O setor de máquinas e equipamentos teve alta de 0,7% na receita de 2019 em comparação com o ano anterior. Segundo o balanço recém-tirado do forno pela Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), a receita líquida das indústrias de bens de capital totalizou R$ 82,4 bilhões no exercício passado, fechando em R$ 5,9 bilhões em dezembro. O resultado do último mês representou queda de 5% em comparação com dezembro de 2018, nota a entidade. Mas acompanhando o otimismo com a economia, o setor estima investimentos na faixa de R$ 4,6 bilhões para 2020. A projeção foi divulgada pela Abimaq com base no aporte feito no ano passado, da ordem de R$ 3,7 bilhões.
Segundo a associação, o bom desempenho das vendas no balcão interno foi determinante para a manutenção do patamar positivo em relação a 2018. A melhora nas vendas de bens sob encomenda, notadamente para celulose e consumo – entre os quais se inserem linhas para processamento de alimentos e bebidas – foi preponderante para esse crescimento no mercado doméstico.
A transposição desse panorama para o segmento de chocolates, biscoitos, candies e snacks também acompanhou o ritmo de retomada, ainda que tímida, avalia Thomas Koblinsky Jr., diretor da Komatec, representação de grifes de máquinas e sistemas para fabricação de guloseimas e confeitos (confectionery). Em chocolates, por exemplo, inovações em equipamentos para produtos como ovos e figuras de chocolate devem eclodir na próxima Páscoa. “Não temos grande envolvimento neste mercado, pois trata-se de um setor com grande parte de operação manual e artesanal, mas observamos em 2019 um aumento de investimentos em sistemas para fabricação de massas, principalmente compounds/coberturas, ganaches e recheios”, comenta Koblinsky Jr. Representante da Netzsch há quatro décadas, a Komatec fechou a venda de várias instalações da marca no ano passado para empresas de pequeno, médio e grande porte, movimentação que, segundo o agente, sinaliza dinamismo no segmento. “Além de estrear a linha de conchas MasterConch, única com tecnologia CIP do mercado, com desenho atualizado para maior eficiência de conchagem, a Netzsch contabilizou pedidos e sondagens para seu moinho de esferas horizontal MasterRefiner, com câmara alongada e melhorias que permitem refinar massas em uma passada partindo do açúcar cristal”, detalha o trader. A concha CIP, ele explica, permite a limpeza pelo sistema “Clean In Place”, com dispositivos para uma limpeza mais ágil, permitindo a troca rápida de produto/tipo de massa, como de chocolate ao leite para chocolate branco. “É um recurso-chave para a indústria chocolateira hoje em dia, pois viabiliza sem perda de tempo mudanças exigidas pelo consumo em uma linha de produção”, comenta.
A retomada das consultas e pedidos também voltou à cena na Perpack, outra representante de marcas consagradas de equipamentos para a indústria de confectionery. Especialmente direcionada para processamento de produtos de Páscoa, a empresa destaca a família de temperadeiras Turbotemper, da alemã Sollich. “De grande destaque entre as inovações da marca, o modelo Turbotemper Liquid é ideal para a temperagem de massas de chocolate com viscosidade reduzida e essencial para um perfeito preenchimento de moldes para ovos de Páscoa”, argumenta Marcelo Fazenda, executivo de negócios da trading. Do portfólio da Awema, líder mundial em centrífugas para moldes de chocolate, com equipamentos para diversas capacidades, ele chama a atenção para o sistema de decoração de moldes Artist. “Pode ser acionado na decoração de pontos específicos do molde dos ovos e figuras de Páscoa – a exemplo de coelhos de chocolate maciço –, com diferentes massas de chocolate colorido”, sublinha Fazenda.
Inteligência artificial
Sem abrir números, Koblinsky Jr. confirma que as principais fabricantes brasileiras de chocolates já incorporaram avanços – ou estão em vias de – como os da Netzsch. “Temos algumas linhas com MasterConch, porém os projetos para compound, sem concha, na sua maioria já estão sendo entregues com o novo moinho MasterRefiner”, ele repassa. A Netzsch, prossegue o diretor da Komatec, opera continuamente desenvolvimentos e melhorias de processo para aumento de eficiência e, por essa razão, lidera os aprimoramentos tecnológicos na América do Sul e em outros mercados. “Praticamente todos os fabricantes de coberturas e recheios no Brasil utilizam a tecnologia da marca em seus processos”, assinala ele.
Entre os investimentos em equipamentos recentes, Koblinsky Jr. insere as inovações em embalagens da marca Syntegon (atual nome da Bosch Packaging), que vem sobressaindo na substituição de sistemas de embalagem tipo dupla torção por linhas flow pack de alta velocidade em curso nas diversas frentes da indústria brasileira de alimentos.
Fazenda, da Perpack, por sua vez, sustenta que todos os principais fabricantes de chocolate no Brasil optam por temperadeiras Sollich e pelas lavadoras de formas Hildebrand, campeãs absolutas no circuito mundial. “Com relação ao sistema Artist, como há predominância de ovos de Páscoa sobre figuras decoradas no Brasil, ainda não temos sistemas desse tipo instalados aqui, embora já existam diversas linhas em países como Suíça e Alemanha, onde figuras ocas decoradas têm grande presença no mercado de artigos de Páscoa”, grifa o executivo.
Entre as marcas representadas pela Perpack mais disseminadas no país, ele inclui as formas em policarbonato virgem da Kaupert, com diferentes acabamentos de superfície, e as lavadoras automáticas da Hildebrand. “O modelo Combiflex, com pistas múltiplas, permite a lavagem e secagem perfeita de formas e outros artigos plásticos simultaneamente”, enfatiza.
O ano de 2020 deve incorporar mais inovações às tecnologias disponíveis hoje em dia para processamento de confeitos por conta da feira alemã Interpack, programada para maio (de 3 a 5) em Düsseldorf, informa Fazenda. Tradicional reduto global de máquinas, equipamentos e sistemas de pré e pós-fabricação, o evento trienal renova a cena tecnológica do setor a cada edição. “Além de comemorar seu 100º aniversário, a Sollich apresenta na feira em primeira mão uma família de temperadeiras com princípio de inteligência artificial, onde o equipamento faz a autoanálise dos parâmetros de temperagem e promove o ajuste automático, reduzindo a interferência de operadores”, antecipa Fazenda. Outra atração anunciada pela marca é o sistema de medição de grau de têmpera (temperímetro) incorporado ao modelo Tempergraph, visando a manutenção constante do índice de têmpera estipulado para cada tipo de massa de chocolate. •