A grande correção para baixo dos preços do cacau – há muito tempo esperada por alguns e temida por outros – finalmente aconteceu. Dentro de apenas 40 dias de operação, a cotação do mês mais negociado na Bolsa de Nova York despencou US$ 656, pulverizando ganhos que haviam sido construídos durante mais de oito meses. A queda se processou em condições de movimento intenso. Durante o mês de janeiro, a bolsa americana negociou um total de 938.394 contratos, cujo equivalente de cacau em grão corresponde a cerca de 2¼ safras mundiais. O detalhe que merece mais destaque é que não houve qualquer novo elemento de maior relevância para justificar o desmoronamento dos preços. A motivação principal parece ter sido de natureza macroeconômica, acompanhando uma fuga generalizada dos investidores de mercados de ativos de risco ao redor do globo, além – é claro – da posição já defendida há tempos pelo campo dos consumidores de que o preço do cacau estava supervalorizado.
O principal evento no campo fundamental foi a publicação das moagens do quarto trimestre dos principais mercados consumidores, que apresentou um quadro misto. As moagens europeias aumentaram 6,0% para 342.442 toneladas (t) no trimestre e 1,7% para 1.342.187 t no ano, impulsionadas pelo forte desempenho da Alemanha. A Ásia, cujas moagens eram esperadas em baixa, surpreendeu com um aumento de 14,0% para 161.227 t, embora o ano ainda apresentasse uma queda de 3,9% para 597.452 t. A América do Norte sofreu uma redução de 3,3% no trimestre para 118.896 t e suas moagens no ano caíram 7,0% para 484.992 t, num desempenho pior que havia sido previsto. As moagens brasileiras no trimestre aumentaram 6,5% para 59.542 t, mas, com 227.175 t, caíram 2,8% no ano. A soma total dessas regiões, que juntas representam 60-65% do total global, foi de 2.633.806 t no ano, 1,4% abaixo do ano anterior. Mas há indícios de que as moagens africanas, cujos dados ainda não foram divulgados, venham a compensar pelo menos parte da redução.
Com o quadro da demanda relativamente consolidado, as atenções se concentram sobre as perspectivas da produção na safra 2015/16, notadamente o desempenho da “mid crop” (safra colhida entre maio e setembro) dos dois principais produtores, Costa do Marfim e Gana. Teme-se que a falta de chuvas a partir de novembro do ano passado, agravada pela intensidade excepcional dos ventos secos do Harmattan, que sopram nessa época do ano do deserto do Saara, tenham causado perdas substanciais à produção desses dois países como também da Nigéria e de Camarões, mas ainda não se tem uma avaliação quantitativa dessas perdas, que será decisiva para determinar o comportamento dos preços.
Embora alguns analistas ainda vislumbrem um prosseguimento da baixa até chegar a US$ 2.500, está começando a formar-se um consenso que o mercado se estabilizará em torno dos atuais níveis, como já vem acontecendo desde o início de fevereiro. •
Thomas Hartmann é cacauicultor, analista do mercado internacional de cacau e titular da TH Consultoria e Estudos de Mercado.