A queda estimada entre 2% e 5% na receita líquida do setor de bens de capital para este ano não vale para todos os segmentos. Projetada pela Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), o índice leva em conta a queda acumulada de 5,6% no faturamento geral até julho de 2017. Isso significa que a receita líquida, na média, ainda precisa crescer nos próximos meses para o desempenho da indústria ficar dentro do projetado. Se dependesse de fabricantes como a Bosch a previsão seria bem diferente.
Alexander Röpke, gerente geral da Bosch Tecnologia de Embalagem, sediada em São Paulo, informa que unidade de embaladoras para biscoitos, por exemplo, vem mantendo a média de venda nos dois últimos anos, com 6 a 7 linhas completas entregues. “Sentimos que 2017 está sendo mais difícil, mas conseguimos equilibrar eventual baixa no volume de pedidos internos, com exportações para a América Latina, África, Rússia e Índia”, relata o dirigente. Ele observa que a melhora recente no índice de confiança vem conduzindo o país a retomar o primeiro lugar na lista de encomendas, mas a capacidade da fábrica de Barueri (SP), hoje totalmente preenchida, se deve a pedidos que serão contabilizados em 2018.
“Em resumo, as grandes indústrias de biscoitos, que operam linhas populares como crackers e variedades planas, quase não sentiram a crise, que pegou em cheio os fabricantes de produtos mais elaborados, de maior valor, como cookies e versões especiais”, sintetiza Röpke. Para justificar o desempenho da Bosch, ele indica os avanços tecnológicos introduzidos em prol da produtividade que, para o setor de alimentos em geral e de biscoitos, em particular, são cruciais para fomentar as encomendas. Quem, inclusive, não arrisca investimentos em expansões com a compra de novas máquinas, ao menos, investe em reformas e retrofit (atualização de sistemas), contribuindo para manter aquecidas as operações da Bosch. Marcelo Macedo, gerente de engenharia da unidade, reporta que os pedidos de reforma começaram a crescer no ano passado e se intensificaram no atual exercício. “Em geral são linhas embaladoras do tipo portafólio, com mais de 20 anos de atividade, que muitas vezes ainda se encontram em operação, mas com custos altos de manutenção“, argumenta o especialista, acrescentando que a revisão inclui atualização na parte eletrônica, instalação ou substituição de servomotores e itens de segurança, com peças originais e garantia de fábrica. Segundo Macedo, uma reforma completa, dependendo da idade e estado da máquina, pode alcançar até 60% do investimento em uma linha nova. “Mas o equipamento ganha prazo de validade para mais 20 anos”, assinala o executivo.
Entre as inovações introduzidas pela Bosch em embaladoras, Röpke destaca o sistema de distribuição de biscoitos através de calhas vibratórias que pode ser incorporado a plantas modulares completas, desenvolvido pela unidade brasileira e apresentada em maio passado na feira alemã Interpack, maior vitrine global de tecnologia e soluções em embalagens para a indústria. Macedo insere que, no caso de linhas portafólio, o projeto da Bosch exibe como diferencial a adaptação de duas pistas full size, que operam até 170 pacotes de até 270 milímetros por minuto (ppm). A participação da Bosch na Interpack, aliás, chamou a atenção pela exibição em primeira mão de soluções da chamada indústria 4.0 em plantas modulares para a fabricação de chocolate em barras, biscoitos, confeitos à base de gelatina (jellies), produtos em pó, laticínios (dairy) e snacks. O conceito de indústria 4.0, que incorpora a conectividade das máquinas, inclui a integração de sistemas de aquisição e análise de dados on-line, com a aplicação de sensores adicionais para apuração de diagnósticos. “Desenvolvemos uma linha piloto que opera dentro do conceito de indústria 4.0 para o segmento farmacêutico e vamos introduzir uma primeira experiência na ala de biscoitos em breve”, anuncia Röepke.
Já o modelo GZL de embaladora tipo portafólio, com alimentador duplo, tem previsão de lançamento no próximo ano, informa Macedo. Desenvolvido pela unidade brasileira, esse sistema de alimentação, na realidade, organiza os produtos em pilhas múltiplas. Enquanto a maioria dos dispositivos opera com no máximo duas pilhas, ele pode atingir três, quatro ou quantas pilhas forem necessárias, grifa o gerente. Além da facilidade de limpeza e higienização, cruciais em linhas de alimentos, a transportadora também marca pontos pela condução suave dos biscoitos, reduzindo drasticamente o índice de quebras.
Outra novidade a ser introduzida no próximo ano é uma linha embaladora flowpack, desenvolvida em parceria com a suíça Sigpack, coligada da Bosch. “Vamos produzir os sistemas de alimentação dessa máquina, com o diferencial de dosar o número de unidades dentro do pacote, uma vez que normalmente o número de biscoitos por pacote pode variar”, sustenta Macedo. Além de opções de empacotamento de acordo com as necessidades do fabricante, o equipamento exibe perfis diversos de maquinabilidade que conferem flexibilidade à linha, nota Röpke, destacando o sistema sem costura para produção constante de até 1.500 ppm em embalagem primária, operando por exemplo com linha para embalagem secundária sincronizada em alta velocidade com o empacotador de fluxo Sigpack HRM. Trata-se de uma estação seladora transversal que opera com velocidade de filme de até 150 metros por minuto.