Mantendo o pique
Com o PIB estagnado, o setor nacional de bens de capital encerrou o último exercício com queda em torno de 15% no consumo aparente e retração da ordem de 29% no faturamento destinado ao mercado interno (2014 versus 2013), repassa a Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq). Apenas alguns poucos redutos, ligados à agricultura e consumo – inclusas instalações para alimentos e bebidas –, caminharam razoavelmente bem. Segmentos como o de equipamentos pesados nunca atravessaram um momento tão complicado, em função da baixa taxa de investimentos e forte penetração de produtos importados, além de diversos fatores conhecidos que neutralizam a competitividade da indústria nacional, sustenta a associação.
Depois de cravar alta de 16% em março, o faturamento líquido do setor somou R$ 31,35 bilhões no acumulado dos quatro primeiros meses do ano, resultado 4,5% acima do valor do mesmo período de 2014, capta a Abimaq. Segundo a entidade, as exportações do setor caíram 22,9% em abril, na comparação anual, somando US$ 614,29 milhões. Enquanto isso, as importações totalizaram US$ 1,8 bilhão, queda de 17% em um ano. Com isso, o setor teve déficit comercial de US$ 1,2 bilhão em abril e acumula déficit de US$ 4,5 bilhões de janeiro a abril, o que representa uma redução de 17% na comparação com os quatro meses de 2014.
Segundo ainda a Abimaq, o setor operou com uma utilização de 68,2% de sua capacidade instalada em abril, 8,8% abaixo do verificado no mesmo período do ano passado e 1,2% abaixo do registrado em março. Em média, o indicador está em 69,3% em 2015, abaixo dos 75,4% de 2014.
Com esse pano de fundo no mínimo desafiador, dois eventos do setor emplacaram relativo êxito no primeiro semestre: a alemã ProSweets, montada em paralelo à ISM, maior feira de concectionery do mundo; e a Fispal Tecnologia, tradicional palco de negócios e lançamentos das indústrias do setor, este ano em sua 31.ª edição, realizada em junho em São Paulo.
Promovida no início do ano, na cidade alemã de Colônia, a ProSweets foi um banho de loja e atualização no mostruário global de máquinas e processos para o setor de confeitos (confectionery). Ela reuniu aproximadamente 328 expositores de 33 países, que mostraram as mais recentes soluções para produção e embalagem de guloseimas e candies. Entre as grifes que cintilaram na exposição, nomes como Bosch, Haas, Sollich, Netzsch, C&M-OPM e Royal DuyvisWiener exibiram o atual estado da arte na produção de linhas para a fabricação de chocolates e confeitos. Parte dessa exibição, que é termômetro para as projeções de vendas mundiais de candies nos próximos meses, ganhou continuidade no Brasil, com a participação de algumas dessas empresas na Fispal Tecnologia.
Um dos maiores destaques da feira em São Paulo, por sinal, foi a estreia da brasileira JAF Inox integrada à corporação holandesa Royal DuyvisWiener (RDW), potência na cena internacional de máquinas para confeitaria. Referência em linhas para processamento do chamado chocolate gourmet, desde a torra e prensagem do grão de cacau até o refino da massa, a empresa nacional, por sua vez, construiu nome no circuito chocolateiro do Brasil e a fama varou as fronteiras do país. A graduação da empresa como fornecedora de primeira linha, aliás, partiu da grife francesa Chocolat Bonnat que, ao adquirir um conjunto completo JAF Inox para 400 quilos de chocolate por batch, inseriu a marca no circuito de chocolate gourmet mundial. Assim, no ano passado, a empresa se juntou ao grupo RDW, blue chip global em instalações completas para cacau e chocolate. Batido o martelo da fusão com a RDW, a JAF acionou o projeto de nacionalização da linha de moinhos de esferas da Wiener, marca pertecente à Royal Duyvis, para batches de duas toneladas (t)/hora. A avant-première local incluiu a apresentação na Fispal dos moinhos de esfera para cacau, compound ou chocolate já produzidos e montados no Brasil e modelos de moinhos para as linhas Qchoc de produção contínua de chocolate com refino em esfera. O sistema utiliza a conchagem líquida contínua (CLC) ao final, demonstrando que é possível produzir chocolate de qualidade com o sistema de esferas. Os mesmos moinhos são acionados em linhas de compound ou recheio, assim como na moagem de cacau, com pequenas variações de especificação. As linhas Qchoc recebem os ingredientes e, mesmo com diferentes receitas, garantem em processo contínuo a mistura, refino e conchagem com elevado nível de qualidade e padronização, facilitando a operação e manutenção.
