Motor de arranque
A estagnação econômica nos últimos anos levou a indústria nacional de máquinas a ver com reservas qualquer previsão. Em 2017, com o encaminhamento de reformas para equacionamento do déficit fiscal e ainda sem o impacto da operação Lava Jato, a Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) arriscou uma estimativa em torno de 5% de alta na receita líquida do setor para o ano. Apoiada em uma visão menos pessimista do mercado de bens de capital, que estendia o mesmo crescimento para o consumo aparente (vendas internas e importações), esse prognóstico vinha acompanhado da justificativa de que não era um sinal de retomada. Em termos de receita, compara a Abimaq, a indústria de máquinas é hoje 50% do que foi em 2013, e uma expansão dessa ordem não reporia a queda dos últimos anos.
No inicio de 2018, a tendência era de estabilidade com oscilações e a previsão de um ensaio de retomada no segundo semestre, caso o governo mantivesse a sinalização sobre as reformas. A tiracolo dessa expectativa, a entidade chegou a encaminhar ao Executivo nacional demandas dos fabricantes de máquinas, entre elas uma repactuação dos débitos das empresas com o Fisco e incentivos para a indústria nacional nas concessões.
Os dados da Abimaq acabaram confirmando que, no acumulado do ano até setembro, foi registrada alta geral nas vendas de bens de capital de 7,4% sobre o mesmo período do ano anterior. Segundo a entidade, a importação de máquinas, na qual se insere a maioria das linhas para fabricação de chocolate, biscoitos e candies, registrou US$ 1,13 bilhão, com queda de 3,1% em relação a setembro de 2017 e redução de 12,6% em relação a agosto.
Mas no acumulado do ano, houve alta de 15,6%, reporta a entidade. Já a exportação teve receita de US$ 736,60 milhões, com queda de 9,4% em setembro diante do mesmo mês do exercício anterior e retração de 24,7% sobre agosto. O acumulado desde o início de 2018 também registrou alta de 10,9% em relação ao mesmo período de 2017. Na avaliação da entidade a valorização cambial e o aumento das exportações durante o ano contribuíram com a melhora da receita. A projeção é de queda nas vendas no último trimestre do ano, mas esse resultado não deve interferir na expectativa de 7% de aumento nas vendas até o final do ano.
Com o início do novo governo, a expectativa é de que haja demanda por máquinas e equipamentos a partir do próximo ciclo de investimentos, mas apenas dentro de um prazo superior a um ano e meio. A Abimaq considera ainda que o aproveitamento desse impulso de demanda pela indústria brasileira ou grupos estrangeiros vai depender do câmbio e do acesso a financiamento.
Demanda Premium
Mesmo com o consumo de chocolates e candies em geral estabilizado, o setor de bens de capital para fabricação de itens dessas categorias respirou mais aliviado, com a demanda pontual porém ascendente em segmentos como o de produtos premium. As descobertas do poder antioxidante de flavonoides contidos no cacau, por exemplo, e mudanças nos hábitos decorrentes da onda de saudabilidade, transfiguraram o consumo de diversos segmentos dentro do universo dos confeitos (confectionery). Outro exemplo: a disseminação de linhas com diversos percentuais de cacau na formulação da massa impulsiona uma revitalização de projetos e instalações no setor de chocolate e a demanda de linhas para fabricação dessa nova geração de produtos vem se sustentando acima do esperado nos últimos dois anos. Representante de grifes de máquinas globais como Netzsch, Bosch e Haas Mondomix, a consultoria Komatec avalia que desde 2017 a demanda e consultas de equipamentos mais atualizados têm sido positivas. Além de avançar com projetos mais arrojados, a feira Interpack 2017 (maior exposição global de equipamentos para o setor de confectionery, promovida a cada três anos na Alemanha) impulsionou diversas decisões. Já 2018, com adventos como a Copa do Mundo e as eleições, a movimentação foi desacelerada. Mesmo assim, o setor realizou alguns projetos, sinalizando que o balanço anual deve ser positivo.
