BRASIL 201819º ANUÁRIO BRASILEIRO DO SETOR DE CHOCOLATES, CANDIES E BISCOITOSNº 268 Nov/Dez 201804BRASILUM SOPRO DE RETOMADAApostando no fim da retração, o setor de confectionery começa a sentir o pulso da demanda18MATÉRIAS-PRIMASCELEIRO GLOBALInvestimentos na agroindústria conferem disponibilidade de insumos e competitividade ao setor de confeitos22 MÁQUINAS/EMBALAGENSMOTOR DE ARRANQUEMesmo lenta, retomada da atividade econômica espalha otimismo nos setores de base30DISTRIBUIÇÃO/VAREJO ASCENSÃO MULTICANALA evolução do varejo mobiliza cada vez mais a especialização nos canais de fornecimento do setor de candiesSUMÁRIODiretores Beatriz de Mello Helman Hélio HelmanREDAÇÃO Editor Fabio Fujii Diretor de Arte Samuel FelixPublicidade Antonio Canela BarretoADMINISTRAÇÃO Diretora Beatriz de Mello HelmanAssinatura Keli OyanCapa Samuel felix19º ANUÁRIO BRASILEIRO DO SETOR DE CHOCOLATES, CANDIES E BISCOITOSNOVEMBRO/DEZEMBRO 2018 – Nº 268 - ANO XXXIIDOCE REVISTA é uma publicação da Editora Definição Ltda. (CNPJ 60.893.617/0001-05) dirigi-da ao setor doceiro e a suas redes de atacadistas, distribuidores, varejistas e supermercados. Redação, administração e publicidade: rua Sergipe, 305, casa 5São Paulo-SP - CEP 01243-001 Telefone: (11) 3666.8301 E-mail: definicao@definicao.com.brCIRCULAÇÃO: JANEIRO 2019www.docerevista.com.br32/ Doce Revista4BRASILA persistente instabilidade econômica do país acabou impactando a trajetória de crescimento da indús-tria brasileira de chocolates, biscoitos e confeitos (confectionery). Apesar das medidas de praxe para segurar produção e vendas, o setor precisou redimensionar a oferta à demanda diante de uma desace-leração cada vez mais acentuada. Com PIB (Produto Interno Bruto) praticamente estagnado, o desempenho do setor nacional de confectionery refletiu previsões de estabilidade com viés de baixa. Nichos de mercado, no entanto, alcançaram alguma projeção, a exemplo dos segmentos de chocolates, biscoitos e candies especiais, de apelo indulgente ou funcionais, de maior valor e preço final, desdobrados de macrotendências globais de nutrição e alimentos. O consumo decorrente do fortalecimento no poder aquisitivo, fruto de uma política eco-nômica implementada e mantida por duas décadas, continuou sendo o principal combustível da demanda de chocolates e candies até se exaurir com a recessão. Com produção e vendas declinantes em 2014 e 2015, o setor de confectionery não conseguiu estabilizar a demanda geral nos exercícios seguintes, consolidando a queda com índices baixos nos últimos cinco anos. Um sopro favorável bafejou os últimos dois semestres, com variação po-sitiva na produção e consumo aparente de chocolates e candies, confirmam dados preliminares da Associação Brasileira da Indústria de Chocolate, Cacau, Amendoim, Balas e Derivados (Abicab), ainda em processo de consolidação. Um sopro de retomadaAPOSTANDO NO FIM DA RETRAÇÃO, O SETOR DE CONFECTIONERY COMEÇA A SENTIR O PULSO DA DEMANDA NOTA: CIFRAS EM DÓLARES DEVEM SER VERTIDAS PARA COTAÇÃO MÉDIA DE R$ 3,60 POR DÓLAR VIGENTE EM 2018.519º Anuário Brasileiro do Setor de Chocolates, Candies e BiscoitosA melhora na renda e o fortalecimento de classes sociais emergentes, ao longo das últimas duas décadas, revitalizaram a atividade do setor de confectionery, estagnada durante os anos 1970 e 80 no Brasil. Com isso, um vasto contingente de con-sumidores ingressou no mercado e o salto dessa demanda re-vitalizou as perspectivas de crescimento do setor. Em paralelo, mudanças nos hábitos de consumo – de um lado mais indul-gente e, de outro, interessado em saudabilidade e sustentabilida-de – foram realinhadas a um perfil que passou a predominar no cenário doméstico. Além de uma renovação em todas as frentes de guloseimas, a formação desse público determinou o freio na estagnação verificada em períodos anteriores. Detentora de fatia em torno de 9% do PIB nacional, a in-dústria de