Seguindo sua trajetória histórica, o setor de bebidas não alcoólicas esperava crescer acima de 10% no começo de 2015. Mas com a recessão econômica fechou o ano com queda de 3,7 % nas vendas, desaguando 903 milhões de litros, estima a consultoria Nielsen. Em valores, repassa a mesma fonte, o segmento teve crescimento nominal de 3,3%, totalizando R$ 4,9 bilhões. Para 2016, a perspectiva é ainda de queda no volume vendido e, por isso, as marcas reforçam apostas em sucos integrais e funcionais, filão ainda em ascensão, com alta explosiva na demanda. “A retração se dá principalmente no segmento de néctares, pois as linhas de sucos integrais ou funcionais continuam crescendo”, observa Arthur Oliveira, líder de indústria da Nielsen. Néctares são bebidas que têm na composição de 25% a 99% de suco de fruta. Oliveira, no entanto, afirma também que linhas com concentração de suco inferior a 20% igualmente crescem no país, mas por manterem preços mais baixos. O diagnóstico bate com a avaliação de um elo anterior na cadeia de produção dos sucos prontos para beber (SPB) e de refrescos em pó. “Os consumidores estão mudando seus hábitos e procuram por produtos que ofereçam redução de açúcar, menor teor de sódio, apelo natural e valor agregado através da funcionalidade das fibras, vitaminas e minerais”, avalia Joyce Rosalino, gerente de bebidas à base de frutas da Döhler, fonte de insumos para esse segmento. Para ela, as indústrias já estão mudando seus produtos e substituindo aromas e corantes artificiais por naturais, enriquecendo as linhas com ingredientes funcionais simples mas importantes para a saúde e nutrição, além de reduzir o açúcar com aromas que trazem até 30% menos açúcar de maneira natural ou retirando o açúcar completamente da formulação, através da combinação (blends) de edulcorantes.
No último ano, reporta Joyce, o mercado de refrescos em pó acusou alta de 2%, enquanto sucos e néctares registraram 6% de crescimento. “Como a tendência dos produtos naturais, sem adição de açúcar e com qualidade nutricional está em alta, muitos consumidores migraram da categoria de refrescos em pó para sucos e néctares”, observa a executiva.
Dados da Euromonitor International, colhidos na ponta do varejo, dimensionam o avanço de sucos e refrescos no país nos últimos cinco anos. Segundo a consultoria, o segmento de refrescos em pó saltou de R$ 2,772 bilhões em 2010 para R$ 4,664 bilhões em 2015, projetando avanço para R$ 5,461 bilhões em 2020. O filão de SPB, por sua vez, pulou de R$ 4,204 bilhões para R$ 9,350 bilhões, no mesmo período, devendo alcançar R$ 15,048 bilhões daqui a cinco anos (ver quadro na pág. ao lado).
Na esteira dessa evolução, crescem a oferta de ingredientes e serviços prestados pela ala de insumos no país. Joyce observa que o aumento nessa demanda está diretamente relacionado com as vendas do produto final. “Com as altas temperaturas, as pessoas sentem necessidade de se hidratar, consomem mais bebidas e um dos reflexos é o aumento de vendas nas categorias de refrescos e sucos e, em particular, das versões à base de frutas, pelo valor associado a elas de mais saúde e nutrição”, sublinha a gerente. Em 2015, essa elevação na demanda foi significativa, superando a faixa de 10%, durante o período mais quente do ano.
Quanto aos insumos de maior demanda, Joyce detalha que, para refrescos em pó, os mais utilizados geralmente são açúcar, maltodextrina e polpa de fruta desidratada. Mas o consumidor, cada vez mais preocupado com a saúde, busca produtos diferenciados, com aromas e corantes naturais e com redução ou completa eliminação do açúcar adicionado.
Na Vogler, supridora de aromas, corantes e blends de edulcorantes, o gerente de marketing Régis Inácio confirma a tendência de naturalidade e funcionalidade em linhas de bebidas. “Percebemos uma procura por ingredientes mais naturais e, sem dúvida, a busca por redução de açúcar vem em primeiro lugar. Em 2016 essa procura vai se intensificar ainda mais, com a mudança de bebidas não alcoólicas poderem ser híbridas”, assinala o gerente. Ele inclui entre os destaques do portfólio da Vogler a linha de blends de edulcorantes, na qual o substituto de açúcar é adaptado ao perfil de cada produto. Também em alta, os corantes naturais sobressaem na lista dos itens mais recrutados, principalmente os tipos não declarados como corantes mas como ingredientes, uma das grandes inovações para o setor. “Mas a grande tendência é a incorporação de ingredientes que trazem benefícios à saúde, menu esse puxado por fibras, colágenos e carotenóides, entre outros itens funcionais”, frisa Inácio.
Para atender essa demanda, a Döhler oferece um amplo portfólio de ingredientes, aromas e corantes naturais, a exemplo de corantes provenientes de vegetais como a cenoura negra, a tecnologia SRT (Sugar Reduction Technology) – que promove até 30% de redução de açúcar na composição, de forma natural – e o SIT (Sweeteness Improving Technology), que trabalha a mitigação de aftertaste dos edulcorantes, repassa Joyce.
Já para os néctares, os insumos que têm maior impacto são a polpa/suco da fruta, açúcar e ácido cítrico, informa a gerente. Para ela, isso se deve essencialmente à formulação do produto final, pois néctares possuem uma porcentagem de suco e brix (Bx), que são definidos por legislação. Para esse segmento, segue a especialista, a demanda por soluções naturais também não é diferente. Além dos aromas e corantes naturais, os quais são obrigatórios por legislação dentro da categoria, a tendência é de busca da funcionalidade, desde a mais simples como adição de vitaminas e minerais como também o algo a mais. Nesse caso, sobressaem as linhas detox, antiox e imunox, que têm feito diferença nas gôndolas dos supermercados. “A próxima geração, que certamente vai atrair a atenção dos consumidores na área de sucos, são os snack e breakfast drinks para momentos de consumo específicos, como o café da manhã e lanches rápidos entre as refeições”, prevê Joyce. Ela esclarece que tratam-se de produtos 100% suco, sem açúcar e com adição de cereais ou até mesmo pedaços ou células da fruta para uma completa experiência multissensorial.
Na Duas Rodas, outra fonte nacional do setor de insumos, Luiz Fernando Aguiar, analista de marketing de produtos B2B da companhia, destaca que a busca pelo natural é uma forte tendência. “O consumidor não busca mais os residuais trazidos pelos conservantes ou corantes”, observa ele, inserindo que este é um dos grandes desafios no dia a dia da indústria. Além disso, observa ele, quando a referência é um sabor frutal, muito comum na categoria de bebidas, não basta apenas ser característico, mas obrigatoriamente trazer elementos da melhor safra e estado de colheita. “O consumidor quer sabor do melhor morango”, exemplifica.
Outro ponto em concordância com as vozes do mercado é a redução do açúcar, outra forte tendência, percebe Aguiar. Para ele, o filão de SPB ganhou espaço com a associação à alternativa mais saudável ao longo do tempo, vem se sofisticando constantemente e tende a se consolidar cada vez mais. Quanto à categoria de refrescos em pó, o ano passado representou uma boa oportunidade de retomada do crescimento, gerando aperfeiçoamento de itens vinculados às preferências do consumidor, como sabores frutais mais característicos, exploração de novos sabores e combinações, além do desenvolvimento da categoria de chás em pó. “Esses movimentos, antes característicos das bebidas prontas, junto à situação atual do país, garantem uma expansão maior da categoria no mercado”, antevê o executivo. •