Outro destaque da JAF Inox na feira combina a terceira geração de equipamentos para cacau da marca, através do torrador cilíndrico de batelada, com a terceira geração de equipamentos para chocolate, via refinadores de cinco rolos. Segundo a JAF, todos receberam modificações significativas em relação à confiabilidade, componentes aprovados para o mercado americano e europeu, além de alterações de design buscando melhorias na aparência, operação, manutenção e higiene.
A queda na demanda de linhas para chocolate sugerida pela estagnação geral no setor de bens de capital não chegou realmente a se consolidar no caso da JAF Inox. No ano passado, as vendas domésticas alcançaram 68% do faturamento total. Ainda surfando na onda gerada pela sua penetração internacional, a empresa compensou eventuais cancelamentos ou adiamentos de projetos locais com exportações nunca antes registradas. A empresa conseguiu assim driblar a crise local garantindo vendas pelo mundo, incluindo entre os pedidos de linhas completas de chocolate destinos como Provo (Utah) e Washington, nos Estados Unidos; Malásia e Trinidad e Tobago. A empresa também embarcou equipamentos diversos para a Argentina, México, Equador, França, Emirados Árabes Unidos, Venezuela e Holanda. Para 2015, ano em que a previsão é a de inversão na composição do faturamento, a JAF projeta um aumento geral nas vendas de 30%, sendo 70% delas referentes a exportações. Projetos de grande porte ainda em discussão poderão garantir também o atendimento das metas, caso o mercado interno retome os investimentos.
Pequenas produções
Também em evidência na ProSweets 2015 e participação garantida na Fispal Tecnologia, a divisão de confectionery do grupo Netzsch destacou o sistema Chocoeasy de planta completa e compacta para produção de chocolates premium. Além de integrar etapas do processo clássico de fabricação de chocolate, a unidade prevê futuras expansões, graças a sua construção modular, viabilizando o aumento da produção apenas com a adição de uma concha. O sistema apresentado na feira em São Paulo visa pequenas produções, de 50 até 300 quilos, enquanto que os projetos para unidades de produção industrial são comercializados sob a marca Rumba, com capacidade para 750 quilos até seis toneladas.
Além do sistema Chocoeasy, a Netzsch exibiu a tecnologia Masterrefiner, usada no refino de chocolates, compounds e recheios, e o modelo PE 5, versão compacta utilizada para pesquisa e desenvolvimento. Também foram apresentadas as linhas Tango, para produção de liquor de cacau; Salsa, para compounds, recheios e outras massas e Mastercream, especialmente para produção de pastas de avelã, amendoim e reprocessos.
O grupo Netzsch é uma empresa familiar ativa mundialmente, fundada em 1873, com sede na cidade bávara de Selb, na Alemanha. A presença internacional é respaldada por 210 centros de produção e vendas em 35 países em cinco continentes. O grupo se divide em três unidades de negócios ( análise e testes; moagem e dispersão, e bombas) e mantém fábrica desde 1973 na cidade de Pomerode, em Santa Catarina. Recentemente, a unidade de moagem e dispersão inaugurou parque fabril em uma área de 9.500 metros quadrados, cuja estrutura conta com moderna planta e um centro de pesquisa de 1.500 metros quadrados para suporte aos clientes no desenvolvimento dos produtos e definição de equipamentos de produção mais adequados. •
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