De olho no rótulo

A ausência de critérios de composição e rotulagem em produtos à base de cereais integrais tem resultado em informações variadas entre fabricantes e consumidores, podendo induzir ao engano. O tema ganhou atenção da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) que, para orientar eventual regulagem, abriu no início de maio (até 15 de junho) consulta pública sobre requisitos para identificação como integral e para destaque dos ingredientes integrais na rotulagem dos alimentos contendo cereais. Os comentários e sugestões para a proposta de resolução podem ser enviados através de formulário online.

A consulta é parte de uma série de atividades conduzidas pela Anvisa para estabelecer requisitos sanitários para produtos de cereais, amidos, farinhas e farelos. Essa agenda regulatória levou à criação, em 2016, do grupo de trabalho de integrais, com o qual contribui o Instituto de Tecnologia de Alimentos (Ital), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, através da expertise de pelo menos 15 anos da equipe de pesquisadores do Centro de Tecnologia de Cereais e Chocolate (Cereal Chocotec).

“A regulamentação que está sendo proposta traz o conceito internacional de farinha de grão inteiro, sustentando que os benefícios dos produtos integrais não são provenientes de um componente isolado, mas da interação de todos os componentes do grão (endosperma, farelo e gérmen). Além das fibras, eles apresentam proteínas, lipídeos funcionais e importantes micronutrientes (vitaminas, minerais e compostos fitoquímicos)”, explica Elizabeth Nabeshima, pesquisadora que representa o Ital nas discussões.

De acordo com a pesquisadora, também estão sendo detalhadas as fontes de grãos permitidas e a porcentagem mínima para que o produto seja considerado integral, permitindo a disponibilização de produtos padronizados ao consumidor. “Muitos estudos já se baseavam em regulamentações internacionais, assim como algumas indústrias, principalmente as multinacionais. Entretanto ainda são poucas as ofertas de produtos com esses requisitos”, esclarece.

A pesquisadora do Ital avalia que serão necessárias várias adequações em muitas indústrias. Elas irão exigir esforço conjunto em toda a cadeia desde os moinhos, disponibilizando farinhas integrais em quantidade e qualidade, as indústrias de panificação e massas alimentícias, oferecendo produtos em conformidade com as novas especificações, até a academia (institutos de pesquisa e universidades), subsidiando os ajustes e desenvolvimentos dos produtos com estabilidade e qualidade para serem oferecidos aos consumidores.

“A temática sobre produtos balanceados nutricionalmente tem sido uma das linhas de pesquisa do Cereal Chocotec em destaque, ou seja, estudos de produtos integrais envolvendo a adição de compostos bioativos ou de algum nutriente específico aliado a redução de aditivos químicos, gordura, sódio e açúcares”, ressalta a pesquisadora do Ital.

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