Promovida no início do ano, na cidade alemã de Colônia, a ProSweets foi um banho de loja e atualização no mostruário global de máquinas e processos para o setor de confeitos (confectionery). Montada paralelamente à feira ISM, maior vitrine e balcão mundial da indústria de doces e biscoitos, ela reuniu aproximadamente 328 expositores de 33 países, que mostraram as mais recentes soluções para produção e embalagem de guloseimas e candies. Entre as grifes que cintilaram na exposição, nomes como Bosch, Haas, Sollich, Netzsch, C&M-OPM e Royal DuyvisWiener exibiram o atual estado da arte na produção de linhas para a fabricação de chocolates e confeitos. Parte dessa exibição, que é termômetro para as projeções de vendas mundiais de candies nos próximos anos, ganha continuidade no Brasil, com a participação de algumas dessas empresas na Fispal Tecnologia, principal evento do setor de máquinas e embalagens para alimentos e bebidas.
Promovida de 23 a 26 de junho em São Paulo, a mostra alcança a sua 31.ª edição imersa em um cenário desafiador. Sob um PIB estagnado, o setor nacional de bens de capital encerrou o último exercício com queda em torno de 15% no consumo aparente e retração da ordem de 29% no faturamento destinado ao mercado interno (2014 versus 2013), repassa a Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq). Apenas alguns poucos redutos, ligados à agricultura e consumo – inclusas instalações para alimentos e bebidas –, caminharam razoavelmente bem. Segmentos como o de equipamentos pesados nunca atravessaram um momento tão complicado, em função da baixa taxa de investimentos e forte penetração de produtos importados, além de diversos fatores conhecidos que neutralizam a competitividade da indústria nacional, sustenta a associação.
Depois de cravar alta de 16% em março, o faturamento líquido do setor somou R$ 31,35 bilhões no acumulado dos quatro primeiros meses do ano, resultado 4,5% acima do valor do mesmo período de 2014, capta a Abimaq. Segundo a entidade, as exportações do setor caíram 22,9% em abril, na comparação anual, somando US$ 614,29 milhões. Enquanto isso, as importações totalizaram US$ 1,8 bilhão, queda de 17% em um ano. Com isso, o setor teve déficit comercial de US$ 1,2 bilhão em abril e acumula saldo negativo de US$ 4,5 bilhões de janeiro a abril, o que representa uma redução de 17% na comparação com os quatro meses de 2014. Segundo ainda a Abimaq, o setor operou com uma utilização de 68,2% de sua capacidade instalada em abril, 8,8% abaixo do verificado no mesmo período do ano passado e 1,2% abaixo do registrado em março. Em média, o indicador está em 69,3% em 2015, abaixo dos 75,4% de 2014.
Embora coincida com um período conturbado para investimentos, a Fispal Tecnologia é um tradicional palco de negócios e lançamentos das indústrias do setor e tem confirmado, a cada edição, que a ala nacional de alimentos e bebidas vem se renovando para atender os novos e variados perfis de consumo, observa Clélia Iwaki, diretora da mostra, organizada pelo grupo BTS Informa. Segundo ela, a conjuntura econômica menos favorável pode ou não impactar nos resultados da feira, pois cada empresa tem uma estratégia para manter sua participação no mercado. “Mas os profissionais do setor e as empresas expositoras reconhecem a Fispal Tecnologia como um importante canal de networking e costura de contratos. Prova disso é a presença de grandes marcas e de novas empresas que entram a cada edição para ampliar os contatos com compradores e fornecedores do setor”, analisa ela.
Cenário de expectativas
Quanto ao impacto do desempenho claudicante da indústria nacional de máquinas, a diretora argumenta que o evento acontece em um cenário de grandes expectativas e pleitos junto ao governo. Independentemente do momento econômico e político, observa ela, toda feira tem a função de gerar networking, estimular negócios e mostrar novas tecnologias e oportunidades para gerar crescimento nas empresas. “Para produzir com mais qualidade, em menor tempo e com redução de custos, os fabricantes e fornecedores vêm checar as soluções em máquinas, equipamentos e serviços justamente na Fispal”, considera a executiva.
