A onda de alimentação saudável vem desmistificando diversos itens antes considerados vilões, a exemplo do chocolate, hoje comprovadamente fonte de oxidantes. É também o caso do amendoim, até pouco tempo atrás, associado até a doenças por conta da aflatoxina, fungo que pode se desenvolver no armazenamento inadequado do produto. Esse panorama, no entanto, já é passado. Foi-se o tempo em que o grão sobressaía apenas nas festas juninas ou, jocosamente, era associado a afrodisíaco natural. Um estudo inédito do instituto Datafolha, encomendado pela Abicab (Associação Brasileira da Indústria de Chocolates, Cacau, Amendoim, Balas e Derivados), captou que 88% da população consomem o alimento e, para 63%, ele pode fazer parte da dieta. E mais: 71% acreditam que o consumo da oleaginosa faz muito bem à saúde, sendo que, nos últimos 30 dias, 80% dos entrevistados consumiram o produto. Os números indicam a entrada definitiva do alimento na rotina do brasileiro e por motivos novos: manter-se saudável e em forma.
Segundo a pesquisa Datafolha, a ideia de que o amendoim é estimulante sexual ainda persiste para 56% dos homens e 50% das mulheres. Porém, vem atrás da sua imagem funcional pois para 75% dos homens e 67% das mulheres entrevistados, o grão traz benefícios à saúde. Para 66% deles e 60% delas, o alimento seria adequado em uma dieta alimentar regular. “Cada vez mais preocupado com a saúde e o bem-estar, o consumidor é hoje mais consciente das propriedades do amendoim, que se consolida como um alimento para o dia a dia”, analisa André Guedes, vice-presidente do setor de amendoim da Abicab e dirigente da Enova Foods, dona da marca Agtal de confeitos de amendoim.
A varredura do Datafolha constatou ainda que o amendoim salgado sem pele é consumido por 42% dos adultos e a versão salgada com pele, por 35%. Os dois tipos perdem apenas para a paçoca prensada e o pé de moleque, campeões do ranking na categoria, consumidos por 57% e 48% dos adultos, respectivamente. “Por ainda persistir uma forte tradição junina em todo o país, é natural que esses confeitos, já parte da nossa memória gustativa há tanto tempo, permaneçam entre os mais consumidos”, observa Guedes. Essa lembrança à qual ele se refere é captada principalmente na faixa etária de 4 a 15 anos, com a paçoca prensada eleita a preferida de 60% das crianças e adolescentes, seguida pelo pé de moleque (46%), amendoim com cobertura doce (29%) e amendoim com cobertura de chocolate (28%).
De acordo com o Datafolha, a abrangência da pesquisa é nacional, pois foram ouvidas 2.095 pessoas de diferentes faixas etárias, classes sociais e regiões do país, identificando hábitos de consumo relacionados a doces e confeitos à base de amendoim, tais como a paçoca prensada, pé de moleque, amendoim salgado (com e sem pele), ovinho de amendoim, amendoim japonês e pasta de amendoim doce, entre outras variantes. As entrevistas foram realizadas em capitais e cidades do interior, cobrindo o total de 132 municípios brasileiros.
Qualidade certificada
Sabor, qualidade e saúde figuram entre os principais aspectos positivos ligados ao amendoim, mas essa associação evoluiu ao longo do tempo, constata a Abicab. Em 2010, por exemplo, sabor e qualidade eram citados como pontos positivos do amendoim por 63% dos entrevistados em pesquisa encomendada ao Ibope. Em 2015, esse número mudou para 43%. Em contrapartida, há cinco anos, a saudabilidade do alimento era um ponto positivo para 29% das pessoas e saltou para 37%, em 2015. “Vemos que os benefícios nutricionais da semente se tornaram mais conhecidos e valorizados pelo consumidor, que hoje busca aliar sabor a uma dieta alimentar equilibrada”, interpreta Guedes.
No que se refere à escolha do produto, a grande influência na hora da compra é a qualidade/sabor, uma vez que 38% dos entrevistados tomam a decisão com base nesse critério. Variedade, marca e preço estão em um segundo patamar, com percentuais abaixo de 20%. A satisfação com o produto brasileiro, por sua vez, é bastante alta, pois 77% das pessoas ouvidas indicaram como excelente a qualidade das marcas nacionais.
Conferido pelo programa Pró-Amendoim às empresas que atendem aos requisitos da legislação brasileira e fabricam produtos à base de amendoim totalmente seguros, o selo “Qualidade Certificada Pró-Amendoim/Abicab” é conhecido por 55% dos consumidores. Implementado pela entidade, ele é responsável por assegurar a qualidade, a autorregulamentação e a expansão do consumo. Além disso, atesta que os produtos estão livres da aflatoxina, substância que pode causar doenças como câncer, cirrose e distúrbios nervosos. No ano passado, o programa completou 15 anos de atividades, com um importante saldo: 100% das empresas portadoras do selo auditadas estão em conformidade. “Já que o amendoim é comprovadamente saudável, é importante que os produtos fabricados com ele também sejam reconhecidos como seguros e de alta qualidade. É exatamente isso que o selo estampado nas embalagens atesta aos consumidores”, frisa o dirigente da Abicab.
