Alta continua

As sete semanas entre o começo de julho e 20 de agosto foram marcadas pela continuação da alta...
Thomas Hartmann
Thomas Hartmann

As sete semanas entre o começo de julho e 20 de agosto foram marcadas pela continuação da alta dos meses anteriores, que chegou a elevar as cotações na Bolsa de Nova York para perto de US$ 3.400. Não conseguindo superar o pico anterior de setembro do ano passado, o avanço perdeu força e cedeu a uma correção dos preços para baixo, que os aproximou ao nível de US$ 3.000, quando receberam um novo impulso de compras especulativas e voltaram para acima de US$ 3.100. Contando com pouca participação comercial, a movimentação dos preços continuou sendo comandada pelos grandes fundos especulativos, num constante “cabo de guerra” entre os campos dos altistas e dos baixistas. A posição comprada dos especuladores, somadas as duas bolsas de Londres e de Nova York, chegou a alcançar 168.901 contratos em meados de julho, valor mais alto desde abril de 2014. Caiu mais de 53.000 contratos nas semanas seguintes para 115.272, segundo o relatório de 11 de agosto, mas aumentou de novo nos dias seguintes.
A notícia mais relevante no período foi a publicação das moagens do segundo trimestre de 2015 dos principais centros consumidores. A única surpresa foi o desempenho da União Europeia, cujas moagens eram esperadas cair 2-5% em comparação com o mesmo trimestre do ano passado, mas tiveram um minúsculo aumento de 0,56%. O resultado das demais regiões foi dentro das expectativas do mercado, com queda de 8,64% na América do Norte e de 12,04% na Ásia. As moagens brasileiras sofreram uma redução de 8,32%. Sem dados concretos dos demais países, principalmente da África, as estimativas do mercado apontam uma queda das moagens mundiais no trimestre da ordem de 4-5%.
Tudo indica que as moagens continuarão estagnadas ou em baixa até o final do ano devido ao duplo efeito da resistência das indústrias consumidoras aos preços atuais e da fraca demanda em vários mercados consumidores, como da China, onde as fábricas locais de chocolate reportam uma queda das vendas. Fenômeno semelhante ocorre no mercado brasileiro, cujo consumo aparente estimado nos últimos 12 meses terminados em abril diminuiu 6,6% em comparação com o mesmo período anterior. Mas, mesmo nos mercados onde as vendas ao varejo de chocolate se mantêm ou até mostram algum crescimento, a demanda permanece fraca, porque as indústrias de chocolate, no esforço de manter seu volume de vendas, alteram as receitas dos seus produtos ou reduzem o tamanho das suas embalagens com o intuito de limitar até onde for possível a participação do cacau na composição dos seus custos.
Entretanto, apesar do cenário fundamental francamente baixista, os fundos especulativos, pelo menos por enquanto, continuam dando suporte aos preços. No momento em que esse suporte deixar de existir, uma queda maior será inevitável.

Thomas Hartmann é cacauicultor, analista do mercado internacional de cacau e titular da TH Consultoria e Estudos de Mercado.

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