Um banho de loja

Feira ISM junta tradição, modernidade e inovação na maior plataforma global de candies
Estande da Lambertz moda, design e gastronomia cada vez mais inseridos na ISM.
Estande da Lambertz moda, design e gastronomia cada vez mais inseridos na ISM.
Estande da Lambertz moda, design e gastronomia cada vez mais inseridos na ISM.

O vestido da foto acima, feito com embalagens da marca alemã Lambertz, sintetiza as principais propostas da feira ISM – Feira Internacional de Doces e Biscoitos, maior vitrine global do setor de confeitos (confectionery). A alegoria proposta pela indústria fundada em 1688 e quinta maior fabricante de biscoitos do planeta simboliza tradição, modernidade e inovação, tripé sobre o qual foi montado a 47ª edição do evento. Com organização atenta a preservar a tradição de marcas do mundo todo no maior balcão de negócios do setor, ela também sinalizou os rumos da indústria incorporando correntes da moda, design e gastronomia, além das inovações da indústria nos vários segmentos. Assim mais uma vez a ISM superou os desafios que colocam em xeque a credibilidade de uma feira anual. Montada de 29 de janeiro a 1 de fevereiro em Colônia (Alemanha), a mostra exibiu em primeira mão as novidades extraídas de incubadoras que expressam a formação ou a consolidação das tendências na cena doceira global. Entre os destaques, conferidos em
estandes de diversas nacionalidades, sobressai a incorporação de correntes migradas de outras categorias de alimentos, como linhas free-from (“livre de”) ou guloseimas formuladas com ingredientes crus (raw) naturais e grãos antigos (ancient grains), tudo sob o guarda-chuva da saúde e bem-estar em chocolates, balas, gomas de mascar, biscoitos e snacks. Mais disseminadas entre empresas aglutinadas em pavilhões ou ilhas destinados a startups, tarjas de organic food, 100% natural, gluten-free, veggie (vegetariano ou vegano) e low lactose/fructose (baixo teor de lactose/frutose) dominaram as estampas das embalagens de confeitos.
Com a racionalização de espaço promovida nos seis pavilhões ocupados (total de 110 mil metros quadrados), a ISM exibiu o número regular de empresas participantes, num total de 1.649 exibidores, sendo 236 da Alemanha e 19 do Brasil. Entre as inovações adotadas no âmbito da organização, prevaleceu a montagem em sistema de ilhas para acomodar startups e pequenas empresas em espaços modulares menores que os de estandes convencionais. Eventos especiais, como o espaço para novos produtos (New Product Showcase) e a área de empresas estreantes (Newcomer Area), mobilizaram a atenção de um público de cerca de 38 mil visitantes de 140 países, 67% dos quais de fora da Alemanha, repassa Bastian Fassin, chairman da força tarefa da ISM (AISM). “A feira confirmou sua posição nacional e internacional como hub central e plataforma global do comércio de doces, com um leve crescimento no número de expositores”, comenta o executivo. Para ele, as exportações e todo o business doceiro ganha alinhamento internacional e grande significado não apenas para a indústria alemã. “Daqui, as consequências do Brexit (saída do Reino Unido da União Europeia) e as possíveis restrições comerciais pelos EUA sob o governo Trump foram os tópicos principais das conversações”, assinala Fassin.
Mais uma vez a feira abriu espaço para uma ala de cafés gourmet, incorporou outra de snacks, com novidades em aperitivos à base de vegetais e carne, e expandiu a ala de exposição de novos produtos. Também não foi total surpresa que o vencedor da eleição de melhor lançamento do espaço New Product Showcase tenha surgido da ala reservada às startups (Newcomers Area). Com um único item na mostra, a empresa alemã Pechkeks GmbH abocanhou a láurea com o curioso Bad Luck Cookie. “É uma versão bem humorada do tradicional biscoito da sorte chinês, com um produto natural e saudável, redesign da embalagem e mensagens e profecias ‘mágicas’, só que indicando o oposto da fortuna”, resume Liza-Melina Stamos, diretora da Pechkeks, baseada em Hamburgo. Ela acrescenta que a novidade é produzida com ingredientes de primeira linha, mas tem uma aparência que desafia os consumidores. “É elaborada na cor preta como carvão e suas mensagens são honestas e diretas, sob medida para pessoas que não se levam demasiadamente a sério e que apreciam uma gozação”, sublinha a diretora.

