Disputa do cacau

O Le Conseil du Cafe-Cacao e o Ghana Cocoa Board, órgãos reguladores das vendas de cacau da Costa do Marfim e Gana, respectivamente, acordaram no início de junho o pagamento de um preço mínimo de US$ 2.600 por tonelada com compradores da amêndoa (tradings). Juntos, os dois países do oeste da África respondem por 65% da produção mundial de cacau. A medida contava com total apoio dos governos locais, para quem o preço mínimo poderia ajudar a reduzir distorções entre o que é pago aos produtores nesses países e o que as tradings lucram. Todavia, a indústria de cacau (traders) e os governos dos dois países africanos acabaram não entrando em acordo sobre os detalhes do preço mínimo para a amêndoa, anunciado em junho. A política seria válida a partir da safra 2020/21, que começa em outubro de 2020. Ambos os governos anunciaram que criarão um mecanismo de compensação para quedas de preço que poderá garantir um pagamento de até US$ 400 por tonelada aos produtores da região.

Hartmann, da TH Consultoria: mudança e incerteza sobre mecanismo de pagamento afastam traders do mercado.

“O sistema leva em consideração um diferencial de renda fixa de sobrevivência que poderia fornecer aos agricultores uma renda decente”, afirmaram o Conselho do Cacau de Gana ( Ghana Cocoa Board) e o Conselho do Café-Cacau da Costa do Marfim (Le Conseil du Cafe-Cacao), organizações estatais que regulam o mercado da amêndoa, em comunicado conjunto. Esse mecanismo garantiria, na prática, um preço mínimo. Os órgãos disseram que o mecanismo apresentado à industria “foi compreendido”.

Porém, circularam rumores no mercado de que o pagamento de US$ 400 por tonelada poderia ser acrescentado ao preço mínimo acordado anteriormente, de US$ 2.600 a tonelada. Em 12 de junho, os governos de Costa do Marfim e Gana informaram que haviam acertado com a indústria o estabelecimento do preço mínimo de US 2.600 a tonelada aos produtores da região. Um novo encontro havia sido marcado para detalhar a implementação da política. O instrumento, porém, vinha sendo criticado pelos traders. Eles avaliavam que o valor estabelecido poderia gerar uma sobreoferta de cacau.
Com a mudança e a incerteza sobre o novo mecanismo de pagamento aos produtores, os traders saíram do mercado, dando impulso aos contratos futuros em Londres, observa o consultor Thomas Hartmann, diretor da TH Consultoria, de Salvador (BA), especializada no mercado de cacau.

A venda da safra 2020/21 de Gana e Costa do Marfim ainda não começou, informa Hartmann. Esses países costumam vender sua safra com antecipação. As negociações desse ciclo, porém, foram suspensas até que o novo mecanismo fosse estabelecido. Da safra 2019/20, que começará a ser colhida em outubro, entre 60% e 70% já foi comercializada antecipadamente, sendo 1,4 milhão de toneladas e 380 mil toneladas, dimensiona o consultor. Até outubro, 80% deverá ser comercializado, ele prevê.

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