As descobertas da ciência e sua aplicação nos alimentos ganham cada vez mais relevância na agenda da indústria. Assim, eventos como a Food Ingredients South América (FiSA 2015), promovida em agosto em São Paulo, desdobram-se em feiras paralelas que reforçam essa conexão. A Health Ingredients South America (HiSA 2015) e a Pharma Ingredients South America trouxeram as tendências mais inovadoras em insumos e ingredientes para a indústria alimentícia, incluso o setor de confeiros (confectionery), sinalizando os contornos das próximas gerações de produtos. Um exemplo conferido na mostra parte da distribuidora Daxia, que apresentou em primeira mão a trehalose, um açúcar natural encontrado em muitos alimentos comuns como cogumelos (8-17%), levedura de panificação (15-20%), camarões, lagosta, mel, soja, águas marinhas, milho e mandioca, reporta Helô Blanco, diretora da empresa. “A trehalose evita a formação de cristais de gelo nos alimentos congelados e também realça o sabor”, sublinha ela.
Com aplicações nos segmentos de biscoitos e snacks, o K-Salt foi outra novidade, introduzida pela francesa Nutrionix e apresentada como o primeiro redutor de sódio com formulação específica para cada matriz alimentar. “Trata-se da primeira linha de redutores de sódio fabricada no Brasil com formulação específica para uma gama ampla de alimentos, que vai de bolos, caldos e temperos a carnes e embutidos, molhos, panificados e biscoitos, incluindo ainda queijos, snacks, sopas e refeições prontas”, informa Jean Marc Secondi, presidente da companhia para América Latina. Desenvolvido com tecnologia exclusiva, o K-Salt é um produto de alta performance com formulação elaborada com cloreto de sódio e sais minerais selecionados, que possibilita a redução de sódio em até 80%, preservando as funções técnicas do sal e as características sensoriais (aroma, sabor, textura e cor) dos produtos industrializados, acrescenta o executivo.
Helô Blanco, da Daxia, detalha que a trehalose, por sua vez, é um dissacarídeo não redutor, formado por duas moléculas de glicose com um grau de doçura aproximadamente de 40% da sacarose. “Além das características já mencionadas, ela retém a umidade, previne a desnaturalização das proteínas, melhora a solubilidade dos minerais, mascara aromas e sabores desagradáveis e previne a retrogradação do amido”,
frisa a especialista, inserindo entre as principais aplicações do insumo os segmentos de panificação, massas, creme confeiteiro, chocolates, balas, caramelos, cárneos, bebidas e suplementos alimentares, entre outros.
Outra inovação mostrada em primeira mão na FiSA/HiSA foi a versão light da cranberry desidratada introduzida pela distribuidora Nova Inglaterra. Com 50% menos açúcar e redução de 25% das calorias, a cranberry desidratada é adoçada com um blend de sucralose e sacarose, contendo três vezes mais fibras, insere John Laurino, proprietário da Nova Inglaterra. A empresa, ele acrescenta, é especializada no fornecimento de ingredientes funcionais e comercializa atualmente um volume médio de 25 toneladas de cranberry ao ano. “A perspectiva é crescer 30% ao longo dos próximos dois anos, pois a cranberry, seja in natura ou como ingrediente em alimentos processados e em receitas caseiras, já faz parte da rotina de consumidores que buscam manter uma alimentação saudável no dia a dia”, assinala Laurino. Para atender a crescente demanda local, conclui, a Nova Inglaterra tem parceria com a Ocean Spray, cooperativa agrícola com mais de 700 produtores da fruta e também de toranja, dos Estados Unidos, Canadá e Chile.
sódio fabricado no
Brasil.
Supridora global em soluções e ingredientes para o setor de confectionery, a Tate & Lyle montou na FiSA/HiSA um laboratório de ensaios ao vivo para auxiliar a clientela a desenvolver e criar itens inovadores. “Propomos alimentos extraordinários, com o uso de ingredientes e soluções exclusivos para reduzir o sódio, adoçar sem adicionar calorias, enriquecer com fibras e agregar benefícios à saúde”, sintetiza Victoria Pagani, gerente de marketing da corporação na América Latina. Os protótipos apresentados, complementa ela, foram cuidadosamente desenvolvidos através dos serviços de aplicação da Tate & Lyle, aptos a ajudar no desenvolvimento de formulações com menos gordura, açúcar, sódio e calorias, além de adicionar fibras, proteínas e desenvolver alimentos sem glúten, melhorando o perfil nutricional sem comprometer o sabor. Entre os pontos altos dessa experiência, Victoria inclui o Strawberry Ice Slush (slush de morango), bebida gelada enriquecida com fibra e sem açúcar; o leite com chocolate reduzido em açúcar e gorduras e rico em fibras e um refrigerante de guaraná rico em fibras. “Também apresentamos um pão de queijo com fibras adicionadas; amendoim e pipoca com redução de 40% de sódio comparado a produtos similares; um queijo cremoso processado com redução de 15% no teor de sódio; e um muffin de chocolate sem glúten”, ilustra. As criações culinárias utilizaram o adoçante de fonte natural Tasteva Stevia Sweetener, a fibra solúvel do milho Promitor, a betaglucana da aveia PromOat Beta Glucan, a Sta-Lite Polidextrose, que oferece 1 kcal por grama; e as microesferas de sal Sodalo, que reduzem o sódio preservando o sabor do sal.
