Como já é praxe no comércio e indústria do setor doceiro, o segundo semestre de cada ano, por mais inconsistente que seja o movimento geral, sempre é aguardado com expectativa de melhora. É o caso do presente exercício, conforme captam os radares da Serasa Experian e Abad (Associação Brasileira dos Atacadistas e Distribuidores de Produtos Industrializados). Segundo as entidades, a procura por crédito por parte dos varejistas junto ao atacado – para renegociação de prazos e/ou recomposição de estoques – cresceu 5,5% no primeiro semestre de 2017, em relação ao mesmo período do ano passado. Para se ter uma ideia dessa reação, a demanda das empresas em geral por crédito registrou queda de 4,5% no primeiro semestre de 2017 em comparação ao mesmo período do ano anterior. Na comparação de 2016 com 2015, o setor atacadista enfrentou recuo de 13,8% na demanda de crédito feita pelo varejista brasileiro. Os dados foram apresentados, no início de agosto, no congresso e feira da cadeia de abastecimento, realizado pela Abad, em São Paulo. Diante da retração geral da demanda empresarial por crédito – com vendas e produção estagnadas e consequente diminuição na necessidade de capital de giro para a produção –, os números apurados pelo setor atacadista podem ser comemorados. Eles sinalizam, sobretudo, que a necessidade de abastecimento do varejo, principal cliente do atacado – inclusas as operações especializadas em candies –, está sendo retomada, com expectativa de melhoria no faturamento, volume e rentabilidade dos agentes de distribuição.
Entre as regiões do país, a Centro-Oeste foi a que mais evidenciou essa retomada, com crescimento de 27,4% no primeiro semestre de 2017, em relação ao primeiro semestre de 2016. No Sul, o aumento da demanda foi de 11,1% no mesmo período. O desempenho de ambas as regiões, no entanto, deve ser atribuído em grande parte à atividade agrícola, incrementada nos últimos meses nos estados produtores. Responsável por metade da demanda por crédito dos varejistas junto ao atacado, o Sudeste avançou 1,5% no primeiro semestre de 2017 sobre o mesmo período do ano anterior. No Nordeste, o aumento ficou em 1,4% na comparação semestral. E a região Norte foi a única que manteve o desempenho negativo no primeiro semestre, com 4,8% de retração. Com a queda da inflação, gerando maior poder de compra dos consumidores de baixa renda, o varejo reativou sua demanda junto a seus fornecedores e, consequentemente, possibilitou o pagamento de dívidas em atraso. A inadimplência varejista recuou 7,2% entre janeiro e junho de 2017 em relação a igual período do ano passado. A queda foi mais expressiva que o recuo da inadimplência da economia em geral, de 6,4%. Porém, mesmo com a recuperação da atividade, o cenário de inadimplência continua crítico para os atacadistas. O percentual de empresas do atacado inadimplentes subiu de 14,3%, em junho/2016, para 19,2% em junho/2017. Segundo a Abad, 53,7% do consumo nacional é abastecido diretamente pelo atacado. O setor é termômetro da situação econômica do país e reflete o consumo da população, penalizada no último ano pelo desemprego e pelo processo inflacionário. A restrição do consumo da população, que num momento de crise compra somente o necessário e procura marcas mais baratas, acabou atingindo em cheio o pequeno varejo, com forte impacto na cadeia de abastecimento em geral, ricocheteando nas redes doceiras. •