Um pente-fino recente da Euromonitor International no varejo de confeitos saudáveis capta que, nos últimos cinco anos, as vendas da categoria, que inclui desde itens diet/light a produtos funcionais e especiais (para diabéticos ou consumo restrito de glúten/lactose), saltou de R$ 3,5 bilhões para R$ 5,2 bilhões. Segundo estimativa da consultoria, a demanda continua na ascendente, devendo bater em R$ 6,1 bilhões em 2020, registrando alta de 17,6%. Como previsto, o filão diet/light que foi pioneiro na oferta de itens hoje rotulados como saudáveis abocanha a maior fatia das vendas, saltando de R$ 2,2 bilhões para R$ 3,2 bilhões, entre 2010 e 2015. Já o reduto de confeitos funcionais, com destaque para linhas de candies (balas, pastilhas, gomas de mascar), avançou de R$ 1,2 bilhão para R$ 1,8 bilhão no mesmo período. Entre as novidades no campo da nutrição saudável, os produtos especiais para pacientes diabéticos (zero açúcar, por exemplo) e intolerantes a glúten/lactose, evoluíram de R$ 81,9 milhões para R$ 140,4 milhões, devendo, segundo a consultoria, avançar 36,3% nos próximos cinco anos, fechando com R$191,4 milhões em 2020.
Uma das pioneiras nesse filão, a Lightsweet opera há 26 anos na produção de alimentos que minimizam o consumo de açúcares, carboidratos e gorduras, ostentando ainda no portfólio linhas especiais para a redução ou eliminação de glúten e lactose. “O que fazemos não é indicar ao consumidor a eliminação dos diversos componentes prejudiciais encontrados nos alimentos, mas reduzir o que for possível à sua ingestão. Dessa forma, ele pode ter uma vida mais confortável na medida em que minimiza o stress de consumir ou não esse ou aquele componente”, argumenta Amaury César Cruz Couto, presidente da Lightsweet, detentora das marcas Lowçucar, SóStevia e Magro. Na entrevista a seguir, o empresário que é formado em Engenharia Química pela Universidade Estadual de Maringá (UEM), onde foi docente por 15 anos, analisa a evolução nos hábitos alimentares e a oferta e demanda no mercado de produtos funcionais.
DR – Sendo um dos precursores da fabricação de adoçantes no país, como vê a evolução desse mercado?
Couto – Adoçantes compõem um mercado em constante evolução, porque todos nós precisamos reduzir o consumo de açúcar à base de cana. São vários os estudos que comprovam os malefícios a longo prazo do uso continuo do açúcar. Podemos dizer que, nos últimos 25 anos, após a liberação legal introduzindo os adoçantes na categoria de alimentos, o Brasil teve um crescimento expressivo do uso de adoçantes se igualando a muitos países de alta expressão de consumo.
DR – Cogita-se hoje em dia a mitigação do açúcar nos alimentos. Em quais situações é recomendável o uso da sacarose e dos adoçantes artificiais/naturais?
Couto – Eu penso que não há situações recomendáveis para uso de um ou de outro, exceto é claro no caso de diabetes ou obesidade. Precisamos ter consciência sobre a importância das calorias oferecidas por um ou por outro na carência diária. O açúcar não será substituído, mas teremos que ter um controle maior em seu consumo. A presença dos adoçantes em produtos altamente supérfluos em nosso dia a dia oferece grandes vantagens. Por exemplo, um cafezinho adoçado com açúcar pode ofertar até 24 kcal. Se alguém consumir até dez cafezinhos em um dia terá 240 kcal gratuitas e vazias em seu organismo sem necessidade. Desta forma, o adoçante é recomendado na substituição do açúcar. O mesmo vale para uma dezena de produtos que se consumirmos com açúcar teremos calorias extras e desnecessárias em nosso dia a dia. Eu afirmo sempre que é muito mais fácil cortar calorias do que gastar.
DR – Como analisa o avanço da diabetes e obesidade no Brasil?
