Vitrine n.º 1 do setor de confeitos (confectionery) nas Américas, a feira Sweet & Snacks Expo 2017 recepcionou mais de 17 mil visitantes na edição realizada em maio passado com um anúncio inusitado logo na entrada. As principais marcas de candies dos EUA, inseridas entre os mais de 760 expositores da mostra, assumiram publicamente o compromisso de, até 2022, enquadrar 50% dos itens de maior giro em um figurino nutricional de menos de 200 calorias por porção. E mais: elas se comprometeram a estampar com destaque, nos rótulos frontais, informações sobre o teor calórico dos produtos em até 90% dos itens dos portfólios. No Brasil, por enquanto apenas a Hershey se manifestou publicamente a favor das medidas, anunciando o enquadramento de diversas marcas do seu mix (ver à pág. 28). “Esse compromisso vem ao encontro do movimento em prol da redução de açúcar em curso no Brasil, sinalizando os desafios que as indústrias de confeitos e de ingredientes têm pela frente”, pondera Marco Paulo Pereira Henriques, gerente de marketing da Duas Rodas, fonte de soluções e insumos para o setor de alimentos e bebidas. Ele, por sinal, considera o anúncio divulgado na feira da Associação Nacional da Indústria de Confectionery (NCA, na sigla americana) um grande avanço no front exterior e uma questão importante para o Brasil, onde cerca de 53% da população encontram-se com sobrepeso, alimentando uma situação crítica de saúde pública. “Entre as soluções que estamos justamente destacando sobressaem as tecnologias e opções de aromas que visam compensar a redução de açúcar, promovendo a mesma sensação de sabor das versões convencionais, por exemplo em formulações de balas, caramelos e pirulitos”, assinala o executivo, que testemunhou pessoalmente a movimentação na Sweet & Snacks Expo, como visitante.
Na Vogler, referência na distribuição de insumos para o setor de confectionery, o gerente de marketing Régis Inácio confirma a tendência na produção e consumo de balas/caramelos em favor da redução dos níveis de sacarose nas fórmulas ou mesmo dos itens açucarados nos portfólios. Ele entende, no entanto, que o banimento de produtos em cantinas escolares e similares, proposto por legislação em algumas localidades, é medida extrema e de eficácia não comprovada na luta contra a obesidade. “Acredito que a proibição de venda seja muito radical, pois candies fizeram e fazem parte da infância”, nota. Obviamente, acrescenta o gerente, a indústria deve se preocupar em oferecer guloseimas com o menor risco possível à saúde. No caso do açúcar, no entanto, as opções para a sua substituição parcial ou total são diversas e incluem soluções sob medida para preservar apelos de saudabilidade e também de indulgência.
Para Régis, o mix de ingredintes inovadores disponível tanto para o setor de balas como para outras modalidades de confeitos engloba especialidades, que incluem desde proteínas, fibras, acidulantes, corantes, hidrocolóides, conservantes e edulcorantes a amidos e glucose de milho, entre outras. “Assim conseguimos navegar dentro de várias propostas diferentes, mantendo um estoque regular, pronto para atender as demandas”, observa.
Demanda estabilizada
Confirmando dados da indústria de candies, Henriques, da Duas Rodas, reporta que, do ponto de vista da demanda de ingredientes para balas/caramelos, o cenário nos últimos três anos é de estabilidade. Apesar disso, a empresa tem observado aumento nas demandas, que incluem itens de alto valor agregado, seja no reduto de produtos mais indulgentes, desdobrados da tendência geral de gourmetização na ala alimentícia, ou no compartimento ascendente das linhas saudáveis. “Em termos de indulgência, o consumidor quer produtos diferentes, que tragam mistura de sabores e texturas, proporcionando novas sensações”, nota o executivo. Em relação a produtos enquadrados na corrente da saudabilidade, ele relata que o maior desafio é entregar o apelo sem deixar de lado o sabor, quesito mais valorizado e importante para o consumidor. “Por isso, investimos cada vez mais em inovação e pesquisa (P,D&I) auxiliando clientes a alcançar o que esse consumidor final deseja”, sublinha o dirigente.
Régis Inácio relata que por conta dos eventos Copa do Mundo e Jogos Olímpicos, que o país sediou recentemente, a indústria de alimentos e bebidas, com candies em menor intensidade, bancou desenvolvimentos que incorporaram as últimas tendências globais em termos de inovação e performance. Na ala de chocolates e confeitos, o volume de novidades nas frentes de itens do tipo zero, livres de (free-from), orgânicos e até vegetarianos e veganos avançou em uma escala sem precedentes. “Depois dessa ofensiva, com resultados positivos para a indústria, o mercado tem realmente se mostrado estável”, percebe. Embora a crise econômica venha desestimulando investimentos, Inácio sustenta que o negócio de candies tanto no plano doméstico como internacional tem condições de contribuir para uma eventual retomada. “Tanto as vendas locais, com a pulverização dos canais e o fator impulso, como as exportações de candies têm condições de ajudar a superar a estagnação no setor”, considera. Para ele, a oferta de ingredientes e o consumo industrial estão em dia com as correntes mundiais e a Vogler, por sua vez, se mantém alinhada com a movimentação recente na indústria, que busca formulações mais naturais para substituição de açúcar, de corantes e insumos como fibras. “Embora a legislação atual imponha restrições a apelos de saudabilidade nas embalagens dos produtos, podemos hoje, por exemplo, fazer chocolates ou doces com alguma funcionalidade”, grifa Inácio.
Na Duas Rodas, Henriques observa que o consumo passou a acompanhar as tendências mundiais principalmente depois que a internet e as redes sociais permitiram maior acesso à informação de qualquer parte do mundo. Em paralelo, o avanço da classe média tanto no Brasil como em outros países emergentes contribuiu para acentuar esse acesso às informações e a descoberta de conhecimentos científicos. “O consumidor é hoje muito mais inquieto e exigente, buscando cada vez mais experiências novas no consumo, principalmente aquelas que agreguem um algo a mais, seja uma história, uma origem ou cultura específica de algum lugar do mundo, uma recordação ou um diferencial de saúde e bem-estar”, sustenta o gerente. Através de ferramentas de inteligência e visitas às principais feiras globais, a Duas Rodas assimila essas tendências e investe em inovações e estruturas com base nessas mudanças de comportamento e do mercado, acrescenta ele. Além de equipe focada no desenvolvimento de ingredientes com texturas diferenciadas, a empresa conta com um núcleo de inovação focado em saudabilidade e bem-estar, desenvolvendo tecnologias e soluções em ingredientes voltadas a essas tendências.
Com relação ao aspecto indulgência, complementa Henriques, a companhia dispõe de ampla gama de aromas e formulações de recheios que promovem diferentes sensações, podendo ser adaptada a uma característica específica, a exemplo de maior acidez ou refrescância. “Já em termos de saudabilidade, ampliamos nossas tecnologias de redução de açúcar e gordura, principalmente, assim como o uso de vitaminas, desidratados, aromas e extratos naturais que exploram as potencialidades botânicas latino-americanas”, completa o executivo. •