Supridora-chave de óleo de palma na América Latina, a Agropalma cortou em julho a fita inaugural de sua segunda refinaria no país. Localizada em Limeira (SP), a unidade absorveu R$ 260 milhões e demarca um novo posicionamento logístico da companhia, aproximando o fornecimento de óleo e produtos derivados do seu maior mercado consumidor. “A ideia era ficarmos mais perto dos clientes, e 65% do consumo de óleos vegetais do país está entre as cidades num raio próximo, em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte”, argumenta Marcello Brito, diretor geral da Agropalma, braço do Conglomerado Alfa. Ele acrescenta que, com a entrada em operação da planta prevista para agosto, a expectativa é chegar ao final do próximo ano com o faturamento na casa de R$ 1 bilhão, cerca de 40% a mais que os R$ 700 milhões registrados em 2015.
Com capacidade de 144 mil toneladas (t) de óleo de palma por ano, a refinaria limeirense parte com potencial acima das 110 mil t da outra planta da companhia, no Pará. Segundo Brito, o complexo será multióleos e capaz de processar também extratos de outras origens vegetais, como soja, girassol ou canola. “A grande vantagem é ter flexibilidade para produzir o blend que o cliente necessita”, destaca ele, acrescentando, por exemplo, que certas formulações obrigatoriamente pedem misturas de óleos vegetais.
Entre os avanços tecnológicos da refinaria, Brito ressalta o sistema de fracionamento (separação da parte líquida da sólida) de óleos láuricos, como o de palmiste, originado do caroço da palma e que, a exemplo do óleo da planta, tem variadas aplicações – de chocolates e recheios para biscoitos na indústria de alimentos a formulações de cosméticos. O óleo de palmiste tem sido largamente utilizado pela indústria alimentícia como substituto à gordura trans, considerada nociva à saúde.
A unidade exibe ainda um sistema de fracionamento contínuo para o óleo de palma (extraído da polpa do fruto) e tecnologia para recuperar vitamina E que, sem os recursos agora disponíveis, se perde no refino. Mas um dos pontos altos do complexo, considera Brito, é o centro de desenvolvimento e aplicações, dotado de plantas-piloto para ensaios e formulação de soluções, principalmente nas alas de chocolate e panificação. A miniplanta de chocolate, por sinal, é equipada com uma refinadora de cinco rolos da Jaf Inox para desenvolvimentos na categoria.
Crescimento sustentável
Os testes dos equipamentos de refino e fracionamento em Limeira começaram em meados de julho. Todo o óleo bruto para refino virá do complexo de Tailândia (PA), onde a companhia conta com seis unidades de extração, além de um terminal de exportação em Belém (PA). “O primeiro transporte de óleo de palma por cabotagem do Brasil foi feito no início de julho, embarcando um lote experimental de 2,6 mil toneladas”, informa Brito. O produto desembarcou no Porto de Santos (SP) e seguiu para Limeira de caminhão. A previsão, repassa o dirigente, é encerrar o ano com uma produção total de 150 mil t de óleo bruto.
O crescimento sustentável do mercado de óleos e gorduras especiais nos últimos anos foi responsável pelo aumento do apetite da Agropalma na comercialização de sua produção internamente. Na contramão do setor produtivo nacional, ela decidiu intensificar suas operações no mercado doméstico mesmo em um cenário econômico de incertezas. “O que parece um contrassenso no momento atual é um arranjo que busca mitigar o risco cambial, as oscilações de mercado aqui e fora, além das barreiras tarifárias e não tarifárias ao comércio”, assinala Brito. O preço da commodity, acrescenta ele, sofre influência de produtos substitutos, anomalias meteorológicas, choques positivos e negativos da oferta e demanda, entre outras interações sobre as quais as empresas não têm influência. “Com a nova planta, queremos intensificar nossos negócios localmente, desenvolvendo parcerias estratégicas de longo prazo, reduzindo esses riscos, alheios ao nosso próprio desempenho”, sinaliza o executivo.
Assim, em um momento em que todos suspendem ou cortam investimentos no Brasil, a Agropalma amplia capacidade e linha de produtos, apostando que o mercado nacional voltará, em breve, ao seu vigor. No Brasil, a empresa já atende os principais consumidores de óleo e gorduras de palma na indústria de alimentos, oleoquímica, cosméticos e também do setor de food service. A refinaria de Limeira marca a inauguração da primeira unidade de fracionamento de óleos láuricos do Brasil e a quarta de fracionamento contínuo de palma no mundo, sendo a única do continente americano, enfatiza Brito.
A aposta da Agropalma no mercado brasileiro carrega ainda outro componente. Organizações ambientais e sociais (ONGs) promovem campanhas chamando a atenção para os impactos da devastação de florestas e outros biomas por todo o mundo. Os alertas trazem repercussão negativa para as empresas de alimentos e cosméticos consumidoras de óleo de palma sem certificação ou rastreabilidade controlada. “Hoje, apenas 12% da produção mundial de óleo de palma são certificados. No Brasil, esse percentual é de 25% e corresponde à participação da Agropalma no mercado nacional”, afirma Brito. Ele acrescenta que a companhia se antecipou a outras empresas que atuam internamente e acredita que o mercado consumidor brasileiro vai ampliar a exigência de certificações junto a seus fornecedores. Assim, mais da metade do fornecimento local da Agropalma já é de produtos certificados pelo RSPO (Roundtable Sustainable Palm Oil), demonstrando o potencial dessa demanda em um horizonte de médio prazo. •