alimentos em geral (incluso bebidas) não passou in-cólume por uma das piores recessões da história do país. Ainda assim, fechou 2017 com receita da ordem de R$ 642,6 bilhões, cravando crescimento nominal de 4,6% em relação a 2016, capta a Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação (Abia). Segundo a entidade, a produção do setor registrou alta de 1,3%, com melhora em relação a 2016, quando houve recuo de -1,0% no índice. As vendas também foram reabilitadoras, com avanço de 1,4%, ante a queda de -0,6% no período anterior. Já as exportações do setor diminuíram 2,5% em 2017, para R$ 124,1 bilhões; e a participação do setor de alimentos e bebidas no total dos embarques ficou em 17,9%.Depois de dois anos consecutivos de quedas na produção, vendas e investimentos, as indústrias de alimentação previam uma retomada do crescimento no início de 2017. Essa expecta-tiva levava em conta a previsão de crescimento da safra de grãos em relação ao ano anterior, a inflação mais baixa, a perspectiva de estabilização no nível de desemprego e de melhora geral na economia, com a aprovação de reformas pelo governo. Com base nesse quadro, a Abia projetou para 2017 uma retomada que confirmou os prognósticos iniciais para a pro-dução de alimentos. Houve, nesse período, uma migração do consumo de fora para dentro dos lares e, à medida que se con-solidar alguma recuperação na economia, a expectativa é a de que o food service volte a crescer de forma mais acelerada que o varejo alimentar.Menor em volume e mais encorpado em valor, o consu-mo brasileiro de chocolate segue ainda consistente e hoje se desdobra em várias frentes. Além de sinônimo de indulgência, continua sendo um dos últimos itens da lista de supérfluos a ser cortado na crise, pelo relativo baixo desembolso diante da recompensa que proporciona. Por uma singularidade brasileira, transformou-se em alternativa ao desemprego, com uma parcela de consumidores aderindo à produção artesanal para comple-mentar a renda doméstica. A data em que o consumo tradicionalmente cresce acima da média é a Páscoa. Acompanhando a estabilização na produ-ção e demanda, a comemoração em 2018 seguiu o figurino. As grandes fabricantes de chocolates no país registraram um desem-penho entre a estabilidade e crescimento nominal de 5-10%. O volume de chocolates produzido para a Páscoa de 2018 mostrou total descolamento da movimentação no varejo. Em 2017, foram produzidas 9 mil toneladas (t) de chocolate, o equivalente a 36 milhões de ovos. Se comparado à produção de 2016, o volume é 38% menor – a pior campanha da indústria chocolateira em três anos. Em 2016, foram 14,3 mil t e 58 milhões de ovos. Em 2015, foram 19,7 mil t e 80 milhões de ovos, repassa a Abicab. Assim, a data mais importante para o setor no ano deixou um sabor amargo em 2016 e 2017, quando a produção cedeu em torno de 50%. Para a Abicab, o período foi atípico e, apesar da queda, o setor mostra disposição para recuperar o terreno cedido nas próximas campanhas. Pelo monitoramento da entidade, o mercado de chocola-tes registrou avanço de 0,3% em 2017, comparado ao período anterior, totalizando 491 mil t. Embora represente avanço em relação a 2016, o resultado ficou abaixo das 507 mil t produzi-das em 2015 e das 553 mil t atingidas no exercício precedente. CHOCOLATE COMPROVAÇÃO DE BENEFÍCIO À SAÚDE MUDA O CONCEITO DO ALIMENTO, ANTES CONSIDERADO VILÃO.6BRASILPelas estimativas da consultoria Euromonitor International, as vendas de chocolates no Brasil devem cravar avanço em torno de 7% em volume em 2018, para 274,5 mil t. Em valor, a alta prevista é de aproximadamente 11%, para R$ 13,284 bilhões. Nos últimos cinco anos, capta a Euromonitor, as vendas de va-rejo de chocolates saíram de R$ 12,093 bilhões em 2013 para R$ 13,284 bilhões, projetando avanço de 9,8% para 2023, equi-valentes a R$ 14,519 bilhões.Os dados da consultoria de inteligência de mercado Min-tel também