A previsão de volatilidade do mercado de cacau, publicada em meados de fevereiro, confirmou-se. Nos dois meses e meio desde então os preços do contrato mais negociado na Bolsa de Nova York chegaram a superar o marco de US$ 3,000, despencaram em seguida para US$ 2,700, aproximando-se ao ponto baixo do início de fevereiro, e avançaram novamente para fechar em US$ 2,943, no último dia de abril. A alta inicial foi obra da ação especulativa em reação a rumores que as safras dos dois grandes produtores africanos, Costa do Marfim e Gana, poderiam enfrentar dificuldades. Sem a confirmação desses rumores, o quadro fundamental baixista voltou a predominar e os preços entraram em declínio sob a pressão combinada de vendas das próprias origens africanas e dos fundos especulativos, amplificada pela alta do dólar e a consequente baixa das commodities em geral. Entretanto, ao cair para o patamar de US$ 2,700, o mercado encontrou bom suporte de interesse comprador de ampla base e reverteu a tendência. O novo movimento de alta foi estimulado pelos primeiros sinais que a demanda mundial por cacau poderia começar a se recuperar e pelo ressurgimento dos rumores de uma quebra substancial da safra de Gana.
Nem mesmo a redução das moagens dos principais processadores no primeiro trimestre de 2015 chegou a interromper o movimento, já que duas das importantes regiões consumidoras apresentaram quedas menores que esperado, fato que foi interpretado de forma positiva pelo mercado. As moagens da Europa, cuja queda era esperada na faixa de 4-7%, diminuíram apenas 1,56% e as da Ásia, onde se havia contado com uma redução entre 12% e 15%, “só” perderam 9,32%. Na América do Norte, o percentual de -5,81% foi um pouco abaixo das previsões, mas não causou reação, o mesmo ocorrendo com o dado de Brasil, de 9,43% negativo. No cômputo geral, as moagens de todas estas regiões, que representam 63-65% do total global, caíram 4,85%, dentro das expectativas em torno de 5%. Ainda falta a divulgação das moagens da África, que deverá aumentar, melhorando o quadro geral.
À luz dos dados conhecidos atualmente e levando em conta as previsões mais prováveis, a safra internacional de cacau, que termina em 30 de setembro próximo, deverá apresentar um resultado de equilíbrio aproximado entre produção e demanda, com uma margem de possível variação entre um superávit de até 100 mil toneladas (t) e um déficit do mesmo tamanho, montante que representa menos de 2,5% do volume global. Elementos importantes para influir no resultado final serão, de um lado, o tamanho real da safra de Gana, originalmente projetado com 850 mil t, mas que poderá não passar de 730 mil t, e, do outro, as moagens dos dois trimestres restantes, que são esperados registrar pequenos aumentos, mas que poderão não se concretizar diante da estagnação persistente da economia mundial.
Em condições normais, este quadro apontaria para uma estabilidade dos preços, mas estamos entrando no período do verão no Hemisfério Norte, conhecido no mercado de cacau como “silly season”, época em que notícias e rumores a respeito da próxima safra começam a circular e muitas vezes provocam oscilações imprevisíveis dos preços. •