Bússola para o consumo

Abran sugere modelo de rotulagem para melhor orientação dos consumidores

A Associação Brasileira de Nutrologia (Abran) apresentou no início do ano à Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa) uma sugestão adicional aos modelos de rotulagem em discussão para implementação no país. O Brasil não tem definido um modelo para rotulagem de alimentos – guloseimas e candies inclusos –, que satisfaça as atuais demandas sanitárias. As

Almeida, da Abran: não existe modelo bom
ou ruim, mas alternativas para facilitar
o entendimento do consumidor.

regras vigentes foram implementadas há mais de 15 anos mas, desde 2014, a Anvisa discute propostas para mudar essa realidade. Até o momento há quatro modelos em avaliação. O modelo Nutri-Score, defendido pela Abran, foi desenvolvido pela Universidade Paris XIII e passou a ser utilizado na França no ano passado. Basicamente, ele avalia cada alimento de acordo com sua densidade nutricional, ou seja, qualidade nutricional como um todo, incluindo os ingredientes bons e ruins para a saúde. Há ainda o modelo da Fundação Ezequiel Dias (Funed) que, em linha com o Nutri-Score, utiliza cores do semáforo para indicar o teor dos ingredientes. Desenvolvida pelo Idec, em parceria com a Universidade Federal do Paraná (UFPR), uma terceira proposta apresenta triângulos pretos, informando se o produto tem quantidades excessivas de ingredientes como açúcares, sódio ou gorduras. O outro modelo em avaliação já é adotado no Chile e também prevê advertências na frente das embalagens de diversos ingredientes, utilizando um octógono preto para destacar a informação. Segundo Carlos Alberto Nogueira de Almeida, porta-voz da Abran, o Nutri-Score é a melhor alternativa para a decisão de compra do consumidor, pois é um aprimoramento dos modelos propostos. “Não existe modelo bom ou ruim, o que existe são alternativas que facilitam o entendimento do consumidor”, pondera o expert. A atual norma de rotulagem, acrescenta ele, é muito antiga e, nos últimos anos, o consumo de alimentos industrializados cresceu exponencialmente. Para ele, um novo modelo de informação nutricional pode contribuir para a qualidade de vida da população, pois ela terá mais informações sobre o que está consumindo. Na entrevista a seguir, o especialista da Abran detalha o Nutri-Score e as razões pelas quais a entidade defende a sua aplicação.

DR – Porque a Abran defende o Nutri-Score?
Almeida – O Nutri-Score, ao utilizar tanto uma base de cálculo de 100g como cores para classificar o alimento de maneira completa (avaliando a composição total do produto e não os seus ingredientes em porções específicas), é de mais fácil assimilação pelos consumidores. Tem como principal diferencial o fato de avaliar o balanço entre os nutrientes considerados “positivos” e “negativos” em uma base de 100g, sistema baseado na metodologia de Rayner: “Positivos” – teor de frutas e legumes, teor de fibras e teor de proteínas; “Negativos” – energia, gordura/gordura saturada, açúcares totais e sódio.

DR – Como vai ser na prática o Nutri-Score?
Almeida – O Nutri-Score é um modelo de rotulagem nutricional Front of Pack, que categoriza os alimentos de forma simples, alocando uma letra e uma cor para cada alimento. Ele parte de uma escala que vai do verde (A) para o vermelho (E), de acordo com a densidade nutricional do produto. Esse modelo é embasado em um score de densidade nutricional da British Food Standard Agency (FSA).

DR – Em que ele é mais eficiente que outros modelos?
Almeida – Estudos sugerem que o sistema da FSA, que é a base do Nutri-Score, pode caracterizar adequadamente a qualidade nutricional dos alimentos. Tanto o sistema de perfis de nutrientes como o formato FOP real do Nutri-Score/5-Colour Nutritional Label foram validados em vários estudos complementares. O Sistema Nutri-Score tem o diferencial de classificar o alimento de maneira completa, avaliando a composição total do produto e não os seus ingredientes em porções específicas.

DR – E os outros modelos de rotulagem?
Almeida – Além do Nutri-Score existem outros modelos em discussão. O GDA é um modelo com base na rotulagem nutricional frontal colorida do Reino Unido. No entanto, ele foi adaptado à legislação brasileira que considera porções para rotulagem nutricional. As porções consideradas no modelo são aquelas do produto como pronto para consumo, desde que o modo de preparo do produto esteja declarado no rótulo. Esse modelo apresenta os valores numéricos de cada nutriente e seu percentual de valores diários (% de VD).
Um outro modelo propõe a rotulagem nutricional frontal de compreensão rápida, através de representação gráfica na cor preta de advertência para a presença de alto conteúdo de calorias, gorduras saturadas, açúcares e sódio.

É um modelo que utiliza a forma geométrica de triângulos, destacando na parte frontal da embalagem as informações de excesso dos quatro nutrientes descritos acima. Segundo pesquisas, este é um modelo de fácil assimilação para a grande maioria da população brasileira, que possui algumas características específicas de aumento da população idosa e grande incidência de analfabetismo funcional. Por outro lado, é um modelo restritivo, pois não reflete uma visão positiva sobre a alimentação e o alimento, já que em nenhum momento leva em consideração os nutrientes considerados positivos, como as vitaminas, minerais, proteínas e fibras presentes. Acreditamos que no longo prazo pode não auxiliar na melhoria da educação nutricional.

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