Em busca de uma saída
2016 foi um ano duro, com o setor de máquinas e equipamentos batendo no fundo do poço, ao registrar queda de 57% em relação a 2012. Por outro lado, as exportações que, historicamente, representam um terço das vendas, caíram em dólares 24,4%, em 2016, na comparação com o mesmo período. E as vendas no mercado interno são, hoje, apenas 40% do que eram há quatro anos. Nesse espaço, foram perdidos cerca de 80.000 empregos diretos e mais 160.000 indiretos, sintetiza a Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq). Segundo a entidade, as incertezas políticas, combinadas com a economia em recessão, têm inviabilizado qualquer decisão de investimento no país. O setor continua sem ver uma luz no fim do túnel e deve registrar seu quarto ano consecutivo de queda no faturamento.
A previsão é a de encerrar 2016 com um recuo entre 18% e 20%, sendo mais provável a variação maior. Trata-se de uma visão menos otimista do que a Abimaq mantinha na virada do semestre, quando, no cenário mais otimista, arriscava uma queda de 7,5%. A nova projeção de redução ainda representa uma melhora no desempenho que o setor reportou no penúltimo trimestre do ano. Os fabricantes de bens de capital mecânicos já acumulam redução de 27,3% no faturamento de janeiro a agosto, totalizando vendas de R$ 45 bilhões.
Para a associação, essa situação pontual do setor não chega a apresentar melhora da crise, mas um freio momentâneo. Para 2017, a entidade trabalha com expectativa de leve alta, mas nada muito acima de 2% a 3%.
A tendência é de estabilidade com oscilações e a entidade prevê um ensaio de retomada para o segundo semestre de 2017, caso o governo seja capaz de levar adiante a Proposta de Emenda à Constituição do teto de gastos (PEC 241) e mantenha a sinalização sobre a reforma da Previdência. A entidade tem levado para o governo as demandas dos fabricantes de máquinas, entre elas uma repactuação dos débitos da empresa com o Fisco e incentivos para a indústria nacional nas concessões.
A expectativa é de que haja demanda por máquinas e equipamentos a partir do próximo ciclo de investimentos, mas apenas dentro de um ano a um ano e meio. A direção da Abimaq considera ainda que o aproveitamento desse impulso de demanda pela indústria brasileira ou grupos estrangeiros vai depender do câmbio e do acesso a financiamento.
No reduto de chocolates, biscoitos e confeitos (confectionery), o desafio continua sendo driblar os custos altos e ainda oferecer novos opcionais técnicos e tecnológicos, a fim de garantir flexibilidade e diferencial de produtos, além de alta eficiência, facilidade de limpeza e manutenção. A avaliação é unânime entre representantes locais de máquinas para a indústria de candies, que consideram o cenário bem menos nebuloso que há alguns anos.
Ao que tudo indica, as empresas estão fazendo a lição de casa e buscando uma retomada. Segundo agentes de máquinas importadas, que ainda predominam no processamento de confectionery, houve uma grande expansão nos últimos anos no setor e muitas empresas, inclusive de pequeno e médio porte, reconheceram que tecnologia é um elemento-chave para garantir competitividade, na cena interna e para as exportações. Consultorias que acompanham diversas dessas empresas, a exemplo da Perpack, Komatec e Brasil RT, têm notado o avanço graças a investimentos, não apenas em máquinas, mas em tecnologias de produção, métodos de controle e desenvolvimento de produtos, entre outros.
Com a elevação do poder aquisitivo da população na última década, itens como chocolate meio amargo, balas de gelatina, toffees, wafers ou biscoitos cobertos deixaram de ser supérfluos e ingressaram na cesta de compras rotineira também das classes de baixa renda. Em paralelo, os preços desses artigos se tornaram mais atrativos, revelando a disposição das marcas de brigar por todos os perfis de consumidores. A força do mercado interno foi, nesse caso, o propulsor do crescimento do setor de confectionery.
As exportações continuam sendo um desafio para os fabricantes brasileiros, considerando o câmbio desfavorável até meados de 2012, mas principalmente devido ao chamado custo Brasil – o conjunto de dificuldades estruturais, burocráticas e econômicas que encarecem os investimentos no país.
