À espera de investimentos
A recessão acentuada nos últimos exercícios levou a indústria nacional de máquinas a acolher com reservas qualquer previsão de alta. No início de 2017, no entanto, com o encaminhamento de reformas para equacionamento do déficit fiscal e ainda sem o impacto das delações e seus desdobramentos no âmbito da operação Lava Jato, a Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) arriscou uma estimativa em torno de 5% de alta na receita líquida do setor para o ano. Apoiada em uma visão mais otimista do mercado de bens de capital, que estendia o mesmo crescimento para o consumo aparente (vendas internas e importações), esse prognóstico vinha acompanhado da justificativa de que não era um sinal de retomada. Em termos de receita, compara a Abimaq, a indústria de máquinas é hoje 50% do que foi em 2013, e uma expansão dessa ordem não reporia a profunda queda dos últimos anos.
Mas o que se seguiu foi o aprofundamento de uma crise política, que atingiu em cheio os prognósticos econômicos, afastando qualquer possibilidade de resultado mais otimista nos diversos setores da produção.
Refazendo os cálculos, a Abimaq estimou uma queda entre 2% e 5% na receita líquida do setor de bens de capital para 2017. O índice não levou em conta a queda acumulada de 5,6% no faturamento geral até julho passado, sinalizando que a receita líquida, na média, ainda precisaria crescer nos meses seguintes para o desempenho da indústria ficar dentro do projetado.
Com a consolidação dos indicadores referentes ao segundo semestre, a entidade retomou o ânimo, pois após meses seguidos de recessão o mês de outubro, por exemplo, apresentou estabilidade nas vendas e um crescimento efetivo na utilização da capacidade instalada que chegou a 74,1%, com crescimento de 0,6% em relação ao mês de setembro de 2017 e 12,9% superior ao mês de outubro de 2016, que era de 65,6%. As exportações de máquinas e equipamentos também apresentaram crescimento de 10,4% em relação a setembro e de 49,5% em relação ao mesmo período do ano anterior. Os dados põem em evidência o direcionamento dos esforços do setor, levando em conta que uma retomada econômica precisa contar com uma ala de fabricantes de bens de capital em condições de atender a demanda de forma competitiva, inclusive para possibilitar a reindustrialização e modernização do parque industrial brasileiro envelhecido por anos de baixo investimento.
A tendência atual segue de estabilidade com oscilações e a entidade prevê um ensaio de retomada para o segundo semestre de 2018, caso o governo mantenha a sinalização sobre a reforma da Previdência. A entidade tem levado para o governo as demandas dos fabricantes de máquinas, entre elas uma repactuação dos débitos da empresa com o Fisco e incentivos para a indústria nacional nas concessões.
A expectativa é de que haja demanda por máquinas e equipamentos a partir do próximo ciclo de investimentos, mas apenas dentro de um prazo superior a um ano e meio. A direção da Abimaq considera ainda que o aproveitamento desse impulso de demanda pela indústria brasileira ou grupos estrangeiros vai depender do câmbio e do acesso a financiamento.
Para a indústria de chocolates, biscoitos e confeitos (confectionery), o desafio continua sendo driblar os custos altos e ainda oferecer diferenciais técnicos e tecnológicos, a fim de garantir flexibilidade e diferencial de produtos, além de alta eficiência, facilidade de limpeza e manutenção. A avaliação é unânime entre representantes locais de máquinas para a indústria de candies, que consideram o cenário menos nebuloso do que há alguns anos.
Para esses formadores de opinião, as empresas estão fazendo a lição de casa e buscando uma retomada. Já houve uma grande expansão nos últimos anos no setor e muitas empresas, inclusive de pequeno e médio porte, reconheceram que tecnologia é um elemento-chave para garantir competitividade, na cena interna e para as exportações.
Consultorias que acompanham diversas dessas empresas – a exemplo da Perpack, Komatec e Brasil RT –, têm notado o avanço graças a investimentos, não apenas em máquinas, mas em tecnologias de produção, métodos de controle e desenvolvimento de produtos, entre outros.
Com a elevação do poder aquisitivo da população em épocas recentes, itens como chocolate meio amargo, balas de gelatina, toffees, wafers ou biscoitos cobertos não deixaram de ser supérfluos, mas ingressaram na lista de compras rotineira também das classes de baixa renda. Em paralelo, os preços desses artigos se tornaram mais atrativos, revelando a disposição das marcas de brigar por todos os perfis de consumidores. A força do mercado interno foi, nesse caso, o propulsor do crescimento do setor de confectionery.
