Um brinde à vida saudável
Festas juninas e Copa do Mundo são eventos que, geralmente, servem de impulsionadores da indústria de bebidas alcoólicas, já que a animação das comemorações tende a estimular esse consumo. No Brasil, no entanto, a categoria enfrenta atualmente alguns desafios. Ao mesmo tempo em que a economia ainda se recupera, os consumidores ficam mais cautelosos em relação ao que comem e bebem. Pesquisa saída do forno da Mintel confirma que os brasileiros estão adotando hábitos alimentares mais saudáveis e evitando ingredientes como glúten e álcool. “O estudo mostra que quatro em cada dez brasileiros (44%) concordam com a afirmação: “limitar o consumo de álcool faz parte da minha rotina de cuidados com a saúde”, repassa Ana Paula Gilsogamo, especialista em Alimentos e Bebidas da Mintel. Na entrevista a seguir, ela detalha esse e outros pontos levantados na pesquisa, sinalizando oportunidades para outras categorias de bebidas e guloseimas, a exemplo de sucos, refrescos, doces e snacks especiais.
DR – O que mais os brasileiros dizem a respeito do consumo de bebidas alcoólicas?
Ana Paula – A pesquisa da Mintel revela que 44% dos entrevistados manifestaram aprovação à limitação do consumo de álcool. Além disso, dois em cada cinco, ou 38% da amostra, dizem: “estou gastando menos com bebidas alcoólicas”. E 31%, ou um terço dos pesquisados, alegam que gostariam de ter mais opções de bebidas alcoólicas prontas para beber misturadas com bebidas sem álcool, como suco de frutas ou refrigerante. O mesmo vale para guloseimas calóricas, reforçando a preferência por doces de baixa caloria e snacks saudáveis.
Investir em bebidas alcoólicas mais saudáveis, com menos calorias e níveis mais baixos de açúcar, glúten e álcool, pode ser uma boa maneira de atrair consumidores interessados em viver um estilo de vida saudável. Na França, por exemplo, uma conhecida marca de cidra lançou uma bebida produzida com 100% de maçãs francesas, sem glúten e sem açúcar. A bebida recebeu a adição de vinho espumante com menos álcool e calorias do que o convencional.
DR – Além de jogos e festas, em quais outros momentos os brasileiros consomem as bebidas alcoólicas?
Ana Paula – A pesquisa também mostra que metade dos brasileiros (50% das entrevistas) normalmente consome bebidas alcoólicas quando relaxa sozinho em casa. Esta é a segunda ocasião de consumo mais mencionada, atrás de “durante eventos sociais em casa”. Mais da metade dos consumidores (58%) diz que tomam bebida alcoólica quando fazem, por exemplo, um churrasco ou uma festa, em seus lares. Entre os que querem relaxar sozinhos em casa, a bebida mais citada é a cerveja internacional, com 68% associando seu consumo à ocasião.
Quando se trata de consumo fora de casa, 37% dos brasileiros que beberam cerveja artesanal fora de casa o fizeram enquanto assistiam a um evento esportivo nos últimos seis meses, porcentagem estatisticamente maior aos 31% que afirmaram ter consumido cerveja nacional na mesma ocasião.
DR – Relaxamento, então, é a palavra-chave desse consumo?
Ana Paula – Marcas internacionais de bebidas alcoólicas em geral, e em especial as cervejas internacionais, poderiam investir em opções com ingredientes e mensagens que promovam e comuniquem o relaxamento. Enquanto isso, aproveitando ao máximo sua atual popularidade, as cervejas artesanais têm a oportunidade de estender sua presença em bares para a Copa do Mundo e, a longo prazo, também explorar outros eventos esportivos. Essa ocasião é também propícia à indústria de aperitivos do tipo snacks, que encontra oportunidade para o desenvolvimento de linhas mais gourmet e/ou especiais para harmonização com as bebidas.
DR – E qual outro critério mais relevante para a escolha dos consumidores?
Ana Paula – Para escolher bebidas, mencionado por 43%, o sabor é o principal fator de consideração para os consumidores. Ao mesmo tempo, um quarto, 24%, dizem que recomendações de amigos ou bartenders desempenham um papel importante na seleção de bebidas alcoólicas. Aliás, esse comportamento é particularmente mais predominante entre os consumidores com idade entre 18 e 24 anos, chegando a 35%.
Preço e marca também são fatores bastante relevantes na compra de bebidas alcoólicas. “Baixo preço” e “marca conhecida” foram citados, respectivamente, por 35% e 32% dos consumidores, estatisticamente empatados como a segunda razão de consumo mais importante.
DR – Quais as conclusões do estudo?
Ana Paula – Há espaço para marcas conhecidas investirem em itens acessíveis, principalmente na expansão de fórmulas e linhas de produtos mais baratos. Tanto de bebidas como de guloseimas. Assim, as empresas evitam que consumidores fiéis migrem para marcas mais baratas. Por outro lado, quando se trata de recomendações que influenciam a escolha, existe a oportunidade de fazer campanhas com bartenders – no caso de drinks alcoólicos – , já que a pesquisa mostra que os consumidores valorizam suas sugestões. Apresentar bartenders conhecidos em campanhas de marketing, com indicação de bebidas e sugestões para as melhores maneiras de consumi-las em diferentes ocasiões, pode ser uma boa oportunidade de investimento.
Os dados são também referência para a movimentação da indústria de confeitos e snacks principalmente nessas ocasiões de consumo, casando linhas de guloseimas com as bebidas preferidas dos consumidores. ■
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