Especialidades inovadoras
Estreante na FiSA/HiSA, a ADM (Archer Daniels Midland Company), blue chip do agronegócio global, apresentou oficialmente aos brasileiros a sua unidade Wild Flavors & Specialty Ingredients. Ela oferece uma série de especialidades inovadoras para a indústria de bebidas, cárneos, snacks, panificação e de cereais, com viés para os segmentos de bem-estar e cuidados pessoais. O portfólio inclui aromas naturais e proteínas (farinhas, concentrados, texturas e proteínas funcionais concentradas e isoladas), além de emulsificadores, acidulantes, polióis e hidrocolóides, entre outros itens especiais. “A Wild Flavors & Specialty Ingredients foi formada no ano passado, com a união da divisão Foods & Wellness da ADM com a operação recém-adquirida da Wild Flavors”, informa Roberto Ciciliano, diretor da unidade para a América do Sul.
Ele complementa que, também em 2014, a ADM anunciou a construção de um complexo de produção de proteínas de soja em Campo Grande (MS), com investimento aproximado de US$ 250 milhões. Primeiro do gênero em toda a América Latina, a instalação, prevista para o segundo semestre de 2016, vai produzir uma série de proteínas funcionais concentradas e isoladas, exibidas na FiSA/HiSA, complementando a produção da ADM nos Estados Unidos.
estreia da unidade Wild Flavors & Specialty Ingredients.
Durante a feira, a empresa mostrou uma série de produtos que contêm fibras e proteínas de soja, aromas, sabores e corantes 100% naturais do portfólio da nova unidade de negócios. Entre os destaques, especialmente direcionados ao setor de candies, Ciciliano pinça uma bala elaborada para o consumo infantil com corante natural e redução de açúcar. Outros exemplos de aplicações degustados no estande, frisa o executivo, incluíram amostras de barras de cereal com alto teor de proteína e fibra, uma paçoca saudável com baixo teor de açúcar e alto teor proteico, chá preto com fibra e suco concentrado de açaí 100% natural, entre outros. “Nosso diferencial está na oferta de uma ampla variedade de proteínas concentradas funcionais, indicadas para diversas aplicações, todas naturais, que agregam valor e competitividade aos produtos dos clientes”, grifa o diretor da ADM. Ele acrescenta que a empresa será a primeira a fabricar proteína de soja concentrada funcional na América Latina, com capacidade para atender grandes volumes, já que a ADM detém toda a cadeia da soja. Entre as tendências de aplicação da proteína de soja ele insere ainda a utilização em produtos para nutrição esportiva, controle de peso e alimentos para idosos e crianças, além do suporte a dietas saudáveis, com menos quantidade de calorias vazias.
Número um global na fabricação e comercialização de gelatina e colágeno hidrolisado, a alemã Gelita convidou os participantes da FiSA/HiSA a experimentar as funcionalidades e a versatilidade da gelatina. “Também apresentamos, em primeira mão, os resultados do mais recente estudo comprobatório da eficácia da suplementação com o colágeno hidrolisado Peptiplus no combate à sarcopenia, mal caracterizado pela perda progressiva de massa muscular em idosos”, relata Eduardo Araújo, gerente de marketing da Gelita brasileira. Envelhecer com saúde, mobilidade e qualidade de vida é o desejo de todos, completa ele, e os peptídeos bioativos de colágeno Verisol são aliados na conquista desse objetivo, pois atuam no combate às rugas e no aumento da elasticidade e da hidratação da pele, ressalta.
A GNT Brasil abriu durante a feira um estudo global conduzido recentemente pelo instituto de pesquisa TNS e a própria GNT, mostrando que o desejo de 60% das pessoas em todo o mundo é que os alimentos sejam livres de cores sintéticas. “No Brasil, essa constatação se aplica a 66% da população”, repassa Mario Slikta, gerente geral da GNT Brasil. Segundo ele, a pesquisa foi conduzida em duas etapas. Na qualitativa, por meio de um fórum online, foram coletadas as opiniões de 175 consumidores de sete países nas Américas, Ásia e Europa. O levantamento prévio serviu de base para o formulário usado na fase quantitativa, que entrevistou em dezembro 5 mil pessoas de 18 a 70 anos em dez países (Alemanha, Brasil, China, Espanha, EUA, França, Grã-Bretanha, Indonésia, Polônia e Tailândia). Com base no estudo, a empresa pioneira no campo de alimentos que conferem cor apresentou sua mais nova coloração concentrada para frutas, legumes e plantas, feita exclusivamente a partir de matérias-primas naturais e comestíveis.
