O mercado de cacau prosseguiu na sua trajetória de alta durante o mês de maio, superando o nível de US$ 3.100 pela primeira vez desde outubro, época em que o “pânico” da epidemia do Ebola na África Ocidental havia inflado os preços. A alta continuou sendo promovida pelas compras dos fundos especulativos, que nas quatro semanas entre 28/04 e 26/05, data do último relatório, aumentaram sua posição comprada em mais de 40.000 contratos.
A ação dos especuladores foi motivada por notícias altistas no cenário fundamental, notadamente a confirmação da quebra da safra de cacau de Gana, que em vez das 850 mil toneladas (t) originalmente projetadas poderá cair para menos de 700 mil t, e as previsões dos institutos meteorológicos que o fenômeno climático El Niño será de alta intensidade este ano e, na estimativa de uma fonte da Organização Internacional do Cacau (OICC), poderá ter um impacto negativo de 2,4% sobre a produção mundial da safra 2015/2016. O último boletim trimestral da entidade, publicado no final de maio, aumentou a previsão do déficit da corrente safra internacional (outubro/2014 a setembro/2015) para 38 mil t, resultante da produção mundial líquida estimada em 4.126 mil t, 4,3% abaixo das 4.312 mil t da safra 2013/14 e das moagens mundiais avaliadas em 4.164 mil t, 2,7% menos que as 4.281 mil t da temporada anterior. A OICC ainda não publicou uma previsão para a próxima safra de 2015/2016, mas o consenso do mercado está em torno de um déficit de 40.000 t.
Contrapõem-se a este quadro altista do lado da produção as perspectivas no cenário da demanda, que são decididamente baixistas. Notícias de todos os mercados consumidores indicam estagnação ou retração. Em função disso, as indústrias chocolateiras se retiraram do mercado e poderão ficar afastadas por alguns meses, já que, segundo estimativas, elas possuem cobertura de compras contratadas equivalentes a mais de sete meses de produção. Na falta de interesse comprador, os ratios dos produtos de cacau evoluem negativamente. Nos últimos 30 dias, o ratio da manteiga de cacau no mercado spot de Nova York caiu de 2,05 para 1,99 e o do pó de cacau natural 10/12 de 0,93 para 0,90, corroendo as margens das indústrias processadoras de cacau. A maioria destas já opera no vermelho e vem reduzindo suas moagens. Para dar um exemplo, as moagens brasileiras dos 12 meses do ano-safra 2014/2015 (maio/14 a abril/15), somaram 225.747,8 t, 7,77% abaixo das 244.861,5 t da safra anterior.
Na falta de interesse comprador comercial, a sustentação dos preços fica nas mãos dos fundos especulativos, o que deixa o mercado em situação instável e volátil. Uma estabilização exigiria o retorno dos compradores comerciais ao mercado, mas que só ocorrerá com o reaquecimento da demanda ou com uma brusca e substancial queda das perspectivas da produção mundial, que motivaria a indústria a comprar para garantir seu abastecimento mesmo nas atuais condições de baixa demanda. Ambos os eventos são de baixa probabilidade. O primeiro em face do atual nível dos preços, que é claramente inibidor do consumo, o segundo diante do clima favorável à produção na África Ocidental e o esperado aumento dos preços dos produtores na Costa do Marfim e de Gana, que favorecerão a manutenção do volume da safra na primeira e sua recuperação na segunda. •
Thomas Hartmann é cacauicultor, analista do mercado internacional de cacau e titular da TH Consultoria e Estudos de Mercado.