De número um no fornecimento mundial de cacau o Brasil caiu para a sexta colocação. Mas esforços recentes para recuperar a produção vêm imprimindo otimismo na cena internacional. Até a Organização Internacional do Cacau (ICCO) considera que o país pode voltar a liderar o crescimento em todo o mundo, já nas próximas cinco safras. Iniciativas em prol da melhoria da cultura doméstica do cacau, por sinal, são foco da seção Sustentabilidade da presente edição. As safras brasileiras têm sofrido nos últimos anos com a longa seca no Nordeste que derrubou a produtividade na Bahia. Mas com o apoio da Comissão Executiva de Planejamento da Lavoura Cacaueira (Ceplac), a produção do Pará vem, em paralelo, sinalizando crescimento. Estimativas da ICCO indicam que a produção brasileira crescerá a uma taxa de 2,6% ao ano entre a safra atual (2018/19) e a de 2022/23. Se essa previsão se concretizar, o país pode atingir 200 mil toneladas (t) de cacau em cinco temporadas, 20 mil t a mais que a do ciclo recém-iniciado (2018/19), projeta a Associação Nacional da Indústria Processadora de Cacau (AIPC). O setor, no entanto, cogita atingir a produção de 400 mil t em dez anos. Uma das principais razões para o otimismo com o futuro da produção brasileira é a estratégia do país de utilizar a produção de cacau em conjunto com a floresta para atingir as metas de redução de emissões de gás estufa estabelecidas pelo Acordo de Paris. No Brasil, o cacau é cultivado em conjunto com outras espécies, de forma a criar um sistema agrícola sustentável, conhecido como cabruca. Aparentemente, o governo brasileiro recém-eleito pretende satisfazer parte dos compromissos junto ao Acordo de Paris, elevando a participação do sequestro de carbono pelo sistema cabruca. O plano de crescimento no Brasil é acompanhado por outros players da América Latina, sobretudo pelo Equador e Peru, cujos governos têm atuado ativamente para elevar a produtividade da cacauicultura. Nesses países, a produção avança devido ao caráter empresarial dessa atividade, uma característica que contrasta com África, Sudeste Asiático e Oceania. Nessas regiões, a produção é pequena e desorganizada. Na América Latina, dado o potencial para elevar a produtividade, não há necessariamente pressão da cultura sobre novas áreas. Segundo a AIPC, outras regiões do mundo também conseguirão aumentar sua produção, mesmo com um modelo mais “artesanal”, o que deve manter a atual fatia da América Latina em 16%. Mas a região deve se tornar uma fonte-chave de cacaus finos, um nicho em ascensão, principalmente no Sul da Bahia, pois há uma crescente demanda por chocolates de alta qualidade, fino e de origem. Essa preferência vai ajudar a sustentar a produção de cacau no Brasil e em toda América Latina. •