Sob a marca Exberry, a novidade oferece ampla gama de concentrados de frutas e vegetais, ideais para conferir tons de cores brilhantes e vibrantes para quase todas as categorias de alimentos e bebidas, incluindo produtos de confeitaria, refrigerantes, laticínios ou forneados, sublinha Slikta. Enquanto desfrutaram uma bebida colorida com o ingrediente, os visitantes obtiveram uma visão lúdica do mundo dos alimentos que conferem cor, através do jogo GNT A Experiência Exberry, mostrando o processo de produção 100% físico do insumo.
Maior e melhor
Montada em São Paulo de 25 a 27 de agosto, a Food Ingredients South America (FiSA) é considerado o evento mais completo de ingredientes alimentícios da América Latina. Em sua 19.ª edição, atraiu cerca de 13 mil profissionais qualificados, nacionais e internacionais, de 35 países, informa Fernando Alonso, gerente da FiSA 2015. Em paralelo, a UBM, promotora do evento, como já é de praxe armou a Health Ingredients South America (HiSA), com foco exclusivo voltado ao segmento de alimentos funcionais, e a Pharma Ingredients South America, direcionada a insumos para a indústria farmacêutica. “Os visitantes se beneficiaram do acesso à plataforma online Ingredients Network, gratuita 365 dias por ano, por meio da qual é possível encontrar uma base mundial de fornecedores de ingredientes alimentícios”, grifa Alonso. Ele incluiu entre os pontos altos da programação uma visita guiada com passagem pelo espaço New Product Zone, no qual era possível ver os destaques em inovação do próximo ano. Veja os comentários do executivo na entrevista a seguir.
DR – Quais outras novidades destacaria nesta edição da FiSA?
Alonso – Tivemos uma brilhante conferência técnica, sessões gratuitas ministradas pelos expositores em um miniauditório e um espaço onde expositores e visitantes puderam se reunir com compradores e vendedores de seus segmentos em reuniões na área Rodadas de Negócio.
Além disso, anunciamos na feira a incorporação da Innovapack, um evento independente, com foco em design, tendências e inovações para embalagem final. Sua proximidade com a FiSA contribui para o desenvolvimento do produto final, que se estabelece como uma atividade multidisciplinar. As duas feiras acontecerão simultaneamente em 2016, graças a sua grande sinergia.
DR – Em que a conjuntura econômica do Brasil e global afeta a realização da feira?
Alonso – O setor alimentício brasileiro, apesar da atual crise econômica, consegue se manter em crescimento. Isto refletiu positivamente na FiSA 2015. Este ano, ficamos alinhados com as projeções feitas pela empresa. Tivemos novas companhias entrando e o cenário internacional teve um impacto bastante positivo para o progresso do evento.
DR – De que forma a queda geral na produção da indústria e em projetos/investimentos impacta a realização da feira?
Alonso – Crises econômicas atingem todos os setores, mas o setor nacional de alimentos está bem preparado. Só o segmento representado pela Health Ingredients, e pelo setor de alimentos e bebidas com apelo à saúde e ao bem-estar, movimentou quase R$ 80 bilhões no Brasil, no ano passado, de acordo com dados da Euromonitor. Na verdade, este segmento tem crescido há anos: entre 2009 e 2014, o aumento foi de 95,6%, e deve chegar a R$ 108,5 bilhões até 2019.
A cadeia de nutrição esportiva, outro segmento atendido pela Pharma, cresceu 148% em vendas de 2009 a 2014, e deve passar de R$ 1 bilhão em faturamento até 2019. O Brasil é o quarto país em vendas, atrás de Estados Unidos, Austrália e Reino Unido. Além disso, o consumo de vitaminas e suplementos alimentares atingiu
R$ 3,5 bilhões em 2014, um aumento de 69% desde 2009, que fez o Brasil atingir o 10º lugar no mundo.
DR – Quanto deve crescer a FiSA 2015?
Alonso – Não temos o fechamento total. A expectativa não poderia ser melhor. Recepcionamos mais de 13 mil visitantes e um dos principais destaques foi a forte participação internacional. Na última edição, representantes de 35 países estiveram presentes, sendo que 60% deles eram da América Latina. Isso sem falar no público qualificado. Na última edição da FiSA, 86% dos presentes eram executivos com alto poder de influência, sendo que 11% eram da área de marketing e 22% estavam ligadas a pesquisa e desenvolvimento (P&D) em suas empresas. Desta vez, recebemos mais de 700 marcas expositoras de variados segmentos. Com o anúncio do lançamento do Innovapack, deveremos crescer ainda mais com a participação do setor de embalagens, especialmente graças ao caráter inovador do evento, que tratará de design, tendências e inovação.
