Da mesma forma que o frango na mesa do brasileiro foi sinônimo de ascensão social durante o Plano Real, no governo FHC, o iogurte ocupou esse lugar na era Lula, entre as classes C e D, com o aumento do poder aquisitivo. Tudo isso, no entanto, já é passado, conforme revela pesquisa recente da Nielsen em parceria com a Kantar Worldpanel, encomendada pela Associação Paulista de Supermercados (Apas) e divulgada na abertura da 32ª Feira e Congresso de Gestão Internacional em Supermercados (Apas 2016), foco de reportagem especial da presente edição. Segundo o estudo, o desemprego e a renda reduzida estão mudando rapidamente os hábitos dos brasileiros. Entre os dez itens mais consumidos há poucos anos, o iogurte agora já não freqüenta mais a lista. O brasileiro médio está deixando o lazer de lado, principalmente jantar fora. Além disso, os consumidores estão observando mais promoções, retornando às tradicionais compras mensais, em vez de várias idas aos supermercados. E quem ganha com esse novo comportamento são os chamados atacarejos, redes de atacado e varejo menos sofisticados, mas com preços melhores. De acordo com dados da Abras (Associação Brasileira de Supermercados) e Apas, houve uma queda real de 3,6% nas vendas do setor de 2015 em relação a 2014. Em 2016, a expectativa é de uma queda menor, em torno de 1,5% a 2%, dada a conjuntura política e econômica. Pela projeção das duas entidades, o autosserviço deve faturar em 2016 algo em torno de R$ 336 bilhões, sendo que, desse total, São Paulo deve contribuir com R$ 99 bilhões. A pesquisa Nielsen/Kantar Worldpanel capta que o brasileiro tem se preocupado mais com sua saúde. De acordo com os dados, 49% dos entrevistados estão substituindo aos poucos refrigerantes por água de coco, e a margarina por manteiga. Um dos destaques nesse sentido foi o consumo de leite, com queda de 6% para os leites comuns, enquanto aqueles sem lactose subiram 78%. O consumidor está mais atento, exigente e não quer abrir mão de suas conquistas, particularmente os da classe C. O segmento de cerveja, por exemplo, reflete essa realidade, já que os consumidores não abrem mão das cervejas premium. Como solução, procuram economizar adquirindo marcas mais acessíveis de produtos de outras categorias, como as de limpeza. A pesquisa revelou ainda que 37% dos consumidores “Millennials”, ou a geração Y – com idade entre 26 e 30 anos – , não pretendem economizar. Trata-se de um grupo que tende a comprar mais por impulso e que prioriza viver o momento. Os Millenials são os que impulsionam o comércio eletrônico, por já estarem inseridos no contexto digital e de compra online. De acordo com o levantamento, as vendas do varejo pelo canal e-commerce devem crescer 43% em quatro anos, um salto de R$ 41,3 bilhões em 2015 para R$ 59,8 bilhões em 2019, atingindo assim o tamanho do canal tradicional de hoje. O importante, conclui o estudo, é estar preparado para a era digital, investir nesse canal agora, mesmo com a crise que passará em algum momento, pois quando o mercado voltar a crescer, ter um canal eletrônico azeitado será um diferencial em relação aos demais. •