Segundo a consultoria Perpack, que opera com marcas como Sollich, Chocotec e Awema, apesar da retração geral no cenário de bens de capital, a busca por instalações voltadas ao mercado de chocolates gourmet ou produtos mais sofisticados, com maior valor agregado dentro da categoria, se mantém crescente. O setor brasileiro de confectionery vivencia uma crise desde 2015, com lenta recuperação a partir dos últimos três anos e, no período imediatamente anterior, os níveis de atividade foram basicamente mantidos estáveis e abaixo da média histórica.
A previsão otimista da Abimaq para importações é confirmada pela Komatec, considerando que 2017 já foi um ano acima da média para a consultoria. Projetos considerados desafiadores para novos produtos e alguns grandes investimentos de automação, impulsionados pela Interpack, resultaram em um ano bem acima dos resultados de 2016. Apesar dessa movimentação envolvendo o desembarque de tecnologias e máquinas, um dos destaques foi a atuação de grifes locais no processamento de massas de chocolates e coberturas (compounds), a exemplo da Netzsch Brasil, subsidiária do grupo alemão com fábrica em Pomerode (SC). Nos últimos dois anos, a marca bancou upgrades na série de equipamentos para preparo e refino de massas de chocolate (com liquor) e compounds (gorduras vegetais), a exemplo da linha compacta MasterConch, com nova geometria e formato.
Lição de casa
O desafio da indústria local de confectionery continua sendo driblar os custos altos e oferecer diferenciais técnicos e tecnológicos, a fim de garantir flexibilidade e inovação de produtos, além de alta eficiência, facilidade de limpeza e manutenção. A avaliação é unânime entre representantes locais de máquinas, que consideram o cenário menos nebuloso do que no passado. As empresas estão fazendo a lição de casa e buscando uma retomada. Houve alguma expansão nos últimos anos e muitas empresas, inclusive de pequeno e médio portes, reconheceram que tecnologia é o elemento-chave para assegurar competitividade, no cenário interno e exportações. Hoje em dia pode ser observado nas diversas empresas do setor de confectionery avanços a partir de investimentos, não apenas em máquinas, mas em tecnologias de produção, métodos de controle e desenvolvimento de produtos, entre outros.
Com a elevação do poder aquisitivo da população em épocas recentes, itens como chocolate meio amargo, balas de gelatina, toffees, wafers ou biscoitos cobertos não deixaram de ser supérfluos, mas ingressaram na lista de compras rotineira também das classes de baixa renda. Em paralelo, os preços desses artigos se tornaram mais atrativos, revelando a disposição das marcas de brigar por todos os perfis de consumidores. A força do mercado interno foi, nesse caso, o propulsor do crescimento do setor de confectionery.
As exportações continuam sendo um desafio para os fabricantes brasileiros, considerando as flutuações do câmbio, mas principalmente devido ao chamado custo Brasil, o conjunto de dificuldades estruturais, burocráticas e econômicas que encarecem os investimentos no país.
Segmentos específicos, como o de drageados e candies especiais, têm demonstrado um fôlego maior, com aumentos e projetos de automação, mas em geral, as linhas de chocolates e biscoitos têm sido o foco de investimentos das empresas, que priorizam a ampliação da capacidade. Nesse sentido, ganham destaque os sistemas de drageamento automático; de preparo e refino de coberturas e recheios; sistemas para produção de itens aerados e conjuntos de embalagem automática completos (incluindo automação de embalagem secundária) para chocolates e biscoitos. O objetivo é maximizar a eficiência das linhas de produção, reduzindo perdas e a interferência dos operadores, com a consequente queda nos custos de produção, além de priorizar aspectos como flexibilidade, fácil troca de formatos, maior vida de prateleira (shelf life) e inviolabilidade. Do ponto de vista dos processos, técnicas de produção sustentáveis, que permitam redução de consumo de energia e água marcam o desenvolvimento dos equipamentos em destaque. Automação de processos e sistemas de embalagem são hoje certamente os principais focos de investimento. Projetos que envolvem sistemas de automação de embalagem final (display e caixas) sinalizam crescimento, principalmente em setores como biscoitos, onde há linhas de produção dedicadas e de altos volumes.
