O governo do Chile proíbe a venda de Kinder Ovo. O México tributa refrigerantes e busca diminuir o consumo de bebidas açucaradas. No Brasil, alastra-se o veto a refrigerantes, confeitos e snacks na TV e em cantinas escolares e merendas. Projetos de leis pululam no Legislativo para tolher a exposição e demanda de alimentos calóricos para uma população às voltas com indicadores nunca vistos de obesidade infantil e obesidade mórbida.
Não é preciso ser do ramo para deduzir que esse cenário mostra redutos como chocolates, confeitos e biscoitos ultravulneráveis a um fogo cerrado de ameaças à sua imagem institucional e ao futuro de suas vendas. Por tabela, o quadro evidencia extrema urgência para esse setor rever suas estratégias de comunicação e publicidade, além de ter de monitorar com lupa, daqui para a frente, os teores de emocionalismo e populismo nas regulamentações que lhe dizem respeito.
Manda a lógica, portanto, que o acesso direto às análises dessa conjuntura complicada servidas por especialistas da nata do ramo seria recebido de braços abertos pela indústria, certo? Nada disso, como demonstrou a audiência de um evento criado e montado por Doce Revista, a pedido dos organizadores da Fispal 2016: o seminário “Chocolates, candies e biscoitos – Limites e alternativas para a propaganda infantil”, realizado em um dos recintos dessa feira, no Anhembi (SP).
O cardápio das palestras casa como luva com as expectativas de um setor cada vez mais acuado pela pressões mundiais da mídia e saúde pública. Os expositores abordaram questões prementes como a regulamentação da publicidade do ponto de vista da defesa do consumidor, os ajustes das indústrias às normas cada vez mais rigorosas sobre ingredientes considerados nocivos e, no arremate, uma panorâmica sob medida das tendências globais em nutrição e saudabilidade.
Pois a resposta a este manancial de informações vitais para o negócio para um setor que volta e meia se apresenta como sequioso por conhecimentos não foi à altura. Não vai aqui uma crítica, ira ou lamento por essa exibição de indiferença a um seminário concebido justamente para preencher muitas das incógnitas no ar para uma indústria encurralada. O foco aqui é matutar sobre o que há por trás desse alheamento. Quais as interpretações para tão pouco interesse por dados e indicadores decisivos para o setor resistir melhor ao bombardeio, conhecimentos ofertados de mão beijada e que sairiam caríssimos se encomendados a consultorias privadas? Planejamento é besteira? O futuro a Deus pertence? Marketing e comunicação são meras firulas? Cartas para a Redação. •