Doce tradição
Na Santa Helena, tradicional fabricante de confeitos à base da oleaginosa, o diretor comercial Luís Bertella observa que o segmento avança sobretudo pela diversificação da oferta nas múltiplas ocasiões de consumo. “Esse leque de opções farto e cada vez mais atraente pelas criatividade das indústrias é o que mais contribui para o avanço da categoria”, grifa ele. Para o diretor, o consumo de amendoim em ocasiões como aperitivo é muito forte e continua em evolução, independentemente de picos de sazonalidade. Tanto versões salgadas como doces do produto hoje marcam presença na vida dos brasileiros em momentos frugais e também em comemorações. “Linhas diferenciadas, seja no sabor, na receita ou na embalagem, dominam as tendências hoje em dia”, comenta Bertella.
Segundo ele, a Santa Helena busca inovar, tanto na formulação como também na embalagem. Seguindo essa corrente, a empresa desenvolveu recentemente a linha Doce Tradição, com castanhas caramelizadas e embalagens premium gift para o mercado externo. “Os consumidores mudam de forma rápida e temos que acompanhar as transformações no estilo de vida e principalmente nas necessidades de cada perfil”, justifica o executivo.
Um contraponto à trajetória da Santa Helena pode ser conferido na atuação da Malta&Rezende Alimentos, detentora das marcas Mary, Verinha e Maribel, de balas diversas, doces e confeitos de amendoim. Marcelo Cordeiro, diretor industrial e de marketing da empresa, considera que o panorama atual na demanda de confeitos de amendoim é de baixa, pois outros itens sazonais acabam pressionando o consumo. Para ele, o giro de confeitos salgados tipo aperitivo também evolui, mas de forma moderada, em função de muitas outras opções de snacks. “A demanda de doces continua estacionada, o que houve foi a diversificação de versões de embalagens”, assinala. Esse recurso foi adotado pela maioria das marcas, fazendo com que os volumes de amendoim fossem estabilizados, com elevação na receita por agregação de valor nas múltiplas embalagens.
Cordeiro confirma ainda o avanço na demanda de produtos de maior valor, com itens mais sofisticados, por conta da atual conjuntura econômica. Mas antevê uma virada de posição. “Agora, mesmo aqueles que consomem produtos mais sofisticados começam a comprar os menos sofisticados por conta dos preços mais acessíveis”, nota.
À frente da Enova Foods, André Guedes relata que as vendas se mantêm crescentes e constantes. Ele confirma a tese de Bertella quanto à rápida mudança no perfil da demanda. “Novos hábitos de consumo impelem os consumidores a buscar alternativas mais saudáveis, com menor custo e, ao mesmo tempo, prazerosas para os momentos de confraternização dentro do lar e para o dia a dia”, argumenta o dirigente. Para ele, o amendoim salgado tipo aperitivo caiu no gosto do brasileiro, pela praticidade e variedade de sabores e por ser uma excelente alternativa saudável. Em paralelo, Guedes nota o crescimento na demanda da categoria nos redutos de maior valor. A maior oferta de sabores e a aceitação da categoria como alternativa de maior valor agregado, e ainda assim acessível, são impulsionadas pelas classes A/B. Foi em atenção a esse público que a Agtal inseriu a marca Amendoim Brasil que, além do apelo de suprema qualidade, marca pontos pela diversidade de tamanhos de embalagens, viabilizando o consumo nos diversos momentos.
Revitalizada pela valorização nutricional, a indústria do amendoim exibe desempenho satisfatório também no balcão exterior. Dados da Mintel, que mantém um painel global de lançamentos, colocam o Brasil na quinta posição, entre países que mais lançaram produtos alimentícios com amendoim em todo o mundo. Em 2014, de todas as novidades com esse perfil, 15% foram bancados pelos Estados Unidos; 12% pela China; 10% pelo Canadá; 6% pela Índia e 4% pelo Brasil.
“O amendoim é grande aliado da nutrição humana”, sustenta Vanderli Marchiori, consultora em nutrição da Abicab, ressaltando que pesquisadores renomados recomendam seu consumo diário. Quando ingerido na quantidade adequada (30g/dia) e em lanches intermediários, o amendoim garante a saciedade por mais de duas horas, inibindo a ingestão de lanches mais calóricos, ou seja, não engorda e ajuda no processo de reeducação alimentar, observa a especialista. “Rico em proteínas, fibras, antioxidantes e fitoquímicos, ele proporciona diferentes benefícios ao organismo”, frisa. Além de auxiliar no controle do peso, da gordura abdominal e dos níveis de açúcar no sangue, tem papel antioxidante que pode diminuir a incidência de Mal de Alzheimer, devido à alta concentração de vitamina E. “Pesquisa recente descobriu que os fitosteróis presentes em sua composição diminuíram o desenvolvimento de tumor de próstata em até 40% e inibiram a metástase em até 50% nos animais estudados”, assinala Varderli. •