Tomando por base o parque atual do setor de confectionery, o número de equipamentos importados ainda é alto, mas as barreiras impostas a eles também têm crescido, favorecendo a indústria nacional, que tende a mitigar as queixas e se equipar com boas equipes de vendas para não perder negócios e ser mais competitiva. A demanda por máquinas e equipamentos cresce, sobretudo, em virtude da acentuada recuperação de utilização da capacidade instalada de algumas empresas, associada à necessidade de outras de modernizarem seus parques para atender à demanda, principalmente na ala de chocolates e de confeitos formulados à base do produto. Diante do novo perfil do consumidor brasileiro, mais exigente, aumenta a procura por equipamentos compactos, eficientes e de baixo consumo de energia e custo operacional, equipamentos que são a maioria absoluta em países europeus.
O Brasil acolheu sobretudo na última década investimentos que já eram esperados na ala da produção. No setor alimentício, esse capital foi revertido em projetos de fábricas e modernizações de linhas, favorecendo a conclusão de encomendas do setor de máquinas e equipamentos para processamento de confeitos. Elas foram absorvidas em expansões de capacidade e plantas industriais, a exemplo das fábricas inauguradas no período no Nordeste brasileiro. Fornecedores das empresas do ramo de confectionery observam que essa disposição para aquisição de maquinário e tecnologia deve ser atribuída principalmente ao crédito, à desoneração tributária e à confiança do mercado na permanência da estabilidade econômica.
Dependente de financiamento, a compra de bens de capital tem sido realimentada, por exemplo, pela implantação de programas da Finame, agência de crédito do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), com taxas de juros baixas, prazos para pagamento e carência estendidos, facilitando a adesão de pequenas e médias empresas. É esse cenário de facilidades e atração para as indústrias que motivou o desengavetamento de projetos de ampliação e investimentos nos parques. Mas com a estagnação na demanda de guloseimas no país, o quadro atual projeta também um recuo nesse avanço, com a clientela da ala de máquinas com menos pressa de investir em aumentos na produção.
Sustentado pela expansão recente da classe média, o avanço no consumo de confectionery permitiu às empresas do setor eliminar a ociosidade verificada há alguns anos e passou a fazer pressões sobre as capacidades instaladas. Algumas dessas operações, por sinal, vinham trabalhando no limite e sem ociosidade, pedindo urgentemente a ampliação e adequação de equipamentos. Essa acentuada expansão no setor provocou a necessidade de aquisição de novas linhas e, como resultado, a última década foi particularmente favorável aos fabricantes e fornecedores de máquinas para o setor de confectionery. A torcida é para que essa tendência retome o pulso nos próximos exercícios, juntamente com os incentivos do governo.
Fabricar chocolate do grão de cacau à moldagem da massa (bean-to-bar) no Brasil dependia, até algum tempo atrás, de tecnologia e maquinário importados. Essa realidade foi mudando aos poucos. Primeiramente, surgiram os fornecedores de equipamentos para as etapas finais da produção: derretimento, temperagem e moldagem. Mas não demorou para que o passo anterior, de processamento do cacau ao refino e conchagem da massa, fosse também incorporado ao menu da indústria nacional de máquinas. Entre as supridoras brasileiras detentoras do know-how que cobre de ponta a ponta a fabricação de chocolate ganha destaque a JAF Inox que opera desde 2007 em Tambaú (SP) uma planta dedicada a produção de instalações para fabricação de chocolate gourmet. Em 2014, ela foi incorporada ao grupo Duyvis Wiener, grife global de máquinas e sistemas para o setor de chocolate e confectionery.
Termômetro do mercado
Confirmando as perspectivas favoráveis do setor de bens de capital, a ala de embalagens já registrava um cenário de retração mais brando e, com base nos resultados de 2017, incorporou o otimismo em suas previsões. Com volume bruto de produção fechado em R$ 71,50 bilhões, o setor apresentou crescimento de 1,96% na produção física de embalagem no ano de 2017 em relação a 2016, estimando para 2018 um crescimento maior calcado na recuperação dos indicadores de consumo, comércio, serviços e industrial. Os números tradicionalmente apurados pela Abre (Associação Brasileira de Embalagem) há 21 anos, sob a chancela do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV), refletem o cenário de retomada da economia brasileira. Segundo o estudo macroeconômico exclusivo do Ibre, os plásticos representam a maior participação no valor da produção, correspondente a 38,85% do total, seguido pelo setor de embalagens celulósicas, com 34,09% – somados os setores de papelão ondulado, com 17,36%; cartolina e papelcartão, com 11,57% e papel, com 5,16% –, metálicas, com 18,15%; vidro, com 4,44%; têxteis para embalagens, com 2,53% e madeira, com 1,95% (ver quadro à pág. 28).
