingo de leite, que são os itens em foco na temporada junina”, enfatiza a gerente da Jazam, contabilizando avanço de 20% a 25% nos meses de abril a junho nos últimos cinco anos.
Entre as novidades para a campanha junina desse ano, a Santa Helena destaca as novas variantes da linha Paçoquita Cremosa, que se transformou em coqueluche da marca no ano passado, com direito a viral nas redes sociais, sublinha Bertella. Além das novas embalagens de 350g e a opção culinária de 1,01 quilo, utilizada como ingrediente de diversas receitas, a empresa também disponibiliza uma versão zero de açúcar de 180g, solicitada por consumidores da marca. Segundo dados da Euromonitor International, o mercado de produtos cremosos à base de amendoim (spreadable), no qual se enquadra a Paçoquita Cremosa, movimentou no Brasil no ano passado US$ 221,6 milhões, montante que ultrapassou o faturamento de pipocas prontas para consumo que, segundo a consultoria, ficou em US$ 169,9 milhões.
Já a vedete do portfólio da Jazam é a linha Coloreti Star, segundo Christina o único drageado em formato de estrela no Brasil. Além desse lançamento, a empresa conta com o confeito Crocante em embalagem revitalizada, mais atrativa e com mais amendoim na composição. “Apresentamos em primeira mão durante a feira Apas (Associação Paulista de Supermercados), no início de maio, uma versão do Coloreti de 80g para atender ao varejo”, sublinha a gerente, incluindo no rol de atrações juninas as linhas Paçoca, Paçoquinha e Tubitos (tipo rolha). “O carro- chefe continua sendo o Crocante, com vendas que crescem aproximadamente 20% no período”, assinala Christina.
Integrantes do projeto Sweet Brasil, da Abicab em parceria com a Apex-Brasil (Agência de Promoção de Exportações e Investimentos), a Agtal, Santa Helena, Dori, Jazam e Confirma também renovam apostas na cena internacional, estimuladas pela recente desvalorização do real. Segundo a Abicab, há quatro anos as exportações de confeitos de amendoim eram de 4,5 mil t e já no ano passado subiram para 6 mil t, cravando avanço de 22,1% em 2014 em relação ao exercício anterior. Na via contrária, as importações que em 2011 eram de 100 t avançaram para 300 t em 2013, caindo para 200 t, no último ano. Nesse caso, a variação foi negativa em 23,1%, capta a Abicab.
Bertella informa que os confeitos da Santa Helena hoje são exportados para países da América Latina, Europa e Ásia. “Com expansão de capacidade e lançamentos, temos aumentado significativamente o volume para exportação”, assinala o diretor, sem dimensionar volumes. Em sua segunda participação na feira ISM, maior vitrine global do setor de confeitos (confectionery), promovida no início do ano na Alemanha, a Santa Helena conseguiu um feito inédito, inserindo duas novidades do seu portfólio de guloseimas à base de amendoim entre as 110 novidades selecionadas para a mostra New Product Show Case: The Top Innovations, um dos pontos altos do evento. “A exigência para ingressar na exposição era a de que os produtos deveriam ser lançamentos de 2014 inovadores em sua categoria, com embalagens adaptadas ao mercado internacional”, relata Daniela Zanin, gerente de exportação da indústria de Ribeirão Preto (SP). Além da linha Paçoquita Peanut Candy Bar, derivada da tradicional paçoca de amendoim, a marca cintilou no pódio dos produtos inovadores com a versão internacional de sua Paçoquita Cremosa. Foi, segundo Daniela, mão na roda para estreitar novos contatos na feira, uma vez que ao ver e fotografar os produtos na exposição muitos compradores (buyers) seguiam direto para o estande da Santa Helena.
Na Agtal, André Guedes insere que, além de enviar seus snacks para o Uruguai, Paraguai e Granada (América Central), a empresa finaliza negociações para fechar embarques para o Peru e Chile. Já os produtos da Jazam, complementa Christina, hoje estão presentes nas Américas do Sul e Central, África e Oriente Médio. “No momento os embarques crescem, pois o consumo de amendoim e produtos derivados tem aumentado significativamente no mundo”, frisa ela. A Jazam exporta 10% do faturamento para 30 países, completa a diretora Regiane Helena Zambon, festejando a abertura de quatro novos mercados. Diferentemente do Brasil, observa ela, os itens que sobressaem no portfólio de exportações da marca são a linha Ducrem, de doce cremoso (spreadable) em porções individuais, e a linha Crocante, à base de amendoim. “O Ducrem faz sucesso, entre outras características, por ser resistente a altas temperaturas e pela validade de 14 meses”, comenta a executiva. Especialmente para a clientela sul-americana, a Jazam produz o confeito Croc-Croc, à base de cereal coberto com chocolate e crispies, informa ela. •

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