A pegada orgânica
A suposição de que os brasileiros preferem produtos naturais e orgânicos se transformou em constatação. Essa preferência inclui a preocupação com bem-estar e hoje vai além, inserindo posicionamentos sobre questões ambientais. Segundo o estudo “Who Cares, Who Does” (“Quem liga, Quem faz”), da consultoria Kantar Worldpanel, essa atenção ao bem-estar é hoje bastante relevante. Ao fazer compras, 68,8% das pessoas declaram preferir alimentos naturais e 45,5% preferem adquirir produtos orgânicos. Os consumidores que optam por não comprar esses produtos, no entanto, citam o elevado preço como principal motivo.
Quando analisada, essa busca por saudabilidade reflete também quais informações são mais procuradas nos rótulos, uma vez que os teores de açúcar, gordura e sódio se destacam. Quando o assunto é o meio ambiente, nota a pesquisa da Kantar, há uma lacuna entre o comportamento de compra e o desejo por mudanças, fenômeno que o estudo identifica como “green gap” (“lacuna verde”). Apesar de 41,6% das pessoas declararem buscar e ler informações sobre os perigos para a fauna marinha e 37,2%, sobre a poluição na água, poucas pessoas praticam ações para amenizar a situação, já que apenas 5% delas se preocupam com resíduos plásticos e 59% nunca ou raramente levam sacolas ecológicas para suas compras. Mas, ao tentar encontrar os principais responsáveis pela redução do material plástico, 80% das pessoas declaram que o governo, o varejo e a indústria deveriam ser os principais agentes dessa mudança, sendo este número exatamente igual no cenário global. Ainda de acordo com a consultoria, apesar dessas pessoas estarem mais preocupadas com seu bem-estar individual, observa-se que a preocupação com o ambiente ao redor ainda não é tão acentuada. E nesse novo cenário, tudo isso se torna uma grande oportunidade para as empresas defenderem novas causas e investirem em ideias sustentáveis.
Segundo o Instituto Brasil Orgânico (IBO), que promoveu no início de outubro a assembleia de fundação da entidade nacional representativa do movimento orgânico brasileiro, o Brasil é um dos dez maiores exportadores mundiais de alimentos do gênero. Esse mercado movimenta globalmente US$ 90 bilhões anuais e, de acordo com o estudo The Top 10 Consumer Trends, da Euromonitor International, cerca de 80% dos consumidores em todo o mundo querem substituir alimentos convencionais por versões mais nutritivas. Pelas estimativas do IBO, nos últimos cinco anos, o crescimento do setor de alimentos e bebidas saudáveis no Brasil foi, em média, de 12,3% ao ano. Se antes as pessoas preferiam fast food e comidas industrializadas, agora grãos, cereais e snacks de frutas estão mais presentes nas residências. O IBO constata ainda que atualmente existem onze projetos de lei no Congresso Nacional para modificar a Lei de Orgânicos. Por isso, a necessidade da criação de uma entidade nacional para atuar junto ao Poder Legislativo e conduzir com conhecimento de causa a produção orgânica no Brasil. ■
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