Símbolo do consumo de autoindulgência, o chocolate é um dos últimos itens da lista de compras supérfluas a serem cortados em caso de crise. Por uma singularidade do mercado brasileiro, o produto é hoje visto também como alternativa ao desemprego, desde que consumidores aderiram à sua utilização como insumo para produção artesanal em complementação à renda doméstica. E o período em que essa atividade tradicionalmente se intensifica é o da Páscoa. Acompanhando a estabilização na produção e demanda dos últimos anos, a comemoração em 2017 também perdeu força. Segundo a Abicab (Associação Brasileira da Indústria de Chocolates, Cacau, Amendoim, Balas e Derivados), foram produzidos no ano passado cerca de 9 mil toneladas de chocolate, o que equivale a 36 milhões de ovos. Pelas planilhas da Euromonitor International, que audita o varejo da categoria, esse volume bateu em 9,3 mil toneladas, equivalentes a vendas de R$ 1,198 bilhão. Apesar do desempenho abaixo do esperado, ao menos a indústria que fornece chocolate para transformação esfrega as mãos, na expectativa ao menos repetir a última campanha. “Na comparação da Páscoa atual com a do ano passado, há muito mais otimismo, pois a nossa economia começa a mostrar uma reação”, exulta Marco Paulo Pereira Henriques, gerente de marketing da Duas Rodas, supridora do chocolate fornecido em barras grandes para transformação em confeitos, ovos e figuras de Páscoa. Na entrevista a seguir, ele analisa o cenário atual e as perspectivas par a campanha deste ano.
DR – Qual o motivo para tanto otimismo?
Henriques – É verdade que a recuperação econômica ainda é sutil, mas já produz efeitos no mercado. Depois de uma forte queda em dezembro de 2017, quando o faturamento do atacado, que distribui nosso chocolate, apresentou retração de mais de 10% em relação ao mesmo mês de 2016 – resultado também influenciado pelo efeito sazonal –, o desempenho desse setor foi melhor em janeiro de 2018, tornando a retração bem menor*. Para este nosso segmento, de venda de chocolate para transformação, 2018 mantém a estimativa positiva, considerando que o consumidor procura por opções diferenciadas, mais exclusivas e de qualidade, além de ótima relação de custo/benefício.
* N.R.: Segundo pesquisa mensal da Abad (Associação Brasileira de Atacadistas e Distribuidores de Produtos Industrializados), em termos nominais, o recuo registrado foi de -1,21% em janeiro de 2018 em relação ao mesmo mês de 2017. Na comparação com o mês de dezembro de 2017, a retração foi de -7,63%. Em termos reais, a queda foi de -7,9% de dezembro (2017) para janeiro (2018) e de -3,96% em relação à janeiro de 2017.
DR – Como a oferta de chocolate para transformação da Duas Rodas tem evoluído?
Henriques – A cada Páscoa buscamos levar aos nossos clientes, hoje em grande parte formada por transformadores, sugestões de tipos e formatos de produtos para que desenvolvam e vendam na data. Essa conexão enfatiza as últimas tendências de consumo, que inclui desde variantes tradicionais repaginadas a inovações como ovos de chocolate baseados em receitas de doces da moda, como brigadeiro e trufas. Um diferencial é que, além detalhar a qualidade dos nossos chocolates e coberturas para as aplicações, contribuímos levando também informações sobre gestão do pequeno negócio. Temos, por sinal, uma publicação especialmente elaborada, que traz grande diversidade de informações e orientações para os transformadores, também reproduzidas nas redes sociais.
DR – E qual é a expectativa para a campanha deste ano?
Henriques – Apesar da instabilidade na economia nos últimos anos, a companhia não deixou de implementar e concluir seus investimentos, dentro e fora do país, e contrariando os prognósticos vem cravando avanço de dois dígitos. Seguindo essa tradição, a estimativa é de crescermos 30% nesta Páscoa.
DR – Os pedidos de clientes têm justificado um resultado mais positivo para 2018?
Henriques – Nossos produtos têm sido mais procurados tanto pelos transformadores quanto pelos lojistas. Com isso, estamos ampliando o número de lojas e o portfólio e volume em cada ponto de venda, resultado de um trabalho de base muito consistente, com cursos, aulas-show, degustações e campanhas.
DR – Com relação a preços, como avalia a disponibilidade atual de renda de consumidores e a disposição de investir na data?
Henriques – A disponibilidade financeira ainda se encontra em recuperação, mas em comparação com 2017 já está melhor. Os consumidores continuam em busca de um ótimo custo/benefício, fator interessante para chocolates em barras para transformação. As margens, para nós, seguem alinhadas conforme nossa estratégia, ou seja, na Páscoa os investimentos são maiores, porém os volumes correspondem. Com isso, os custos são diluídos, nos deixando mais competitivos e com maiores possibilidades de fazer campanhas promocionais, atendendo os anseios do consumidor, que busca produtos de qualidade com bons preços. •