Segmentos específicos, como o de drageados e candies especiais, têm demonstrado um fôlego maior, com aumentos e projetos de automação, mas em geral, as linhas de chocolates e biscoitos têm sido o foco de investimentos das empresas, que priorizam a ampliação da capacidade. Nesse sentido, ganham destaque os sistemas de drageamento automático; de preparo e refino de coberturas e recheios; sistemas para produção de itens aerados e conjuntos de embalagem automática completos (incluindo automação de embalagem secundária) para chocolates e biscoitos. O objetivo é maximizar a eficiência das linhas de produção, reduzindo perdas e a interferência dos operadores, com a consequente queda nos custos de produção, além de priorizar aspectos como flexibilidade, fácil troca de formatos, maior vida de prateleira (shelf life) e inviolabilidade. Do ponto de vista dos processos, técnicas de produção sustentáveis, que permitam redução de consumo de energia e água marcam o desenvolvimento dos equipamentos em destaque. Automação de processos e sistemas de embalagem são hoje certamente os principais focos de investimento. Projetos que envolvem sistemas de automação de embalagem final (display e caixas) sinalizam crescimento, principalmente em setores como biscoitos, onde há linhas de produção dedicadas e de altos volumes.
Tomando por base o parque atual da indústria de confectionery, o número de equipamentos importados ainda é alto, mas as barreiras impostas a eles também têm crescido, favorecendo a indústria nacional, que tende a mitigar as queixas e se equipar com boas equipes de vendas para não perder negócios e ser mais competitiva. A demanda por máquinas e equipamentos cresce, sobretudo, em virtude da acentuada recuperação de utilização da capacidade instalada de algumas empresas, associada à necessidade de outras de modernizarem seus parques para atender à demanda, principalmente na ala de chocolates e de confeitos formulados à base do produto. Diante do novo perfil do consumidor brasileiro, cada vez mais exigente, aumenta a procura por equipamentos compactos, eficientes e de baixo consumo de energia e custo operacional, a maioria absoluta em países europeus. Por lá os fornecedores já passaram pelos testes para sobreviver, porque o consumidor prima por qualidade, indo além da atração por embalagem e marca. Além disso, os produtos exibem preços mais baixos que os daqui, apesar da melhora no poder aquisitivo. No Brasil, ainda predominam marcas famosas e campanhas publicitárias agressivas, mas nos últimos tempos os brasileiros passaram a avaliar mais sensorialmente a qualidade dos produtos.
A economia brasileira acomodou sobretudo na última década investimentos que já eram esperados na ala da produção. No setor alimentício, esse capital foi revertido em projetos de fábricas e modernizações de linhas, favorecendo a conclusão de encomendas do setor de máquinas e equipamentos para processamento de chocolates, biscoitos e confeitos (confectionery). Elas foram absorvidas em expansões de capacidade e plantas industriais, a exemplo das fábricas inauguradas no período no Nordeste brasileiro. Fornecedores das empresas do ramo de confectionery observam que essa disposição para aquisição de maquinário e tecnologia deve ser atribuída principalmente ao crédito, à desoneração tributária e à confiança do mercado na permanência da estabilidade econômica.
Dependente de financiamento, a compra de bens de capital tem sido realimentada, por exemplo, pela implantação de programas da Finame, agência de crédito do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), como o PSI BK Novos, com taxas de juros baixas, prazos para pagamento e carência estendidos, facilitando a adesão de pequenas e médias empresas. É esse cenário de facilidades e atração para as indústrias que motivou o desengavetamento de projetos de ampliação e investimentos nos parques. Mas com a estagnação na demanda de guloseimas no país, o quadro atual projeta também um recuo nesse avanço, com a clientela da ala de máquinas com menos pressa de investir em aumentos na produção.
Sustentado pela expansão recente da classe média, o avanço no consumo de confectionery permitiu às empresas do setor eliminar a ociosidade verificada há alguns anos e passou a fazer pressões sobre as capacidades instaladas. Algumas dessas operações, por sinal, vinham trabalhando no limite e sem ociosidade, pedindo urgentemente a ampliação e adequação de equipamentos. Essa acentuada expansão no setor provocou a necessidade de aquisição de novas linhas e, como resultado, a última década foi particularmente favorável aos fabricantes e fornecedores de máquinas para o setor de confectionery. A torcida é para que essa tendência retome o pulso nos próximos exercícios, juntamente com os incentivos do governo.