As exportações continuam sendo um desafio para os fabricantes brasileiros, considerando o câmbio pouco favorável, mas principalmente devido ao chamado Custo Brasil – o conjunto de dificuldades estruturais, burocráticas e econômicas que encarecem os investimentos no país.
Segmentos específicos, como o de drageados e candies especiais, têm demonstrado um fôlego maior, com aumentos e projetos de automação, mas em geral, as linhas de chocolates e biscoitos têm sido o foco de investimentos das empresas, que priorizam a ampliação da capacidade. Nesse sentido, ganham destaque os sistemas de drageamento automático; de preparo e refino de coberturas e recheios; sistemas para produção de itens aerados e conjuntos de embalagem automática completos (incluindo automação de embalagem secundária) para chocolates e biscoitos. O objetivo é maximizar a eficiência das linhas de produção, reduzindo perdas e a interferência dos operadores, com a consequente queda nos custos de produção, além de priorizar aspectos como flexibilidade, fácil troca de formatos, maior vida de prateleira (shelf life) e inviolabilidade. Do ponto de vista dos processos, técnicas de produção sustentáveis, que permitam redução de consumo de energia e água marcam o desenvolvimento dos equipamentos em destaque. Automação de processos e sistemas de embalagem são hoje certamente os principais focos de investimento. Projetos que envolvem sistemas de automação de embalagem final (display e caixas) sinalizam crescimento, principalmente em setores como biscoitos, onde há linhas de produção dedicadas e de altos volumes.
Tomando por base o parque atual do setor de confectionery, o número de equipamentos importados ainda é alto, mas as barreiras impostas a eles também têm crescido, favorecendo a indústria nacional, que tende a mitigar as queixas e se equipar com boas equipes de vendas para não perder negócios e ser mais competitiva. A demanda por máquinas e equipamentos cresce, sobretudo, em virtude da acentuada recuperação de utilização da capacidade instalada de algumas empresas, associada à necessidade de outras de modernizarem seus parques para atender à demanda, principalmente na ala de chocolates e de confeitos formulados à base do produto. Diante do novo perfil do
consumidor brasileiro, cada vez mais exigente, aumenta a procura por equipamentos compactos, eficientes e de baixo consumo de energia e custo operacional, equipamentos que são a maioria absoluta em países europeus. Por lá os fornecedores já passaram pelos testes para sobreviver, porque o consumidor prima por qualidade, indo além da atração por embalagem e marca. Além disso, os produtos exibem preços mais baixos que os daqui, apesar da melhora no poder aquisitivo. No Brasil, ainda predominam marcas famosas e campanhas publicitárias agressivas, mas nos últimos tempos os brasileiros passaram a avaliar mais sensorialmente a qualidade dos produtos.
Sustentado pela expansão recente da classe média, o avanço no consumo de confectionery permitiu às empresas do setor eliminar a ociosidade verificada há alguns anos e passou a fazer pressões sobre as capacidades instaladas. Algumas dessas operações, por sinal, vinham trabalhando no limite e sem ociosidade, pedindo urgentemente a ampliação e adequação de equipamentos. Essa acentuada expansão no setor provocou a necessidade de aquisição de novas linhas e, como resultado, a última década foi particularmente favorável aos fabricantes e fornecedores de máquinas para o setor de confectionery.
Fabricar chocolate do grão de cacau à moldagem da massa no Brasil dependia, até algum tempo atrás, de tecnologia e maquinário importados. Essa realidade foi mudando aos poucos. Primeiramente, surgiram os fornecedores de equipamentos para as etapas finais da produção: derretimento, temperagem e moldagem. Mas não demorou para que o passo anterior, de processamento do cacau ao refino e conchagem da massa, fosse também incorporado ao menu da indústria nacional de máquinas. Entre as supridoras brasileiras detentoras do know-how que cobre de ponta a ponta a fabricação de chocolate ganha destaque a JAF Inox que opera desde 2007 em Tambaú (SP) uma planta dedicada a produção de instalações para fabricação de chocolate gourmet. Em 2014, ela foi incorporada ao grupo Duyvis Wiener, grife global de máquinas e sistemas para o setor de chocolate e confectionery.