Para Clélia, tanto a Fispal como o mercado de feiras em geral tende a preservar o seu tamanho. Ela ressalta, porém, que novos expositores buscam a mostra para estreitar contatos com o setor e elevar assim as chances de negócios, mesmo em um cenário econômico instável, reforçando a importância da Fispal como um vetor de oportunidades. Entre os segmentos que cresceram na montagem deste ano em relação ao ano passado ela insere a participação de fabricantes de sopradoras (de embalagens plásticas) e a indústria de robótica. “Vale como termômetro da movimentação na indústria de bebidas e da oferta de automação para revitalização dos parques industriais”, sublinha ela.
Quanto a novidades no campo da organização, Clélia indica que o acesso dos visitantes à feira será feito por dois portões, otimizando o fluxo nas áreas externa e interna. “Além disso, apresentaremos ao público esse ano uma nova distribuição de planta no Pavilhão do Anhembi, melhorando ainda mais a experiência do visitante e a maximização de resultados do expositor”, informa. Da programação de atrações e atividades simultâneas, o destaque vai para as sessões de palestras técnicas sobre inovações, pesquisas e tendências para diversos segmentos da indústria, realizadas no auditório Espaço do Conhecimento, sob organização do Ital (Instituto de Tecnologia de Alimentos), Senai-SP (Serviço de Aprendizado Industrial) e da Universidade de Campinas (Unicamp), com o patrocínio da TetraPak. Outra novidade é o Show Room Ingredientes, com exposição de vitrines de tendências em ingredientes para os profissionias da indústria. Participam dessa mostra fornecedores de matérias-primas e ingredientes, como DSM, Gelita, Nexira Saborama, Tovani Benzaquen e Vogler.
“Além dessas iniciativas, criamos o Lounge Premium, espaço onde o convidado Vip do expositor recebe um tratamento diferenciado, como entrada ao Anhembi por meio de estacionamento exclusivo, entre outros benefícios”, complementa Clélia. Entre os destaques de abertura da Fispal, ela anuncia a apresentação do projeto Brasil Processed Food 2020 – A Importância da Comunicação Direcionada ao Consumidor, coordenado pelo Ital, com apoio da Abia (Associação Brasileira das Indústrias de Alimentos) e da Abir (Associação Brasileira das Indústrias de Refrigerantes e Bebidas Não Alcoólicas). “Vamos promover um amplo debate entre os profissionais do setor, executivos das principais indústrias de alimentos e bebidas, imprensa, além de representantes de entidades e universidades, com representantes das áreas empresarial, de ciência e tecnologia (C&T) e comunicação, sobre o tema Mitos e Preconceitos na Comunicação e Promoção de Alimentos Processados”, relata a diretora. Tema âncora da plenária de abertura da Fispal, o projeto Brasil Processed Food 2020 se propõe a estimular o debate apoiado na pesquisa A Importância dos Alimentos Processados para a Sociedade Brasileira, realizada pelo Ital e dividida em três partes: Ciência e Tecnologia, Mercado e Consumo.
Segmentação crescente
Com 31 anos de trajetória, a marca Fispal aposta cada vez mais na segmentação, comenta Clélia. Por isso, acrescenta ela, a feira se dividiu em 2006 e hoje integra o complexo de eventos que reúne a Fispal Tecnologia, de processos, embalagens e logística para as indústrias de alimentos e bebidas; a Fispal Food Service, de produtos e serviços para a alimentação fora do lar; a Fispal Sorvetes, de tecnologia para a indústria de sorveteria profissional e a Fispal Café, de negócios para o setor cafeeiro. “Além disso, o portfólio comporta ainda as versões regionais da Fispal Food Service e Fispal Tecnologia, que acontecem em Recife (PE), com o objetivo de atender os empreendedores do Norte e Nordeste do país”, grifa a diretora.
Outra faceta destacada pela executiva na montagem é o espaço crescente para micro, pequenas e médias empresas. Segundo Clélia, esses empreendedores sempre participaram da Fispal. Inicialmente tinham o objetivo de simplesmente se mostrar para o mercado. “Hoje em dia, além da oportunidade de estar em um feira que é referência do setor com investimento subsidiado pela promotora, eles ocupam um dos pontos de maior destaque e que já se tornou uma marca e tradição na Fispal”, frisa.
