Precursores da onda de saudabilidade na qual surfam diversas categorias de alimentos e bebidas, os adoçantes de mesa são hoje em dia de consumo corriqueiro no país. No ano passado, as vendas do segmento movimentaram R$ 571 milhões, capta monitoramento da Nielsen. Dados da Euromonitor International complementam que, em 2018, o país consumiu 4,139 milhões de toneladas de adoçantes (sweetners) – inclusas aplicações na indústria. Apesar do uso crescente como alternativa ao açúcar, a percepção do que são os adoçantes vem mudando. Até passado recente, a demanda ainda era relacionada apenas à restrição alimentar, através de indicações de médicos e nutricionistas. Agora o esforço da indústria é no sentido de elucidar a diferença que a substituição do açúcar provoca na vida a longo prazo, pondera Fernanda Perillo, gerente de marketing da Linea Alimentos, que assina uma família de adoçantes à base de sucralose. Foi a empresa, aliás, que introduziu há 20 anos esse edulcorante no país, agora utilizado largamente em várias aplicações de alimentos e bebidas. “Hoje, as pessoas optam pelo adoçante por restrição alimentar, estética e saudabilidade”, assinala a executiva. A indicação de médicos e nutricionistas ainda influencia tanto o consumo da categoria como na escolha da substância, porém, aos poucos, o conceito de saudabilidade ganha cada vez mais importância, constata ela.
Pioneiro na introdução dos adoçantes, como professor pesquisador da Universidade Estadual de Maringá, no Panará, Amaury Cruz Couto observa a evolução no consumo no Brasil nas últimas três décadas. “Por uma proibição legal, o país ficou para trás até 1989, quando adoçantes eram considerados medicamentos e vendidos sob prescrição médica”, rememora. Depois de vencidas barreiras e preconceitos, a conscientização maior sobre os benefícios do insumo e o aprimoramento do seu conhecimento permitiram a disseminação e atual crescimento do mercado, assinala o especialista, hoje presidente da Lightsweet que, entre outras opções, produz uma linha de adoçantes à base da planta stevia. Foi Couto quem desenvolveu estudo pioneiro sobre a aplicação da stevia como adoçante no país. Para ele, são vários os fatores indutores da demanda, além da obesidade, busca da forma física e saúde em geral, mas o principal são as doenças inerentes ao consumo exagerado do açúcar e outros carboidratos simples. “A humanidade é vítima desse consumo exagerado”, sustenta.
Estilo de vida equilibrado
A alimentação sem açúcar, acrescenta Couto não precisa ser sempre relacionada a restrição ou dieta, mas a um estilo de vida equilibrado e que pode ser prazeroso, se transformando, assim, em inclusão alimentar. “Temos consumidores de todo o país buscando produtos isentos de açúcar pelo sabor e segurança e acreditamos que a tendência será, cada vez mais, inovar e aperfeiçoar o mercado de adoçantes para esse público focado na alimentação saudável. As restrições ainda se incluem, porém, não são os únicos fatores que influenciam”, grifa o dirigente.
Fernanda, da Linea, acrescenta que os gatilhos para a alimentação saudável podem começar por uma necessidade familiar ou por um estilo de vida que demanda uma atenção especial sobre essa rotina. Uma pesquisa encomendada pela empresa descobriu a existência de três tipos de consumidores: os super-saudáveis, os atentos e os despreocupados. “Percebemos que o futuro está extremamente alinhado com o nosso posicionamento, pois os atentos e os super-saudáveis representaram a maioria dos consumidores e todos os grupos citaram que o estímulo para uma alimentação saudável é a prevenção no cuidado com a própria alimentação, a exemplo da substituição do açúcar por outras formas de adoçar”, comenta a gerente. Ela completa que os consumidores atentos representam as pessoas que, apesar de não possuírem uma vida extremamente regrada em relação a alimentação, buscam mudanças em pequenos hábitos no dia a dia e que, no fim, fazem a diferença. “Seja comer um doce sem açúcar, substituir a sobremesa por uma gelatina feita com sucos de frutas e por ai vai. São pessoas que se preocupam em consumir frutas, verduras e fibras na mesma proporção, mas que não abrem mão de um sanduíche gostoso ou um drink”, ilustra.