confirmam a retomada das vendas de chocolate no país, projetando já para o próximo ano uma receita de R$ 14,646 bilhões, equivalente ao consumo de 293,5 t. Os dados representam alta de 6,4% em valor e 2,2% em volume, em rela-ção à projeção de 2018. Segundo ainda a Mintel, o mercado de chocolate acusou avanço de R$ 45,81 para R$ 47,95 no preço por quilo de 2018 em relação ao exercício anterior, com estima-tiva de subir para R$ 49,9 no ano que vem. Já o volume con-sumidor por quilo variou de 1,351 para 1,372 no ano passado, projetando 1,393 para 2019. AQUISIÇÃO SEM FIMAnos depois de ter vetado a compra da Garoto pela Nes-tlé, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) anunciou no primeiro semestre de 2016 a disposição de reava-liar o caso, a pedido da companhia suíça. Ela havia encaminha-do em dezembro de 2015 uma revisão do ato de concentração Garoto/Nestlé, embasada por uma proposta de solução para a situação, pendente de decisão judicial desde 2010. Na última década, a expansão das redes especializadas na venda de chocolates e o segmento de variedades premium transformaram o mercado chocolateiro no Brasil. Esse avanço no consumo e na competição pode ser um dos trunfos da Nestlé em seu pedido de reavaliação da compra da Garoto. Um levan-tamento do Departamento de Estudos Econômicos do Cade, publicado no site do órgão antitruste, reconhece que o mercado teve “significativas mudanças” e que a grife suíça já não desfruta o mesmo domínio anterior. Acrescentando mais capítulos à novela da compra da Ga-roto há 15 anos, o Cade mantém pendente um recurso contra a decisão do Tribunal Regional Federal (TRF) determinando ao órgão antitruste a realização de um novo julgamento. Em 2004, dois anos após a aquisi-ção, o órgão impôs veto à operação ale-gando que havia potencial lesivo à con-corrência, com a concentração de mais de 58% do mercado de chocolates no país pela junção das duas companhias. À época da compra da Garoto, inexistia le-gislação regulatória exigindo autorização prévia da autarquia para a conclusão de fusões e aquisições, fato que passou a valer depois de 2012 com a entrada em vigor da nova lei do Cade. A Nestlé, por sua vez, ingressou na Justiça comum para reverter a decisão. Mas em paralelo, o conselho e a companhia tentaram encerrar a disputa PÁSCOA EM 2018 A COMEMORAÇÃO MOSTROU TOTAL DESCOLAMENTO DA MOVIMENTAÇÃO NO VAREJO.FÁBRICA DA GAROTO PIVÔ DE DISPUTA JUDICIAL DA NESTLÉ HÁ 15 ANOS.FOTO: SANDRO HENRIQUE19º Anuário Brasileiro do Setor de Chocolates, Candies e Biscoitosno Judiciário com um acordo no âmbito admi-nistrativo, envolvendo a venda de um pacote de ativos, que não se concretizou.Passada mais de uma década do julgamen-to inicial, mais empresas ingressaram em alguns segmentos, novos canais de distribuição se de-senvolveram, as preferências dos consumidores também evoluíram e tudo isso aconteceu em um ambiente mais amplo de mudanças econômi-cas e sociais. As três maiores empresas do setor (Nestlé, Garoto e Mondelez) mantêm sua lide-rança, mas já se percebe que esse domínio não é predominante.Atentas às mudanças no setor e a uma de-manda diferenciada, as redes de chocolaterias como Cacau Show, Brasil Cacau e Kopenhagen (Grupo CRM) degustam uma expansão que mudou de vez a concorrência. Pelos radares da Abicab, essas redes especializadas saltaram de 200 lojas para mais de 4 mil em uma década. Ganhando cada vez mais espaço e relevância, o segmento de chocolates premium já se aproxima de 7% da produção nacional, estima a entidade.O Brasil é o terceiro maior mercado consumidor de cho-colates no mundo e continua exibindo potencial para avançar. Cada brasileiro consumiu, em média, 2,5 quilo do produto em 2017, quase o dobro de dez anos atrás, porém menos que a me-tade dos Estados Unidos.MERCADO PREMIUM O CONSUMO GOURMET PATROCINA A ASCENSÃO DAS REDES DE CHOCOLATERIAS, COM 7% DA PRODUÇÃO NACIONAL.8BRASILCONSUMO PER