Exceção global
O consumo fora de casa (out of home/OOH) de comida e bebidas não alcoólicas – inclusas guloseimas doces e aperitivos tipo snacks – cresce em todo o globo. Esse movimento é fortemente influenciado pela busca de comodidade à mesa e pela onda batizada de “food tech”. Tratam-se das facilidades que a tecnologia implementa nos serviços de delivery, que têm alterado o comportamento de compra. Em todo o planeta, o consumo OOH representa 58,5% dos gastos com alimentos e bebidas (alcoólicas e não alcoólicas) e, segundo estudo recente de consumo OOH da Kantar Worldpanel, o aumento deste índice é regra mundial, repassa Giovanna Fischer, diretora de marketing e insights da consultoria. “Há apenas uma exceção: o Brasil”, pontua ela.
Segundo a analista, em nove dos 10 mercados analisados – China, Brasil, França, Indonésia, México, Portugal, Espanha, Tailândia, Reino Unido e Vietnã – as pessoas estão, em menor ou maior medida, deixando de cozinhar em casa para fazer refeições na rua ou pedidas pela tela do celular. Os pedidos fora de casa avançaram 6,7% em Portugal, 5% na Indonésia e 4,6% no Reino Unido. “Aqui no Brasil observa-se o contrário. Apesar de o consumo OOH ainda representar 52% dos gastos com alimentos e bebidas, de 2017 para 2018 este índice caiu 3,4%, ainda que o gasto em cada compra tenha aumentado 2,8%”, indica Giovanna.
O momento atual caracterizado por crise econômica, instabilidade política, aumento de desemprego e endividamento são algumas justificativas para esses números. Nem por isso o brasileiro está atrás nas tendências de comportamento e de uso da tecnologia. A busca por comodidade, praticidade e indulgência à mesa também tem sido regra para os consumidores nacionais. “Se fica difícil equilibrar o orçamento indo a restaurantes e pedindo entrega em estabelecimentos do bairro toda semana, a solução é trazer este cardápio para dentro de casa. E, para isso, é necessário também que a preparação no lar não tome muito tempo e seja uma receita fácil e rápida”, argumenta a consultora.
Um exemplo deste comportamento é o aumento do consumo de categorias indulgentes no lar, como as geralmente pedidas em fast food. O hambúrguer ganhou in home 11% em volume de compra e 13% em valor no período entre 2018 e 2019, especialmente nas classes D/E e com donas de casa mais jovens, de até 34 anos.
Mas se tem um item do qual, mesmo na crise, o brasileiro não abriu mão durante as refeições na rua é o refrigerante. A categoria é a segunda mais promissora entre as bebidas OOH, e perde, claro, apenas para o café. Os refrigerantes avançaram globalmente 4,7% em consumo fora do lar entre 2017 e 2018, capta o estudo da Kantar, e isso se deve principalmente a dois mercados: Brasil e México. Por aqui, o hábito de acompanhar a refeição ou o lanche com um refrigerante segue forte e os gastos nestas ocasiões aumentaram 11%, especialmente nos restaurantes (72%), já que em 84,8% das ocasiões a bebida é compartilhada. “Apesar de estarem consumindo menos fora de casa, os brasileiros fazem escolhas em busca de indulgência”, analisa Giovanna. ■
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