Adoçante natural ou açúcar saudável? Produzido pela Amyris, em Brotas (SP), a novidade tem sabor doce, exibe partículas brancas, pode ser adicionado a bebidas e receitas, mas não é comparado ao açúcar convencional, pois não possui calorias. A tecnologia encorpa a onda de produtos que empresas do setor de alimentos começam a pensar na tentativa de superar a pressão decorrente de crescentes problemas de saúde relacionados à ingestão de sacarose ou açúcar comum.
John Melo, CEO da Amyris, conta que o reinado da cana-de-açúcar e seu principal derivado chegou a ser questionado com a descoberta do poder adoçante da estévia. O amargor característico do ingrediente, no entanto, não caiu no gosto do consumidor. Além disso, o cultivo manual da planta, sua forte demanda por insumos agrícolas e o alto custo para processar a folha tornam a estévia pouco competitiva. Melo observa que existe uma molécula da estévia com poder adoçante e sem o amargor, mas o difícil é isolar essa molécula da planta.
“Resolvemos produzir essa molécula, mas a partir do xarope de cana”, revela o CEO da Amyris. Através de manipulação própria, a empresa conseguiu extrair do xarope a mesma molécula existente na estévia, sem calorias, e com vantagens. “A primeira é que o produto tem um grau de pureza da molécula de 97% – maior do que se obtém da própria estévia, entre 60% e 70%. E a segunda é que o produto do xarope de cana adoça 500 vezes mais que o açúcar da cana, dando grande suporte à indústria de alimentos”, sublinha o executivo.
Com capacidade inicial de até 3 mil toneladas ao ano, a unidade de Brotas iniciou a produção no segundo semestre do ano passado. O volume soa baixo mas equivale ao dulçor de 1,5 milhão de toneladas de açúcar e supera todo o volume de adoçantes no mercado, sustenta Melo. Entre as facilidades para a produção no interior de São Paulo, a fábrica é colada a uma usina da Raízen, que fornece o xarope de cana. A purificação do produto, entretanto, é feita em outra unidade, no Paraná, informa o CEO.
De posse de um certificado de segurança alimentar da FDA, agência regulatória dos EUA, a companhia firmou contrato com o ASR Group, maior refinador de açúcar do mundo, para vender 80% do produto nos EUA, Reino Unido e México. Para o Brasil, a Amyris mantém parceria com a Camil Alimentos, dona da marca União, que detém a maior fatia de mercado de açúcar no varejo. O União Zero, à base do insumo da Amyris, chegará às prateleiras assim que for aprovado pela Anvisa, grifa Melo.