Neste ano, os pavilhões internacionais serão representados por 12 países (Alemanha, Argentina, Áustria, China, Espanha, Estados Unidos, França, Índia, Itália, Reino Unido, Taiwan e Turquia). Os destaques vão para empresas da França (Adepta) e dos Estados Unidos (PMMI). Em parceria com a Think Plastic Brazil, o grupo BTS Informa promove durante a feira uma rodada de negócios para fomentar o investimento de capital estrangeiro direto para o Brasil. “A meta é trazer compradores latino-americanos, com a participação dos associados do Instituto Nacional do Plástico e expositores da feira”, repassa Clélia, informando que as rodadas acontecem no dia 23 de junho. Os visitantes e expositores da Fispal Tecnologia também poderão eleger as melhores embalagens criadas no Brasil, através do Voto Popular, categoria que faz parte da 15ª edição do Prêmio Abre da Embalagem Brasileira, da Associação Brasileira de Embalagem (Abre).
Tecnologia de esferas
Fechando o foco no setor de confectionery, um dos maiores destaques previstos para essa Fispal é a estreia da brasileira JAF Inox integrada à corporação holandesa Royal DuyvisWiener (RDW), potência na cena internacional de máquinas para confeitaria. Referência em linhas para processamento do chamado chocolate gourmet, desde a torra e prensagem do grão de cacau até o refino da massa, a empresa nacional, por sua vez, construiu nome no circuito chocolateiro do Brasil e a fama varou as fronteiras do país. A graduação da empresa como fornecedora de primeira linha, aliás, partiu da grife francesa Chocolat Bonnat que, ao adquirir um conjunto completo JAF Inox para 400 quilos de chocolate por batch, inseriu a marca no circuito de chocolate gourmet mundial. Assim, no ano passado, a empresa se juntou ao grupo RDW, blue chip global em instalações completas para cacau e chocolate. “Atraímos interesse do público principalmente pela exposição da nossa linha bean to bar compacta de 500 quilos/hora”, repassa Adriano Sartori Pedroso, diretor da indústria sediada em Tambaú (SP). Assim que foi batido o martelo da fusão com a RDW, acrescenta ele, a JAF acionou o projeto de nacionalização da linha de moinhos de esferas da Wiener, marca pertecente à Royal Duyvis, para batches de duas toneladas (t)/hora. “Já estamos produzindo os equipamentos dessa série e da fusão com a RDW no país para mostra na Fispal”, informa Pedroso.
A avant-première local prevê a apresentação dos moinhos de esfera para cacau, compound ou chocolate já produzidos e montados no Brasil. Segundo Pedroso, os modelos de moinho são base para as linhas Qchoc de produção contínua de chocolate com refino em esfera. “O sistema utiliza a conchagem líquida contínua (CLC) ao final, demonstrando claramente que é possível produzir chocolate de qualidade com o sistema de esferas”, assinala o diretor. Os mesmos moinhos, acrescenta ele, são acionados em linhas de compound ou recheio, assim como na moagem de cacau, com pequenas variações de especificação. Pedroso detalha que as linhas Qchoc recebem os ingredientes e, mesmo com diferentes receitas, garantem em processo contínuo a mistura, refino e conchagem com elevado nível de qualidade e padronização, facilitando a operação e manutenção.
Outro destaque da JAF Inox na feira combina a terceira geração de equipamentos para cacau da marca, através do torrador cilíndrico de batelada, com a terceira geração de equipamentos para chocolate, através dos refinadores de cinco rolos, repassa Pedroso. “Todos receberam modificações significativas em relação à confiabilidade, componentes aprovados para o mercado americano e europeu, além de alterações de design buscando melhorias na aparência, operação, manutenção e higiene”, sintetiza o industrial.