Fabricar chocolate do grão de cacau à moldagem da massa no Brasil dependia, até algum tempo atrás, de tecnologia e maquinário importados. Essa realidade foi mudando aos poucos. Primeiramente, surgiram os fornecedores de equipamentos para as etapas finais da produção: derretimento, temperagem e moldagem. Mas não demorou para que o passo anterior, de processamento do cacau ao refino e conchagem da massa, fosse também incorporado ao menu da indústria nacional de máquinas. Entre as supridoras brasileiras detentoras do know-how que cobre de ponta a ponta a fabricação de chocolate ganha destaque a JAF Inox que opera desde 2007 em Tambaú (SP) uma planta dedicada a produção de instalações para fabricação de chocolate gourmet. Em 2014, ela foi incorporada ao grupo Duyvis Wiener, grife global de máquinas e sistemas para o setor de chocolate e confectionery.
As atenções no setor de máquinas para confectionery no país também vêm sendo mobilizadas nos últimos anos pelo acordo entre a unidade local da Netzsch e a brasileira Meller, que transferiu para a empresa alemã a operação do sistema ChocoEasy para fabricação de chocolate. Criação da indústria capixaba em parceria com a Netzsch, o sistema era comercializado no país com exclusividade pela Meller. O acordo fechado entre as duas companhias transferiu para a multinacional os direitos totais de fabricação e venda do sistema, que combina as tecnologias de moagem da Netzsch e de conchagem da Meller.
Baseada em Pomerode (SC), a subsidiária da Netzsch já fabricava e distribuía o ChocoEasy para a América Latina e outros mercados fora do Brasil, passando agora a deter os direitos de produção e comercialização, bem como de assistência e manutenção do sistema, também no mercado doméstico. A Meller continua sendo seu braço para instalação e desenvolvimento de tecnologias de processo no segmento de chocolates, componds e recheios.
Corroborando as perspectivas para o setor de máquinas e equipamentos, a ala de embalagens também registra um cenário de retração. O estudo macroeconômico da indústria brasileira de embalagem realizado pelo Ibre (Instituto Brasileiro de Economia)/FGV (Fundação Getúlio Vargas) para a Abre (Associação Brasileira de Embalagem) projeta que, em 2016, o setor deve apresentar um decréscimo de 2,8% na produção física de embalagens devido às dificuldades econômicas do país e contração do PIB. Entretanto, a produção realizada deverá corresponder a R$ 60,5 bilhões devido, principalmente, aos aumentos de custos repassados para os preços.
De acordo com o estudo, o resultado foi influenciado pelo desempenho econômico do país, além de uma retração no consumo das famílias – que recuou 5,8%, entre o quarto trimestre de 2014 e o terceiro de 2015 –, piora no cenário econômico tanto nacional como internacional e as incertezas referentes à crise política do país.
Os plásticos representam a maior participação no valor da produção, correspondente a 40,17% do total, seguido pelo setor de embalagens celulósicas com 33,36% (somados os setores de papelão ondulado com 18,02%, cartolina e papel cartão com 9,78% e papel com 5,56%), metálicas com 17,29%, vidro com 4,84%, madeira com 2,24% e têxteis para embalagens com 2,11%.
Na análise por setor, todos os tipos de embalagens apresentaram retração, sendo que a madeira teve a maior queda (-12,8%), seguida por embalagens de papel/papelão/cartão (-5,6%), metal (-3,7), vidro (-3,3%) e plástico (-3,1%).
Grandes usuários de embalagem, como as indústrias de alimentos, bebidas, fumo, vestuário, calçados, perfumaria, farmacêuticos, produtos de limpeza, cimento, fertilizantes e tintas apresentaram em 2015 retração maior que em 2014. Dados referentes a 2016 ainda estão sendo finalizados.
