Páscoa: a parreira das tendências

Causa, Consumo, Tecnologia e Felicidade norteiam os impulsos para compras em 2021
Páscoa: a parreira das tendências

Depois da queda vertiginosa de vendas em 2020, devido à pandemia, o setor de chocolate chega mais forte e preparado para mais uma Páscoa, apesar das restrições de mobilidade. Entender as tendências de consumo e seus reflexos sobre a data em um país ainda sob os efeitos da covid-19 pode contribuir para o desenvolvimento de estratégias para atingir as expectativas da indústria, varejo e consumidores.

A comemoração no ano passado aconteceu no dia 12 de abril, um mês depois de a Organização Mundial da Saúde (OMS) decretar a pandemia. Maior e mais lucrativa data da indústria chocolateira, a Páscoa foi tomada por estabelecimentos fechados, confinamentos, restrições de mobilidade e empresas despreparadas para vendas alternativas. Havia um estoque já pronto que nutria uma expectativa de crescimento entre 5% e 10%, bem superior aos 1,5% registrados em 2019. Diante de tantas incertezas, registrou-se uma queda de 33% nas vendas, segundo levantamento da Boa Vista, divulgado no portal G1 em 13 de abril de 2020.

A queda apontada refletiu diretamente no desempenho do varejo tradicional brasileiro, com vendas concentradas nas grandes redes do autosserviço alimentar, deixando de fora, provavelmente, a totalidade do mercado nacional.

No cenário atual, sobressaem quatro grandes convergências de consumo aplicadas à alimentação, que vêm dominando os mercados globais e devem permanecer por longo período. Obtidas de análises históricas das diversas correntes divulgadas nos mercados nacional e internacional, a partir do ano 2000, as macrotendências Causa, Consumo, Tecnologia e Felicidade estão sempre presentes, explícitas ou não, nos grandes estudos de mercado, a exemplo dos relatórios recentemente divulgados das consultorias Euromonitor International e Innova Market Insights.

Causa e consumo

Nas escolhas alimentares sempre somos movidos por alguma causa, seja emocional, fisiológica, social, nutricional, econômica, política, filosófica, funcional etc. Como exemplos de tendências que podem ser enquadradas em Causa destacam-se a procedência, embalagens sustentáveis, ética, pauta ESG (meio ambiente, social e governança, na sigla em inglês), ancestralidade, sustentabilidade, economia circular e fim do trabalho infantil nas plantações de cacau da África.

A corrente Consumo representa as necessidades pessoais ou de um grupo na aquisição de produtos e serviços, sendo essencialmente uma atividade econômica. Vários desdobramentos podem ser agregados à categoria Consumo por apresentarem, especialmente, relação com demandas e desejos, não necessariamente explícitos, dos consumidores. Estes, por sua vez, desejam permanentemente algo a mais, que pode ser um novo sabor, uma nova experiência, pois sempre haverá uma insatisfação sensorial ou emocional a ser atendida. Exemplos de tendências enquadradas em Consumo, especificamente para a categoria chocolate, incluem o crescimento do mercado asiático; a estabilização das lojas físicas; a evolução e adequação do gosto; demanda não saciada; consumo per capita atrelado ao PIB; outras formas de consumir cacau e chocolate; evolução do Brasil no cenário internacional; crescimento do food service; evolução e adequação do gosto e novas proteínas alternativas (insetos e plantas).

Tecnologia e felicidade

A terceira macrotendência trata da soma dos conhecimentos, técnicas, habilidades, métodos e processos utilizados na cadeia de produção e comercialização de produtos e serviços. Quando comemos uma barra de chocolate, estamos também consumindo processos tecnológicos presentes em todos os elos da cadeia do cacau. Como exemplos de enquadramento na Tecnologia inserem-se o uso de ferramentas tecnológicas na produção, divulgação e comercialização para produtos e serviços; novos formatos de canais de vendas; domesticação das impressoras 3D; internet das coisas (IOT, na sigla em inglês); vendas on-line; mídias sociais e biohachers.

A era moderna começou verdadeiramente com a busca da felicidade. Através das práticas alimentares pode-se experimentar verdadeiros momentos de felicidade, prazer e bem-estar, potencializados pela comida, que na sua composição apresente componentes promotores desse estado de espírito. Cacau e chocolate intenso estão nesta categoria. Como exemplo de tendências associadas à Felicidade sobressaem a diversidade; ritualização dos momentos de consumo; solidariedade e compaixão no posicionamento das marcas e processos de comunicação; comer também é uma diversão; prevenção; naturalidade e saudabilidade.

As tendências apresentadas em um determinado ano não desaparecem no ano seguinte, assim como as de um novo ano não surgem do nada no dia 1º de janeiro. Elas vão formando camadas superpostas, consolidando-se, potencializando-se ou mesmo perdendo força, fazendo parte dos processos sociais dinâmicos, mas que podem ser aceleradas, a depender de uma determinada ação na sociedade. Um exemplo real de aceleração, vivenciada no Brasil a partir de março de 2020, é a influência da covid-19 sobre algumas tendências do mercado nacional e que ganharam ou perderam força com a pandemia

O coronavírus não contribuiu para nenhuma nova tendência alimentar, porém potencializou e acelerou várias que já circulavam e que, provavelmente, teriam um maior tempo até se consolidar. Entre elas, o avanço exponencial das compras on-line; a potencialização do delivery alimentar; a readequação dos espaços da casa; a (re)descoberta do prazer de cozinhar; os alimentos e bebidas que imunizam; o mercado próximo e local; o desejo de uma vida mais simples; um olhar mais atendo para a agenda ESG e a comida à base de plantas (plant based).

Tendências são direcionamentos e devem ser utilizadas com muita cautela, especialmente em momentos de instabilidade, contribuindo para estratégias mais assertivas na direção das expectativas dos consumidores.

A Páscoa de 2021 apresenta todas as condições para ser melhor que a de 2020, com vendas maiores e consumidores desejosos por consumir chocolate. Mantê-los felizes e satisfeitos, mesmo que temporariamente, é a obrigação de todos os fabricantes. Ao deixar o consumidor mais feliz, o negócio passa a ter maior possibilidade de promover a fidelização e impulsionar a imagem da marca.

Os produtos de chocolate são símbolos de Páscoa, modernos e associados a presentes, consequentemente, à ideia de felicidade. É um momento de confraternização e presentear faz parte da identidade humana.


Jumar da Silva Pedreira
Jumar da Silva Pedreira

Dados extraídos de artigo técnico do consultor Jumar da Silva Pedreira. O texto completo pode ser acessado clicando aqui.

Deixe um comentário

Novos Tempos