Clássico do oriente
Dedicado a empresas inovadoras e estreantes na ISM, o espaço Newcomer Area expôs as novidades enquadradas nas tendências mais fortes. Nesta edição participaram 11 empresas da Alemanha, Estônia, Letônia, Polônia, Suíça, Tailândia e EUA. A germânica Baklava2go, por exemplo, sobressaiu com a introdução de um clássico doce do Oriente, em versão atualizada, de porção individual e embalagem portátil (on the go), encorpando a categoria de doces finos artesanais produzidos em escala industrial. Cengiz
Karanfil, gerente da empresa estabelecida em Sindelfingen, relata que o confeito é de origem grego-turca, à base de massa folhada com mel, castanhas e especiarias, muito apreciado na Alemanha e Europa Ocidental em geral. “Reduzimos o tamanho do doce tradicional, adaptamos a receita introduzindo ingredientes saudáveis e empacotamos individualmente, transformando o produto em um snack para consumo on the go e também ideal para presente”, resume o porta-voz da Baklava2go.
Em sua terceira participação consecutiva na ISM, a tenista Maria Sharapova, dona da marca Sugarpova, foi a estrela maior entre as celebridades presentes, atraindo público desproporcional ao seu modesto estande na feira. Em clima de sessão de autógrafos, a esportista lançou a linha de dark chocolate By Maria Sharapova, em versões de tabletes, trufas e chocolate gummies. No reduto das inovações em fomatos e apresentações, as atenções foram puxadas, por exemplo, pela lituana Rũta, que inseriu na mostra seu Chocolate Pizza, com variedades de chocolate premium encaixadas como fatias de pizza em embalagem típica da categoria. Vilija Bartkuvienè, diretor de exportação da indústria de Šiauliai, relata que a empresa é uma das mais tradicionais de seu país (fundada em 1913) e participa da ISM há vários anos. “Mas foi a primeira vez que atraímos tanto interesse, com essa novidade que reúne seis variedades de chocolate do nosso portfólio”, informa ele. Da mesma forma, a checa Manufaktura Czekolady encantou o público com sua linha Chocolate Story de confeitos que imitam pérolas e jóias sofisticadas embaladas em finos estojos. Bartosz Reetz, gerente de vendas da companhia sediada em Warszawa, sublinha que a chocolateria produz grande variedade de itens, com cacau de diversas procedências, atendendo tanto redes de varejo quanto negócios corporativos. “Temos linhas e produtos que se adequam a cada tipo de mercado e queremos expandir para o oeste da Europa e outros continentes”, grifa o executivo.