Couto – Ambas as doenças se transformaram em uma grande epidemia mundial e dados já comprovam isso. Governos gastam até 5% ou mais do PIB com despesas para tratamento destas doenças. A tendência é assustadora, quando vemos a população cada vez mais sedentária e praticamente consumindo os mesmos alimentos. Nosso corpo não foi feito para ficarmos parados, precisamos nos movimentar para usar toda a nossa estrutura.
DR – Quais as diferenças mais significativas entre os principais adoçantes usados no país?
Couto – Existem dois tipos de adoçantes: o de alta intensidade e os de baixa intensidade de dulçor. A sacarina, cliclamato, stevia, acessulfame, aspartame, neotame e a sucralose são os de alta intensidade, sendo em média até 600 vezes mais doce que o açúcar comum. E o sorbitol, xilitol, maltitol, lactitol, manitol, a frutose e até mesmo a sacarose, entre outros, são os de baixa intensidade de dulçor. Entre os de alta intensidade o destaque é para a stevia, pois é o único 100% natural. A minha opinião como pesquisador, técnico e empresário é que não existe diferenças significativas entre eles, mas sim a forma de suas aplicações. Cada um tem uma característica diferente de sabor que transfere para o produto que estamos consumindo. As indústrias trabalham para minimizar os efeitos destas características em sua fórmula e temos obtido resultados muito bons nos produtos finais.
Quanto aos de baixa intensidade de dulçor, podemos dizer que eles são muito utilizados para formar corpo nos alimentos que os utilizam na fórmula de um produto. O açúcar de cana é o maior exemplo destas aplicações. Temos muito açúcar aplicado, porque ele adoça e ajuda na formação do corpo.
DR – Os confeitos isentos de açúcar no Brasil exibem qualidade satisfatória?
Couto – Sim, podemos dizer que, com a tecnologia disponível hoje, há condiçõs de se desenvolver qualquer fórmula para um produto sem açúcar e com qualidade até mesmo superior ao com açúcar, em todos os sentidos.
DR – Como a conjuntura de recessão, inflação e dólar alto impacta o negócio de adoçantes como um todo no país?
Couto – Todos estamos sentindo muito esse contexto político e econômico. Todas as matérias-primas principais que compõe os nossos produtos são importadas. O Brasil não manufatura em quantidades satisfatórias para a demanda de mercado nenhum desses compostos. O consumidor, mesmo sendo obeso ou diabético, acaba se arriscando a consumir os produtos mais baratos e com açúcar, não observando os malefícios futuros em sua saúde, provocando menor demanda no mercado. Estamos sempre atentos a essa evolução e trabalhando para melhor conscientização do consumidor para o melhor que ele pode ter que é a sua saúde.
Somos o que somos hoje por causa das escolhas que fizemos ontem. O consumidor precisa avaliar sempre as suas escolhas em todos os sentidos, mas destaco a alimentação por motivos quase óbvios, se considerarmos a nossa vida futura. A saúde sempre em primeiro lugar e ela está presente no alimento que comemos e no nosso estilo de vida.
DR – Tendo em vista o prolongamento da crise político-econômica, qual a trajetória prevista para a indústria de adoçantes este ano?
Couto – A palavra é inovação em todos os sentidos. Pensar diferente e fazer diferente. Olhar para o consumidor e avaliar de forma mais profícua as suas carências. Estamos vendo ainda muito espaço no mercado para crescimento, temos possibilidades de projeções melhores se trabalharmos o canal de venda e o consumidor.
DR – Qual é o carro-chefe da Lightsweet?
Couto – É a Stevia. Sou um apaixonado por esse edulcorante porque estudei a fundo por mais de 10 anos em pesquisa quando ainda professor da Universidade Estadual de Maringá. Ele faz a diferença em todos os produtos que desenvolvemos.
Os adoçantes ainda têm um poder de entrada muito grande no consumo de produtos desta categoria. Estamos vendo nascer alguns produtos na área láctea, guloseimas, biscoitos e sobremesas não se esquecendo de alguns com apelos funcionais como barras de cereais.
Neste ano, por exemplo, estamos trabalhando com objetivos de alguns lançamentos na linha de sobremesas, complementando nossa linha de produtos, e da mesma forma pretendemos inaugurar segmentos na área da redução de lactose e sódio nas fórmulas dos produtos. O mercado continua cobrando mais lançamentos. •