Para Pedroso, a queda na demanda de linhas para chocolate sugerida pela estagnação geral no setor de bens de capital não chegou realmente a se consolidar no caso da JAF Inox. No ano passado, as vendas domésticas alcançaram 68% do faturamento total. Ainda surfando na onda gerada pela sua penetração internacional, a empresa compensou eventuais cancelamentos ou adiamentos de projetos locais com exportações nunca antes registradas. “Conseguimos driblar a crise local garantindo vendas pelo mundo”, resume o diretor da JAF, incluindo entre os pedidos de linhas completas de chocolate destinos como Provo (Utah) e Washington, nos Estados Unidos; Malásia e Trinidad e Tobago. A empresa também embarcou equipamentos diversos para a Argentina, México, Equador, França, Emirados Árabes Unidos, Venezuela e Holanda. “Para 2015, ano em que a previsão é a de inversão na composição do faturamento, projetamos um aumento geral nas vendas de 30%, sendo 70% delas referentes a exportações“, assinala Pedroso. Para ele, projetos de grande porte ainda em discussão poderão garantir também o atendimento das metas, caso o mercado interno retome os investimentos.
Pequenas produções
Também em evidência na ProSweets 2015 e participação garantida na Fispal Tecnologia, a divisão de confectionery do grupo Netzsch destaca em seu espaço o sistema Chocoeasy de planta completa e compacta para produção de chocolates premium. Além de integrar etapas do processo clássico de fabricação de chocolate, a unidade prevê futuras expansões, graças a sua construção modular, viabilizando o aumento da produção apenas com a adição de uma concha, esclarece Rafael Ferreira, gerente de vendas da Netzsch brasileira. “O sistema à mostra na Fispal visa pequenas produções, de 50 até 300 quilos, enquanto que os projetos para unidades de produção industrial são comercializados sob a marca Rumba, com capacidade para 750 quilos até seis toneladas”, complementa Fereira. Ele informa que, além do sistema Chocoeasy, a Netzsch exibe a tecnologia Masterrefiner, usada no refino de chocolates, compounds e recheios, além do modelo PE 5, versão compacta utilizada para pesquisa e desenvolvimento. Também serão apresentadas as linhas Tango, para produção de liquor de cacau; Salsa, para compounds, recheios e outras massas e Mastercream, especialmente para produção de pastas de avelã, amendoim e reprocessos. “A equipe da companhia permanecerá a postos para informações adicionais referentes a outros equipamentos e demais aplicações alimentícias, como grãos, sementes, corantes, açúcar, cremes e corantes”, sublinha Ferreira.
Ele informa que o grupo Netzsch é uma empresa familiar ativa mundialmente, fundada em 1873, com sede na cidade bávara de Selb, na Alemanha. A presença internacional é respaldada por 210 centros de produção e vendas em 35 países em cinco continentes. O grupo se divide em três unidades de negócios (análise e testes; moagem e dispersão, e bombas) e mantém fábrica desde 1973 na cidade de Pomerode, em Santa Catarina. Recentemente, a unidade de moagem e dispersão inaugurou parque fabril em uma área de 9.500 metros quadrados, cuja estrutura conta com moderna planta e um centro de pesquisa de 1.500 metros quadrados para suporte aos clientes no desenvolvimento dos produtos e definição de equipamentos de produção mais adequados.
Representante do segmento de envase, a corporação Sig Combibloc leva à Fispal Tecnologia suas principais novidades em embalagens cartonadas assépticas para alimentos e bebidas. O destaque vai para a tecnologia Drinksplus que permite o envase de produtos com até 10% de pedaços de frutas, vegetais ou cereais, como flocos de coco e nozes. “Os pedaços podem ter até seis milímetros de comprimento e largura, fazendo com que a tecnologia possibilite o desenvolvimento de novos conceitos de produtos”, observa Luciana Galvão, gerente de marketing da SIG Combibloc para a América do Sul. Ela detalha que esses conceitos se alinham com as principais tendências do mercado de bebidas, conciliando de um lado, a busca dos consumidores por alimentos saudáveis e, de outro, o desejo de novas experiências sensoriais, interessantes e diferentes. “Pedaços naturais de frutas, vegetais e cereais são valiosos para uma dieta balanceada, além de serem percebidos pelos consumidores como especiais por sua consistência única”, explica Luciana.•