O posicionamento da Linea trabalha o conceito de saudabilidade com base no sabor, saúde e segurança. “Condensamos nos três ‘S’ a preocupação em entregar soluções de fato saborosas e que caibam na rotina dos consumidores, incluindo barras de cereais ricas em grãos como chia, linhaça e quinoa, geleias com frutas de verdade, gelatinas produzidas com o suco da fruta, enfim diversos itens gostosos e sem açúcar que entregam bem-estar ao consumidor”, sublinha Fernanda. Com relação aos adoçantes, a Linea emprega como substância edulcorante a sucralose, a stevia 100% e o xilitol, que incorporam versões líquidas (sucralose e stevia 100%), em pó, em comprimidos (sucralose e stevia 100%), de forno e fogão (sucralose e stevia 100%) e uma versão portátil para bolsa, com 25ml. “Hoje, o carro-chefe da marca é a sucralose líquida, com a qual a Linea abocanha a fatia de 44,7% de share”, repassa a executiva, assinalando que foi a Linea quem inaugurou esse segmento e se mantém na liderança desde então. “Com a Stevia 100%, também assumimos posição de liderança com menos de um ano de lançamento do produto, e hoje temos 44,4% do mercado”, crava ela.
Mitos e verdades
Os adoçantes de baixa caloria, como também são chamados os edulcorantes, conferem o sabor adocicado a alimentos e bebidas sem elevar a quantidade de calorias presente no açúcar derivado da cana. Todavia, persiste desconfiança em relação aos benefícios dessas substâncias à saúde. “O uso de adoçantes não calóricos é uma opção para as pessoas portadoras de diabetes ou com problemas de obesidade, sempre observado o cuidado com as calorias que elas consomem”, argumenta Iara Pasqua, nutricionista e consultora da ONG Salud em Corto*.
Antes de serem disponibilizados, os edulcorantes passam por rigoroso processo de avaliação de segurança e eficácia, com base em provas clínicas. Eles são analisados e certificados por um comitê misto, formado por especialistas em aditivos alimentares (JFECFA, na sigla em inglês) e administrado pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) e pela Organização Mundial da Saúde (OMS). “No Brasil também passam por testes e, somente após comprovar que a ingestão dessas substâncias é segura para a saúde, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprova a sua liberação”, acrescenta Iara. A fim de esclarecer o público sobre eventuais dúvidas associadas à demanda dos adoçantes, ela relaciona a seguir alguns mitos e verdades sobre o seu consumo:
Altera a flora intestinal: MITO. Um estudo recente da Universidade de Granada (Espanha)** confirmou que o uso de adoçantes não calóricos não causa nenhum desequilíbrio na flora intestinal, também conhecida como microbiota intestinal. Esse grupo de bactérias auxilia na digestão dos alimentos e no controle da proliferação de microorganismos que possam causar doenças.
Não provoca alergias: VERDADE. O consumo de adoçantes não está relacionado ao desenvolvimento de alergias nem a problemas gastrointestinais. Além disso, os adoçantes colaboram para a promoção da saúde por reduzirem a ingestão calórica.
Provoca cáries: MITO. Os adoçantes, na realidade, contribuem para a saúde bucal porque impedem o crescimento das bactérias que causam cáries.
Preserva a saúde: VERDADE. Por não serem carboidratos, os adoçantes de baixa caloria não elevam os níveis de açúcar no sangue. Por isso, ajudam no controle do diabetes e da obesidade e evitam a inflamação de pequenas artérias que poderiam desencadear ataques cardíacos, insuficiência renal, alterações na visão e derrames.