Em 2015, as exportações diretas do setor de embalagem alcançaram um faturamento de US$ 487,1 milhões, valor que representa uma retração de 6,90% em relação ao ano de 2014. As embalagens plásticas correspondem a 38,54% do total exportado, seguidas pelas metálicas com 33,15% na segunda colocação. Já as embalagens de papel, cartão e papelão ficaram no terceiro lugar, correspondendo a 21,64% do total exportado, seguidas por embalagens de vidro (3,66%) e madeira (3,01%).
Em relação às exportações por segmento, com exceção das embalagens de madeira com um aumento de 0,30% no total exportado, todos os outros segmentos apresentaram queda em comparação com o ano anterior. As embalagens metálicas apresentaram o maior decréscimo, registrando uma retração de 8,94%, seguidas por vidro (-8,84%), plástico (-6,20%) e papel/papelão (-5,49%).
As importações tiveram uma retração de 24,98% em 2015 na comparação com o exercício anterior, movimentando um total US$ 645,3 milhões. O setor de plásticos corresponde a 59,52% do total importado, seguido por embalagens metálicas (15,86%), papel/papelão (12,32%), vidro (12,13%) e madeira (0,16%).
Em relação ao desempenho de importações por segmento, todos apresentaram retração, sendo que as embalagens de vidro apresentaram o maior decréscimo correspondendo a 41,18%, seguidas por embalagens de madeira (-30,35%) e papel/papelão (-26,98%).
No ponto de venda (PDV), o consumidor atento leva cerca de 20 segundos para decidir a compra de um produto, tempo esse necessário para visualizar e tocar a embalagem, sustentam especialistas no tema. Nesse campo, a crescente demanda por soluções práticas, fáceis de abrir e fechar e ainda com apelo visual movimenta o setor de transformação de plásticos. A diferença é que ele agora precisa também incluir na lista de exigências a preocupação com o descarte pós-consumo – ainda uma das pedras no caminho da ala alimentícia. Em meio a essas discussões, o reduto de embalagens mostra que a categoria ainda tem muito a contribuir.
Com fatia generosa da área alimentícia, o ramo de embalagens flexíveis aposta no avanço tecnológico para desenvolver mais opções e atender às novas demandas, especialmente oriundas da ascensão das classes C e D, que promoveram um salto na economia. Esse incremento no consumo consolidou, por exemplo, o uso de materiais como o polipropileno biorientado (BOPP), material-chave em embalagens de chocolates, biscoitos, confeitos e snacks. Entre o consumidor e os fabricantes de guloseimas, as empresas convertedoras se veem no momento pressionadas a encontrar soluções para quesitos como vida de prateleira (shelf life) adequada e alinhamento com conceitos sustentáveis.
Com propriedades de barreira contra gases, oxigênio e umidade, além de rigidez e resistência mecânica, o BOPP continua sendo o rei das gôndolas. Substituto do celofane, o filme tem utilização em várias aplicações, sendo convertido em embalagens flexíveis para impressão de arte pré-definida e laminação com outros substratos. A aposta da indústria é a reinvenção do material, com novos conceitos sendo desenvolvidos a partir de avanços já conquistados como, por exemplo, as variantes de BOPP metalizado (usado em embalagens de snacks) e perolizado (de uso corriqueiro em biscoitos).
Outra aposta emergente na ala de flexíveis é o poliéster biorientado (Bopet), que sobressai pela alta resistência térmica e mecânica, além de eficiente barreira, sendo requisitado em embalagens do tipo stand-up pouch e também como base de laminação com algum outro polímero para embalar snacks, por exemplo. No setor de candies o BOPP é usado largamente em balas, chicles, em pirulitos do tipo plano (flat) e chocolates, enquanto o Bopet é mais eficiente pela barreira de ar na parte exterior e interior das embalagens.
Avanços tecnológicos permitiram que o processo de fechamento das embalagens ganhasse em qualidade final, tanto em segurança quanto na facilidade de abertura, a exemplo dos fitilhos que, ao serem puxados, abrem os produto, e das faixas pontilhadas com a mesma função. Em voga na cena atual, aprimoramentos de cunho sustentável têm possibilitado às empresas trabalharem com aditivos ou plásticos biodegradáveis, cada vez mais apontados como melhor alternativa para substituir os tradicionais filmes flexíveis derivados do petróleo.•
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