Interligação crescente
A distribuição de guloseimas como chocolates, biscoitos e confeitos (confectionery) é uma atividade em permanente evolução. Em linhas gerais, os maiores volumes de itens à base de chocolate, como tabletes e bombons, seguem em grande parte para o chamado canal moderno, formado pelas redes de autosserviço, conveniência e lojas de departamentos. Em contrapartida, as modalidades de candies (balas, caramelos, gomas de mascar) são despejadas maciçamente no balcão atacadista para pulverização no varejo tradicional (bares e padarias). Embora esse modelo ainda predomine no país, a crescente multiplicação de canais e especialização do atacado distribuidor vêm transfigurando a oferta para o setor de confectionery.
No Brasil, a grosso modo, em torno de 60-70% das vendas de balas e confeitos derivados seguem para atacadistas e distribuidores, enquanto os restantes 30-40% são escoados pelas redes de supermercados. No caso de chocolates, biscoitos e snacks a proporção é invertida, com a maior parcela a cargo do autosserviço e uma fatia menos polpuda a cargo dos atacados. Cada vez mais capilarizada, essa estrutura hoje engloba tanto as redes de super e hipermercados, atacarejos (formato misto de atacado e autosserviço) e cadeias de lojas de vizinhança, como pequenos e médios depósitos de doces, mercearias, lojas de conveniência e espaços temáticos, além de bares, cafés, padarias, bonbonnières, bancas de jornal, revistarias e até redes de farmácias e drogarias. Puxada pela tendência das lojas especializadas em chocolate, ainda em ascensão na cena doceira brasileira, fornecedores e atacadistas vêm aderindo ao formato das franquias de lojas temáticas, ligadas a marcas de fabricantes, ou de balcões varejistas especializados em doces. Descontado o desafio de integrar essa diversificada e intrincada teia, a indústria de guloseimas depende como nunca da força de vendas e distribuição. Esse efetivo é vital para abastecer uma parcela do comércio de doces, que exige entrega e atendimento diretos. Essas equipes são necessárias para dar atendimento a pedidos mais pujantes (key accounts), cabendo aos atacadistas e distribuidores a missão de cobrir os balcões de varejo dos mais variados portes.
Apesar das guloseimas doces ganharem cada vez mais espaço na lista de compras do supermercado de grande parte da população, o varejo tradicional ainda figura como principal canal de distribuição do setor. Desdobramento recente dessa modalidade, os pontos de venda (PDVs) especializados, no entanto, vêm tomando as rédeas do giro de confeitos com expansão explosiva em grandes centros urbanos como São Paulo, maior polo de consumo do país. Esse modelo de loja, que viceja principalmente em zonas de grande circulação nos bairros mais centrais, se diferencia pela área de venda de pequenas dimensões (50 a 100 metros quadrados).
De acordo com o Sindicato do Comércio Varejista de Gêneros Alimentícios do Estado de São Paulo (Sincovaga), os PDVs especializados em doces são microempresas (MEs) e/ou microempreendedores individuais (MEIs), que vêm crescendo significativamente, destacando-se as MEIs pela possibilidade de formalização de atividades comerciais exercidas por pessoas físicas de modo informal. Embora não existam dados precisos por categoria de atividade comercial, a figura dos vendedores ambulantes, conhecidos como marreteiros, reforça a lista recente das MEIs no Estado de São Paulo. A melhoria de renda e a inclusão social de importante e significativa parcela da população metropolitana, antes afastada do mercado de consumo, explica o avanço desse segmento. A expressão numérica mais representativa de empresas individuais (MEIs e MEs) hoje atua em todas as regiões de São Paulo, notadamente em pontos de grande movimento de transeuntes, como terminais de passageiros. Esse comerciante tem como fonte abastecedora o atacado do setor, aonde efetiva suas compras, dimensionando-as, inclusive em relação ao período de recebimento de salários.