CAPITAOperando próximo ao limite de sua capacidade desde a dé-cada passada, o setor chocolateiro nacional vinha bombando até 2014. As mudanças nos hábitos, com conceitos como o de sau-dabilidade em alta nas escolhas do consumidor, acentuaram esse cenário. Em 2015, no entanto, a demanda sinalizou um início de saturação. A agitação em torno da produção, venda e consumo de chocolate no Brasil não tem precedentes em toda trajetória dessa categoria de alimento. Para se ter uma ideia da dimensão dessa evolução, há 40 anos o consumo per capita de chocolate no país, então com 90 milhões de habitantes, girava em torno de 300 gramas. A primeira e única campanha em prol do aumento da demanda que se tem notícia, envolvendo os principais fabrican-tes , foi levada a cabo nos anos 1970 e o índice saltou para cerca de 800 gramas. Desde 2010, o consumo brasileiro oscila entre 2 e 3 quilos/habitante/ano, volume considerado ainda modesto, mas com crescimento acelerado nos últimos anos. De vilão da alimentação, o chocolate virou a estrela do ramo funcional, en-trando para a lista dos alimentos que comprovadamente trazem benefícios à saúde. A tiracolo dessas constatações, proliferam em-preendimentos tanto do lado do fornecimento como da venda ao varejo. Em suporte a essa onda, também se multiplicam eventos como workshops, congressos e feiras.um complexo de mais de 30 mil metros quadrados. O projeto da planta de chocolate segue o figurino das mais modernas instala-ções para processamento de cacau em todo o mundo. Ela reú-ne maquinário de procedência europeia, basicamente da Suíça, Alemanha e Itália, elevando a capacidade anterior em cerca de 200%. Com isso, a Vonpar triplicou os volumes de produção e a capacidade total da unidade hoje oscila entre 2-3 mil t mensais de diferentes tipos de produtos (barras, confeitos e bombons). POTENCIAL REGIONALO consumo de chocolates no Brasil ainda é considerado baixo. Um dos fatores desse quadro é o desafio logístico para co-bertura da distribuição, consideradas as dimensões continentais do país. Um estudo da Mintel sustenta, entre suas conclusões, que o desenvolvimento do Norte/Nordeste brasileiro se insere como um importante foco do mercado. A consultoria observa que o aproveitamento do potencial de consumo, principalmente dessas duas regiões, tem se tornado um ponto essencial para a indús-tria. Assim, 47% dos consumidores do Norte e 38% do Nordeste pertencem à classe C, um total equivalente a 27 milhões, além de 28 milhões da classe D. A atração da indústria em particular pela região é fruto dos significativos 58 milhões de nordestinos e sua baixa participação no PIB (13,1% contra 16,5% no Sul). A flagrante melhora na economia regional tem impulsionado um forte interesse e investimentos. Ainda assim o nível de consumo de chocolate permanece muito mais alto no Sul/Sudeste.Em média, o brasileiro consome 200 gramas de chocolate do tipo bombom per capita ao ano e 170 gramas de chocolate tipo tablete. No Norte/Nordeste, porém, essa referência represen-ta apenas um quarto da média nacional. Mesmo assim, essas regi-ões experimentaram um crescimento de três dígitos no consumo 35% CAIXA SORTIDA 30% TABLETES 15% BITE SIZE (TIPO BIS) 11% BOMBOM BOLA 6% CANDY BAR 3% OUTROSChocolatesSEGMENTAÇÃOFonte: NielsenA indústria, por seu turno, despejou investimentos condi-zentes com o avanço da demanda interna e externa. Esses recur-sos, no entanto, começaram a rarear quando o ambiente econô-mico-financeiro se estagnou e o PIB do país veio abaixo. Entre os empreendimentos bancados nesse período sobressai o do Grupo Vonpar, atual controlador da Neugebauer. Fundada em 1891, essa fábrica de chocolates está hoje instalada em terreno de 110 mil metros quadrados e se interliga à estrutura da divisão de balas e pirulitos da companhia, em Arroio do Meio (RS), totalizando NEUGEBAUER GRUPO VONPAR MODERNIZA A MAIS ANTIGA FÁBRICA DE CHOCOLATES DO PAÍS. Next >