Os perigos alimentares são classificados de acordo com a sua natureza e podem ser biológicos (bactérias, vírus, toxinas), químicos (pesticidas, herbicidas, contaminantes, metais pesados) ou físicos (fragmento de vidro, metal, madeira etc.). O estado de saúde das pessoas é particularmente importante na prevenção de doenças e depende em parte de uma dieta nutricional equilibrada. Se isso não acontece, a qualidade de vida e a expectativa de vida diminuem. Segundo o médico endocrinologista Mohamad Barakat, os maiores vilões da saúde em alimentos industrializados são frequentemente encontrados em confeitos e snacks. “Excesso de sódio, açúcar, calorias e gordura trans estão entre as principais causas de malefícios”, assinala. Formado pela Faculdade de Medicina do ABC, com residência na Escola Paulista de Medicina e especialização em Nutrologia e Metabologia na Abran (Associação Brasileira de Nutrologia), Mohamad Barakat é Master em Fisiologia do Envelhecimento e Ciências do Anti-Envelhecimento pela Universidade Paulista (Unip/SP) e pós-graduado em Endocrinologia pela Ipemed. Na entrevista a seguir, o especialista elucida os riscos associados a cada um dos ingredientes básicos de guloseimas doces e salgadas.
DR – Por que alertas contra os perigos nos alimentos industrializados não sensibilizam os consumidores?
Barakat – Existe um trabalho de marketing muito efetivo realizado pela indústria. É como se esses alimentos dissessem que entendem o cotidiano dos consumidores e estivessem dispostos a ajudá-los. O perigo é que temos por trás deles uma série de empresas comprometidas com lucros, dispostas a utilizar grandes quantidades de gordura trans, sódio e açúcar para baratear a produção e criar produtos mais viciantes. A situação é ainda mais grave no caso da alimentação infantil, já que muitas marcas voltadas para esse público trazem slogans e embalagens que salientam vitaminas e outros compostos benéficos. É uma estratégia que engana as mães e pais. Essas vitaminas são adicionadas industrialmente em produtos repletos de açúcar e sódio, que não teriam valor nutricional algum, não fosse pelo enriquecimento artificial. Um alimento como esse nunca poderia substituir um “bifinho”. É puro marketing.
DR – Quais os males associados ao sódio, açúcar e gordura trans contidos na maioria das guloseimas industrializadas?
Barakat – Usado há mais de cinco mil anos para proteger alimentos da deterioração, o mineral sódio é utilizado em larga escala pela indústria para esse mesmo fim. O problema é a grande concentração empregada, assim como o processo de refinamento do sal, fazendo que uma dieta composta de alimentos industrializados extrapole em muito os dois gramas diários recomendados pela Organização Mundial da Saúde (OMS). O resultado dessa ingestão é um aumento da pressão arterial, um quadro que se traduz em diversos problemas graves como hipertensão arterial, problemas renais, arritmia e infarto, cada vez mais comuns entre a população. Praticamente o “outro lado da moeda” do sódio, o açúcar é utilizado em altas concentrações para mascarar a grande quantidade de sal refinado que entra como conservante até mesmo em comidas doces. Esse carboidrato refinado é a forma mais rápida de fornecer glicose para o corpo. Sua alta concentração gera picos de insulina, enquanto o corpo tenta lidar com a grande quantidade de glicose. Esse ciclo é repetido a cada bomba de açúcar consumida. Com o tempo, o corpo vai ficando cada vez menos sensível à insulina, uma condição que evolui para diabetes. Mais do que isso, o açúcar também traz um componente psicológico muito forte, chegado a causar dependência comparável à de diversas drogas. Já a gordura trans é um tipo de lipídio artificial formado por um processo químico conhecido como hidrogenação, que transforma óleos vegetais líquidos em gorduras sólidas. É largamente utilizada em alimentos industrializados para melhorar o aspecto e consistência, além de aumentar a durabilidade. A substância eleva o colesterol ruim (LDL) e diminui o bom, aumentando a obesidade abdominal e até os processos inflamatórios do nosso organismo, sem falar no aumento do risco de desenvolver diabetes. Mesmo causando tantos problemas, esse tipo de gordura está presente em uma extensa gama de alimentos consumidos em larga escala.
DR – Qual a restrição em relação ao glutamato monossódico, conhecido como realçador de sabor?
Barakat – Esse famoso ingrediente, utilizado na indústria para realçar o sabor dos alimentos, começou a ser comercializado mundialmente no início de 1900 pela indústria japonesa. Hoje em dia é possível encontrar várias evidências científicas de que o consumo contínuo do glutamato monossódico (MSG) pode causar déficit de atenção e danos cerebrais, pois a excitotoxina (aminoácido presente nesse produto) é excitante de células nervosas, o que leva à destruição dessas células, estimulando assim o surgimento de doenças degenerativas como Alzheimer e Parkinson. Além disso, o MSG pode até triplicar a quantidade de insulina produzida pelo pâncreas levando a um estado de pré-diabetes. As complicações a longo prazo relacionadas ao consumo de glutamato são obesidade, depressão, enxaquecas crônicas e lesões oculares.
Outro malefício oculto dos alimentos industrializados, que não pode ser computado em concentrações ou listado em tabelas de ingredientes, é o desenvolvimento de um paladar infantil. Em outras palavras, temos um indivíduo que foi acostumado desde pequeno a ser bombardeado com sal, açúcar e gordura em sua alimentação. O resultado é que ele terá muita dificuldade em experimentar e se acostumar com alimentos mais saudáveis, ricos em fibras ou outros nutrientes. Quando isso ocorre desde pequeno, teremos um adulto com paladar infantil, que come mal e acaba adoecendo tanto por conta dos excessos de sódio e açúcar quanto pela falta de elementos importantes, uma perda muita maior do que algumas horas a mais de preparo para substituir os biscoitos, salgadinhos e outras guloseimas oferecidas como práticas. •