Salvação da lavoura
A matéria de capa da presente edição revisita o mercado brasileiro de chocolate e atualiza uma paisagem que vem se transformando profundamente nos últimos anos. Hoje, no Brasil, uma leva crescente de empreendedores busca conectar a produção nacional de cacau com a capacidade de produção de chocolates finos. Ainda não é possível saber com precisão a origem do cacau utilizado em um chocolate – se é brasileiro, equatoriano, africano. Mas é possível ter um chocolate de origem com a implantação da rastreabilidade. Identifica-se de onde vem a amêndoa, principalmente se tiver um percentual elevado de sólidos de cacau na sua composição. Já é possível notar que as prateleiras de lojas em grandes centros urbanos do país estão começando a ser ocupadas por esses chocolates mais finos ou premium ou gourmet e até biodinâmico e orgânico. Muitas vezes eles não contêm apenas mais cacau, mas também a identificação da região de produção e até do agricultor responsável. Trata-se, como reconhecem os próprios empreendedores, de um mercado de nicho e ainda pequeno. Mas eles acreditam que essa pode ser a solução para uma nova fase de crescimento da cacauicultura no Brasil, que perdeu o posto de maior produtor do mundo na década de 1990, diante dos estragos causados pela vassoura-de-bruxa. Não fosse a doença, que praticamente dizimou os cacauais do Sul da Bahia, o país poderia estar entre os líderes desse mercado. Embora dados oficiais sobre o segmento sejam incipientes, se há dez anos não se tinha notícia de chocolateiros preocupados com a origem do cacau utilizado, atualmente há cerca de 120 empresas no Brasil que produzem o chamado chocolate de origem, faturando entre R$ 30 milhões e R$ 50 milhões por ano. Os números estão distantes das cerca de 250 marcas de chocolate conhecidas como bean to bar (da amêndoa à barra, em inglês) nos Estados Unidos. Mas acredita-se que esse número no Brasil poderá dobrar em até dez anos. Essa certeza considera que as empresas do ramo crescem dois dígitos por ano, mesmo em períodos de crise, enquanto a grande indústria avança de 2% a 3% ao ano. Embora ainda pequeno, esse segmento compra cerca de metade do cacau fino brasileiro, sobre o qual se paga um prêmio. O volume corresponderia a cerca de mil toneladas – a produção nacional de cacau gira em torno de 180 mil toneladas. Dentre os empreendedores há desde pequenos chocolateiros em busca de um lugar ao sol até agricultores que buscam uma forma de agregar mais valor ao negócio. No Brasil, como a legislação exige que todo chocolate tem que ter no mínimo 25% de cacau – abaixo da exigência de 35% em mercados desenvolvidos –, garantir um teor mais elevado que o da grande indústria parece não demandar muito esforço. Mas a maior parte das novas empresas já trabalha com teores acima de 30-40%. Para competir com as indústrias tradicionais na compra da matéria-prima, a saída é pagar mais aos produtores. E o prêmio tem sido de, no mínimo, 30% acima dos valores de mercado e chegam a dobrar a renda do produtor, dependendo do tipo e do tratamento da amêndoa. ■
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