(*) Salud en Corto é uma organização não governamental formada por uma equipe multidisciplinar de especialistas em saúde e nutrição, com o objetivo de disseminar a prevenção à saúde e a promoção do bem-estar da população latino-americana por meio de ciências médicas confiáveis.
(**) Angel Gil Hernández, et.al. Effects of Sweeteners on the Gut Microbiota: A Review of Experimental Studies and Clinical Trials. Advances in Nutrition, Volume 10, Issue suppl. 1º de janeiro de 2019.
https://academic.oup.com/advances/article/10/suppl_1/S31/5307224
Consciência do consumidor
Na Lightsweet, Couto enfatiza que saudabilidade é a palavra de ordem natural no momento. Em sua visão, qualquer produto que possa ser produzido e consumido sem o açúcar em sua fórmula se enquadra como saudável. “Sempre trabalhamos visando a consciência do consumidor no sentido primário de eliminar as calorias vazias oriundas do açúcar de cana, pois ele é também um adoçante, mas de baixa intensidade e calórico, isto é, cheio de glicose que demanda insulina para sua metabolização e, assim sendo, não pode estar presente em quantidade em produtos de consumo massivo”, alerta. Para o expert, o consumidor em geral ainda desconhece essa condição e se assusta quando fica sabendo que, em um simples cafezinho, se adiciona para adoçar 5g de açúcar ou seja 20 kcal. Em dez cafezinhos diários, têm-se até 200 kcals ou mais. “Esses aspectos de conscientização são trabalhados por nós”, grifa Couto.
Na cena atual, a estrela da linha de produtos da Lightsweet, detentora das marcas Lowçúcar e Magro, é o adoçante elaborado com stevia. Por ser natural, é o mais requisitado e melhor entendido. “Todos os adoçantes de mesa do mercado não impõe riscos de consumo, falo como técnico e pesquisador da área, pois todos foram exaustivamente estudados pelos órgãos reguladores e nada os desabona para um consumo saudável. Da mesma forma que os produtos que usam adoçantes na sua composição”, argumenta. Como tendência, complementa o especialista, a stevia vem se destacando ultimamente e seu limitante é o preço, ainda acima dos demais. “Mas com o aumento da demanda, nos próximos anos, a expectativa é a de que ele passe a ser mais viável”, prevê.
Couto destaca que nenhum adoçante causa qualquer distúrbio em seu consumo regular.” Há princípios ativos no mercado com mais de 100 anos de existência, sem ter nada que o desabone”, diz. O mais importante, ele frisa, é saber o porquê do seu consumo. Utiliza-se adoçantes para adoçar sem a demanda de insulina exigida pelo açúcar de cana, ganhando em decorrência uma nota de saudabilidade mais intensa. “Considero que todo o exagero é nocivo à saúde e a rotulagem deve informar as questões básicas sobre os produtos, porque pouquíssimos consumidores têm conhecimento suficiente para analisar na hora da compra”, manifesta o dirigente. Para ele, os rótulos dos adoçantes devem ser trabalhados para gerar conhecimento e não como fonte de advertência. “Estas geram inseguranças e desordem na cabeça dos consumidores“, alega.
Com o acesso às informações, os consumidores se tornaram cada vez mais exigentes, observa Fernanda. Essa abundância de materiais, por outro lado, também criou entendimentos equivocados. “A indústria de adoçantes é feita através de muitas pesquisas e possui muitos profissionais envolvidos, por esse mesmo motivo, os produtos estão sempre se inovando e melhorando a qualidade”, frisa a gerente. Para ela, é necessário permanecer atento ao que é atual ou não. Além disso, dentro de cada país existem normas a serem cumpridas relacionadas à segurança. “É extremamente necessário que o consumidor procure saber se a marca que consome é, de fato, segura”, assinala. No caso da Linea, completa, a empresa possui certificados, a exemplo do IFS (International Features Standards). •