As atenções no setor de máquinas para confectionery no país também vêm sendo mobilizadas nos últimos anos pelo acordo entre a unidade local da Netzsch e a brasileira Meller, que transferiu para a empresa alemã a operação do sistema ChocoEasy para fabricação de chocolate. Baseada em Pomerode (SC), a subsidiária da Netzsch já fabricava e distribuía o sistema para a América Latina e outros mercados fora do Brasil, passando agora a deter os direitos de produção e comercialização, bem como de assistência e manutenção, também no mercado doméstico. A Meller continua sendo seu braço para instalação e desenvolvimento de tecnologias de processo no segmento de chocolates, componds e recheios.
Confirmando em parte as perspectivas para o setor de bens de capital, a ala de embalagens registra um cenário de retração mais brando. Apesar de apresentar um primeiro trimestre surpreendente, com incremento de 0,55% na produção, o primeiro semestre de 2017 apresentou retração de -0,90%, impactado principalmente pelo resultado negativo do segundo trimestre, reporta a Abre (Associação Brasileira de Embalagem). Embora ainda negativo, o resultado sinaliza um abrandamento do ritmo de queda. No segundo semestre de 2016, a produção se reduziu em 3,53%.
Na esfera econômica, o ano de 2017 tem sido de expectativas modestas. Em setembro de 2016, o crescimento previsto para o PIB de 2017 chegou a 1,36%. Nos meses finais do ano, ocorreu um forte ajuste em sentido descendente. Já no início de 2017, a projeção era de 0,5%, recuando para 0,34% em julho. Este recuo parece ser o reconhecimento de que a turbulência política de maio roubou uma parcela do pouco fôlego da economia.
Ainda que o primeiro semestre tenha trazido mais decepções do que surpresas positivas na economia, com os principais indicadores econômicos (produção industrial, câmbio, juros) trazendo sinais tênues e incompletos de recuperação, o crescimento do nível de atividade segue em curso, podendo indicar um início de saída da recessão, ainda que em ritmo mais lento do que o inicialmente previsto.
Diante desse contexto, a Abre projetou para o segundo semestre de 2017 um crescimento de 0,6% na produção física de embalagens, estimando para o ano de 2017 como um todo uma taxa de variação de -0,1%.
Das cinco classes de materiais pertencentes ao setor, as embalagens de papel/papelão e plástico apresentaram crescimento da produção física de 1,20% e 0,69%, respectivamente, no primeiro semestre de 2017. Já os outros materiais apresentaram retração durante período (ver gráfico à página 28).
A crescente demanda por soluções práticas, fáceis de abrir e fechar e ainda com apelo visual chamativo movimenta o setor de transformação de plásticos. Ele agora precisa também incluir na lista de exigências a preocupação com o descarte pós-consumo – ainda uma das pedras no caminho da ala alimentícia. Em meio a essas discussões, o reduto de embalagens mostra que a categoria ainda tem muito a contribuir.
Com fatia generosa da área alimentícia, o ramo de embalagens flexíveis aposta no avanço tecnológico para desenvolver mais opções e atender às novas demandas, especialmente oriundas da ascensão das classes C e D, que promoveram um salto na economia. Esse incremento no consumo consolidou, por exemplo, o uso de materiais como o polipropileno biorientado (BOPP), material-chave em embalagens de chocolates, biscoitos, confeitos e snacks. Entre o consumidor e os fabricantes de guloseimas, as empresas convertedoras se veem no momento pressionadas a encontrar soluções para quesitos como vida de prateleira (shelf life) adequada e alinhamento com conceitos sustentáveis.
Outra aposta emergente na ala de flexíveis é o poliéster biorientado (BOPET), que sobressai pela alta resistência térmica e mecânica, além de eficiente barreira, sendo requisitado em embalagens do tipo stand-up pouch e também como base de laminação com algum outro polímero para embalar snacks, por exemplo.
Avanços tecnológicos permitiram que o processo de fechamento das embalagens ganhasse em qualidade final, tanto em segurança quanto na facilidade de abertura, a exemplo dos fitilhos que, ao serem puxados, abrem os produto, e das faixas pontilhadas com a mesma função. Em voga na cena atual, aprimoramentos de cunho sustentável têm possibilitado às empresas trabalharem com aditivos ou plásticos biodegradáveis, cada vez mais apontados como melhor alternativa para substituir os tradicionais filmes flexíveis derivados do petróleo.•
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