Leve mais, pague menos

Indicações de que a economia vai melhorar não tiram o brilho das promoções
Christine Pereira
Christine Pereira

Na abertura da Apas Show 2017, maior feira do setor supermercadista nacional, realizada no início de maio em São Paulo, a Associação Paulista de Supermercados (Apas), promotora do evento, divulgou um estudo que aponta as tendências do consumidor brasileiro para o ano, partindo de dados coletados no exercício passado. Executado a quatro mãos, ou melhor, pelas consultorias Nielsen, Kantar Worldpanel, GfK e Ibope, o levantamento inédito no gênero partiu da constatação que, mesmo em ano de instabilidade econômica, o autosserviço brasileiro faturou 338 bilhões (2016), registrou um crescimento nominal de 7,1% em relação ao exercício anterior e movimentou 5,4% do PIB nacional. Apenas o Estado de São Paulo cravou avanço nominal de cerca de 10% no período, com faturamento na casa de R$ 102 bilhões. Um dos pontos altos da pesquisa foi a sinalização de que o início de uma recuperação no cenário econômico não altera a busca dos consumidores por promoções na hora da compra. “As oscilações da economia e o cenário um pouco mais positivo que se desenha para os próximos meses não tiraram das promoções a importância que elas ganharam junto aos consumidores nos últimos tempos”, frisa Christine Pereira, diretora comercial e de marketing da Kantar Worldpanel. Na entrevista a seguir, ela detalha o pente-fino da consultoria nos lares e as principais indicações captadas nesse trabalho.

DR – Quais fatores determinam a seleção de um ponto de venda pelo consumidor?
Christine – As ofertas especiais estão no topo da lista de fatores. Em seguida aparecem confiança, produtos de qualidade, limpeza/ordem e proximidade.

DR – Pode se dizer que, em tempos de crise, as promoções são responsáveis pela sobrevivência do autosserviço?
Christine – Ganhando importância generalizadamente em 2016, as promoções tiveram papeis diferentes por tipo de canal de compra. Por exemplo, melhoraram a frequência de ida aos hipermercados, apresentando crescimento de 14,5% em comparação com o ano anterior. No caso dos supermercados de rede, as promoções impactaram em aumento dos gastos em 4,9% (deflacionado) e ainda atraíram mais de 1,820 milhão de domicílios para os atacarejos (atacado de autossserviço).

DR – Quais os tipos de promoção mais apreciadas pelos consumidores?
Christine – A oferta que mais cativa os brasileiros é o famoso “leve mais, pague menos”, seguida pelo desconto de preço (com 64% dos lares pesquisados). Produtos grátis e com brinde aparecem, respectivamente, com 25% e 23%.

DR – Qual a explicação?
Christine – O comportamento demonstra que o foco do consumidor, ainda preocupado em racionalizar e planejar, está em obter uma vantagem imediata com as promoções.

DR – E quais os itens que mais interessam nas promoções?
Christine – No momento, os produtos básicos seguem como o foco na hora de encher o carrinho de compras, mas itens considerados “premium acessíveis”, que trazem benefícios claros, conseguem se manter na despensa.

DR – A regra vale para consumidores de todas as faixas de idade?
Christine – Não é nenhuma surpresa constatar a faixa etária que mais cresce no país atualmente: a das donas de casa mais maduras. Um terço das compras são feitas por lares com donas de casas com idade acima dos 50 anos. Com maior renda, o lar com pessoas dessa faixa de idade gasta menos do que o dos mais jovens e, portanto, sobra receita. Nesses domicílios constatamos que os produtos saudáveis se destacam, porque a preocupação com a saúde é mais evidente. Entre eles, pão light e integral, biscoitos integrais, requeijão light, leite em pó desnatado, iogurte diet/light/zero e refrigerantes e sucos diet/light/zero.

DR – Quais outras conclusões do estudo?
Christine – Outro comportamento que tem impactado o consumo no Brasil é o fato de que as famílias estão cada vez menores. Em 2006, por exemplo, 30% dos lares tinham uma ou duas pessoas. Dez anos depois, esse número avançou para 32%. Já os que eram compostos por cinco ou mais pessoas, no mesmo período, caíram de 22% para 19%, e atualmente 7% dos domicílios têm apenas uma pessoa. Essa mudança implica uma maior demanda de embalagens sob medida, menores e ideais para o momento. •

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