O Sebrae-SP (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) confirma que essa ala de varejo vem apresentando um surto de crescimento nos últimos anos, especialmente em São Paulo. De acordo com a entidade, isso se deve ao aquecimento da economia, à maior distribuição de renda, à chegada de uma nova classe consumidora, do crédito facilitado e dos incentivos legais para a formalização de empreendedores. Cada negócio tem seu grau de complexidade diferenciado, e deve observar as condições de mercado e de legislação para poder operar com segurança. A simples venda de alimentos em embalagens industrializadas, a exemplo de confeitos doces, requer uma operação diferente da venda de alimentos para consumo no local, que é mais complexa. Embora os trâmites legais para a abertura de pequenos negócios ainda deixem a desejar no país, a burocracia avançou muito nos últimos tempos, originando essa multiplicação de pontos comerciais dos quais o varejinho especializado de candies – a loja de bolacha, no jargão dos distribuidores que operam o modelo de venda porta a porta – é um dos campeões da preferência.
O modelo de negócios para o funcionamento de docerias pode variar, dependendo da estratégia do empresário, do perfil do cliente e do nível de serviço almejado. Inexiste uma única receita de sucesso. É necessário estar atento para as características únicas de uma região ou do tipo de ponto. Para o Sebrae, as lojinhas de doces que proliferam na capital paulista são um fenômeno que, na sua essência, espelha as mudanças no próprio perfil do brasileiro.Uma ampla gama de canais se impõe para acompanhar e atender à dinâmica do próprio setor de distribuição e varejo.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o ritmo de queda do consumo das famílias diminuiu no terceiro trimestre. Esse componente da demanda, no entanto, está longe de retomar o posto de motor da economia. O recuo de 3,4% de julho a setembro, comparado a idêntico período de 2015, foi o sétimo seguido, mas ficou abaixo dos registrados no segundo e no primeiro trimestres, de 4,8% e 5,8%, respectivamente. Quando começou a cair, o consumo das famílias terminou uma sequência de 45 trimestres de alta nesse tipo de comparação – desde o quarto trimestre de 2003. Nos sete trimestres de queda, perdeu 9,8%. Essa redução é explicada pela alta do desemprego, queda da renda, inflação pressionada e crédito escasso e caro, informa o IBGE.
Para a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), o consumo das famílias vem caindo porque o desemprego subiu e os bancos vêm seletivamente promovendo cortes no crédito ao consumidor. Para voltar a ser motor da economia, alega a entidade, o consumo depende dessas linhas e, para o crédito avançar, é preciso restabelecer a confiança.
Empresários do setor de supermercados apostam que a queda no consumo das famílias está chegando ao limite. Sustentam que a parte atribuída ao consumidor já foi feita: ele mudou para marcas mais baratas e fez substituições de produtos.
Assim, as vendas dos supermercados cresceram 1,16% no acumulado do ano, entre janeiro e outubro, reporta a Associação Brasileiras de Supermercado (Abras). O resultado é deflacionado pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Em outubro, as vendas do setor tiveram alta de 4,78%, na comparação com setembro. Em relação ao mesmo mês de 2015, houve alta de 0,71%. Segundo a entidade, as medidas recentes adotadas pelo governo federal levaram à melhora dos indicadores econômicos. Prevaleceu uma estabilidade nas vendas e, no fim do ano, a perspectiva era de que elas continuassem estáveis. Com isso, a previsão é de estabilidade na comercialização do setor para 2017.
O índice Abrasmercado, que calcula o custo da cesta básica, acusa aumento de 0,18% em outubro, passando de R$ 483,80 para R$ 484,67. No acumulado de janeiro a outubro, a cesta apresentou alta de 16,02%.
Pela primeira vez em sua trajetória, o setor atacadista distribuidor não comemorou mais uma vez os resultados positivos, alimentados por sucessivos aumentos no faturamento registrados nos últimos anos. De acordo com a Abad (Associação Brasileira de Atacadistas e Distribuidores), os resultados do segmento em 2015 apontaram crescimento real negativo de -6,8% (+3,5% nominais) em relação ao ano anterior, atingindo faturamento de R$ 218,4 bilhões. Embora negativo, o resultado significa perda inferior à inflação do período, com o atacado de autosserviço apresentando o melhor desempenho, com crescimento nominal de 12,1%. Com esse resultado, os agentes de distribuição responderam por 50,6% da movimentação no segmento mercearil (alimentos e higiene e limpeza).