O estudo da Abre é um balizador para o mercado de embalagem. Oferece ao setor um termômetro do segmento e indica um norte para ações da indústria. O quadro atual evidencia o aumento do consumo das famílias e da confiança em relação ao país, sendo, portanto, um importante momento para buscar oportunidades. O período de crise vivenciada até o ano passado também deixou um legado positivo, que se traduz em aprendizados como mais eficiência operacional, busca por desenvolver novas funcionalidades e a exploração de nichos de maior valor para o consumidor.
Essa disposição de retomada já reflete na geração de empregos no setor. Em relação a empregos diretos e formais, a posição em dezembro de 2017 ficou em 218.146 profissionais com carteira assinada, apontando um crescimento de 1,12% em relação a 2016. Das cinco classes de embalagem, quatro registraram crescimento em 2017. O desempenho de cada setor está diretamente atrelado ao desempenho dos mercados a que atende prioritariamente, variando entre produtos de consumo não duráveis, de rápido consumo, até segmentos de produtos duráveis, como eletroeletrônicos ou mesmo da construção civil. O crescimento no número de empregos diretos e formais contribui para o entendimento de uma recuperação da economia brasileira.
Selecionado o ponto de venda (PDV), o consumidor leva apenas 20 segundos para decidir a compra de um produto, tempo esse necessário para visualizar e tocar a embalagem, sustentam especialistas do setor. A crescente demanda por soluções práticas, fáceis de abrir e fechar e ainda com apelo visual chamativo movimenta a atividade de transformação de plásticos. A diferença agora é que a lista de exigências deve inclui a preocupação com o descarte pós-consumo – ainda uma das pedras no caminho da ala alimentícia. Em meio a essas discussões, o reduto de embalagens mostra que a categoria ainda tem muito a contribuir.
Com fatia generosa da área alimentícia, o ramo de embalagens flexíveis aposta no avanço tecnológico para desenvolver mais opções e atender às novas demandas, especialmente oriundas da ascensão das classes C e D, que promoveram um salto na economia. Esse incremento no consumo consolidou, por exemplo, o uso de materiais como o polipropileno biorientado (BOPP), material-chave em embalagens de chocolates, biscoitos, confeitos e snacks. Entre o consumidor e os fabricantes de guloseimas, as empresas convertedoras se veem no momento pressionadas a encontrar soluções para quesitos como vida de prateleira (shelf life) adequada e alinhamento com conceitos sustentáveis.
Com propriedades de barreira contra gases, oxigênio e umidade, além de rigidez e resistência mecânica, o BOPP continua sendo o rei das gôndolas. Substituto do papel celofane, o filme tem utilização em várias aplicações, sendo convertido em embalagens flexíveis para impressão de arte pré-definida e laminação com outros substratos. A aposta da indústria é a reinvenção do material, com novos conceitos sendo desenvolvidos a partir de avanços já conquistados como, por exemplo, as variantes de BOPP metalizado (usado em embalagens de snacks) e perolizado (de uso corriqueiro em biscoitos).
Outra aposta emergente na ala de flexíveis é o poliéster biorientado (Bopet), que sobressai pela alta resistência térmica e mecânica, além de eficiente barreira, sendo requisitado em embalagens do tipo stand-up pouch e também como base de laminação com algum outro polímero para embalar snacks, por exemplo. No setor de candies o BOPP é usado largamente balas, chicles, em pirulitos do tipo plano (flat) e chocolates, enquanto o Bopet é mais eficiente pela barreira de ar na parte exterior e interior das embalagens.
Avanços tecnológicos permitiram que o processo de fechamento das embalagens ganhasse em qualidade final, tanto em segurança quanto na facilidade de abertura, a exemplo dos fitilhos que, ao serem puxados, abrem os produto, e das faixas pontilhadas com a mesma função. Em voga na cena atual, aprimoramentos de cunho sustentável têm possibilitado às empresas trabalharem com aditivos ou plásticos biodegradáveis, cada vez mais apontados como melhor alternativa para substituir os tradicionais filmes flexíveis derivados do petróleo.
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