Comprometidas com a promoção de estilo de vida saudável, as indústrias brasileiras do setor alimentício, confeitos inclusos, anunciaram no início do ano um plano de redução voluntária de açúcar em alimentos e bebidas. O tema, por sinal, ganha holofotes, com a introdução de um não açúcar, processado pela empresa Amyris e tema de artigo da seção FAST NEWS na presente edição. O plano anunciado objetiva contribuir para a redução do consumo de açúcares pela população, apesar de o maior volume dessa ingestão advir da quantidade que é adicionada no preparo final dos alimentos (56,3%), em casa ou em bares e restaurantes, segundo o IBGE. O açúcar adicionado nos alimentos industrializados responde por 19,2% do total consumido, confirmam estudos feitos com base na última POF/IBGE (Pesquisa de Orçamentos Familiares). Essa redução voluntária está em curso em 23 categorias de alimentos e bebidas. A proposta visa retirar, de forma gradual, em torno de 145 mil toneladas do insumo até 2022. Assinado entre o Ministério da Saúde (MS), a Abia (Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação) e outras entidades setoriais o acordo envolve 68 indústrias, que representam 87% do mercado de alimentos e bebidas do país. Reflexo de tendência mundial, que vem mitigando o uso e consumo desse insumo em todo o planeta, a iniciativa brasileira é também uma pequena contribuição para a crescente concentração no setor açucareiro global. Os grandes grupos que dominam essa atividade não conseguem mais ocupar um espaço que tem encolhido. Mesmo com poucas grandes companhias atuando na comercialização da commodity, os baixos preços intensificaram a onda de concentração também observada em outros segmentos, como grãos. O valor das vendas globais de açúcar recuou 25% na safra internacional 2017/18 em comparação com o ciclo anterior, totalizando cerca de US$ 8,8 bilhões, estima a Organização Internacional do Açúcar, com base nas exportações de açúcar bruto e branco e os preços médios de cada tipo nas bolsas de Nova York e Londres. Os grandes grupos estão abandonando a comercialização de açúcar e estimativas de mercado indicam que as quatro maiores tradings – Alvean (joint venture entre Cargill e Copersucar), RaW (joint venture entre Raízen e Wilmar), Sucden e Cofco – já respondem por mais de 60% do volume movimentado. No início do ano, a Olam, um dos maiores grupos de agronegócios da Ásia, comunicou que as negociações de açúcar seriam encerradas e os operadores poderiam ser realocados para outras commodities. Meses antes, a americana Bunge, terceira maior companhia de agronegócios do planeta, havia repassado seus contratos de açúcar para a asiática Wilmar, que tem a americana ADM como acionista e é sócia da brasileira Raízen na RaW. Para justificar as decisões, Olam e Bunge ressaltam o longo período de preços baixos do açúcar, que comprime os ganhos dos produtores e não oferece a volatilidade que as tradings precisam para garantir margens. Se essa situação persistir, executivos e analistas dizem que a concentração vai continuar.