O modelo de atacado que atende o consumidor final, conhecido como atacarejo, ultrapassou, também pela primeira vez na história do setor, o segmento de supermercados em termos de taxa de participação nas compras dos lares brasileiros, captam as planilhas da Nielsen. O dado indica que, como reflexo da atual crise no consumo, há mais brasileiros frequentando os atacados – com preços em média 15% inferiores aos praticados pelo varejo – do que os supermercados dos mais diversos portes.
Pela varredura da consultoria especializada no varejo, 400 mil brasileiros migraram dos supermercados para os hipermercados, de janeiro a setembro de 2016, e um milhão de consumidores dos hipermercados passaram a frequentar de forma regular os atacarejos. A participação do atacarejo nos domicílios (percentual de lares que compram nessas lojas) passou de 40,9% até setembro de 2015 para 46,4% no mesmo período de 2016, sendo esta a maior alta da pesquisa. A taxa era de 35,5% em 2014. O estudo da Nielsen monitora hábitos de consumo em pouco mais de 8 mil lares brasileiros.
Os supermercados tiveram queda no índice, de 43,6% para 40,5% e, nesse canal de venda, só os minimercados (as pequenas lojas de bairro) tiveram leve alta, de 17,7 % para 18,9%. Em processo de reformulação no Brasil e no mundo, os hipermercados apuraram queda na taxa de penetração nos domicílios de 37,7% para 35,9%. Em 2014, a cifra atingia quase 39%.
Em todas as regiões analisadas, com exceção do Sul do país, a penetração do segmento nos lares aumenta – o destaque principal neste ano foi o região metropolitana do Rio de Janeiro – de 20% para 31% de participação até setembro em relação a 2015. No Sul, caiu de 30% para 28%. Segundo a Nielsen, cresceu o número de domicílios que compram em supermercados e hipermercados e, ao mesmo tempo, no atacarejo – de 76% em 2015 para 78% em setembro de 2016.
A Abaas (Associação Brasileira dos Atacadistas de Autosserviço) prevê expansão entre 13% e 14% no ano para o setor em 2016, em termos de volume vendido. Em valor, a expectativa é de aumento superior a 25%. A Nielsen registra, até setembro, alta de 30,3% nas vendas totais do atacarejo, versus 16,1% no mesmo período de 2015. Segundo a entidade, as bases mais altas de 2016 devem acabar contribuindo para uma expansão menos acelerada em 2017. Trata-se de uma questão basicamente de comparação entre os anos, e não uma interrupção de crescimento, observa a Abaas.
Já a Kantar Worldpanel, que também monitora a ponta do consumo, capta aumento de 31% nas vendas do atacarejo, em valores, de janeiro a junho, versus alta de 20,3% em volume vendido.
Em relação ao formato dos canais de vendas de doces, os distribuidores especializados do setor praticamente baniram o antigo modelo de atacado de balcão, privilegiando de forma agressiva o sistema de autosserviço inspirado nos hipermercados, mais particularmente em seu conceito de exposição de mercadorias por seções. Com o auxílio desse tipo de estrutura, atacadistas doceiros conquistam clientes finais, normalmente famílias com crianças, além de atender o crescente número de autônomos que produzem doces e quitutes caseiros como forma de incrementar o orçamento doméstico. Além de bares, lanchonetes, padarias (com o típico front end de exposição de candies) e cantinas escolares, o atacado especializado tem incorporado à sua lista de clientela variantes de formato misto, como minilojas doceiras e mercadinhos/rotisserias anexos a restaurantes. •
Deixe um comentário
Você precisa fazer o login para publicar um comentário.