Inovações do Brasil
Com 19 empresas no espaço coordenado pela Associação Brasileira da Indústria de Chocolates, Cacau, Amendoim, Balas e Derivados (Abicab) e pela Associação Brasileira da Indústria de Biscoitos, Massas Alimentícias, Pães e Bolos Industrializados (Abimapi) em parceria com a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil), os confeitos brasileiros também pontuaram no circuito das inovações. A gaúcha Peccin, por exemplo, reservou para disparo na feira seu mais recente lançamento no front de chocolates especiais: a linha Quattro com 55% de sólidos de cacau. “Também trouxemos a goma de mascar Blong Energy, que incorpora formulação similar a de produtos energéticos e ambos os lançamentos bombaram na feira”, relatam Dirceu Pezzin e Gilberto Lima, respectivamente, diretor presidente e gerente de exportação da companhia. Graças a tacadas como essas, a Peccin cravou avanço de 20% em volume e 29% em valor em 2016 nas suas exportações, enquanto as vendas internas cresceram em torno de 20% no período. Esse resultado foi possível devido a um posicionamento diferenciado da marca, com destaque para gestão interna, justifica Pezzin. “Fizemos todo um trabalho antes de chegar a crise para não sofrer o impacto dela”, assinala o executivo. Lima completa que, além dos cerca de 50 países para os quais a empresa embarca 20% dos volumes totais, desta vez o foco foram os mercados premium da Ásia. “Queremos cada vez mais sair fora das commodities”, grifa Pezzin.
Estreante na ISM, a Multibrands registrou boa receptividade na feira por conta de uma das marcas em destaque no seu estande: a Frutos da Amazônia. Já conhecida na Alemanha e EUA, a grife de bombons e doces de cupuaçu, açaí e castanhas brasileiras incorpora a imagem de produto exótico, típico da floresta
amazônica, que deve expandir a partir deste ano com o ingresso de investidores. “A empresa está crescendo agora, com a entrada de um fundo que comprou 30% do negócio”, informa Waleska Rocha, sócia diretora da trading, que também levou para a ISM a goianense Cicopal, em sua primeira investida no exterior. Apesar da marca estampada no estande, a empresa não conseguiu finalizar as embalagens a tempo e, por conta disso, compareceu à feira apenas com material institucional. “Mesmo assim apareceram interessados”, relata Waleska.
Na mineira Embaré, o supervisor de vendas internacionais Felipe Bernardes Antunes comenta que as exportações de balas e caramelos da marca ainda têm grande participação na operação de doces e lácteos do laticínio. “Representam cerca de 8% das operações totais da Embaré e dessa cifra os embarques abocanham 40% do total”, dimensiona ele. Nesta participação na feira, acrescenta ele, a tônica foi a continuidade da retomada de mercados antigos, especialmente do Oriente Médio e Europa, com a abertura de novos clientes nos EUA, que lidera o ranking de exportações da companhia. Do total exportado, 50% referem-se a linhas de caramelos de leite; 30% vão para balas mastigáveis e o restante se pulveriza entre confeitos mistos de caramelo e chocolate. “Viemos com um mix de 24 itens e começamos bem a corrida para alcançar crescimento de 15% até o fim do ano nas exportações”, considera Antunes, acrescentando que em 2016 as vendas externas alcançaram alta de 25-30%, com o início desse movimento de retomada de mercados.
Com 13% das vendas totais, as exportações na Dori degustam uma fase de estabilidade depois do declínio a conta-gotas dos últimos seis anos, fortalecendo, em contrapartida, o mercado interno. “A companhia imprimiu um trabalho forte nas vendas diretas para o varejo no Brasil e, com isso, conseguiu retomar o crescimento no plano doméstico”, argumenta Carlos Assis, gerente de exportações da empresa sediada em Marília (SP).

Impressão máxima

Em paralelo à 47ª edição da ISM, outro trunfo a celebrar foi a realização da ProSweets, feira simultânea de máquinas e equipamentos, insumos, embalagens e serviços para a indústria de confectionery. Desenhado inicialmente para gerar sinergia desse setor com dirigentes e representantes das indústrias participantes da ISM, o evento se consolida a cada ano como plataforma global de tecnologia para a ala de guloseimas, reunindo neste ano 211 expositores de aproximadamente 100 países, sendo 65% das empresas de fora da Alemanha. Sem a timidez observada nas edições anteriores, desta vez eles levaram para espaços eloquentes na exposição linhas completas de processamento e acabamento, amostras de insumos e equipamentos de embalagens para confeitos. Entre os principais fornecedores de máquinas, marcaram presença nomes como Avema AG, Betec, Capol, Hans Brunner, Khandabi Machinery (do Irã), Roka e Wolf, sendo sentidas as ausências de grifes como Bosch e Haas. Eles ocuparam 12 mil metros quadrados de uma das alas inferiores dos pavilhões da ISM, exibindo a geração mais avançada de maquinário e insumos para a indústria de doces.
O destaque maior foi para a corporação germânica Wacker, que levou para a ProSweets a tecnologia Candy2Gum para a fabricação integrada de matérias-primas ao produto final de gomas de mascar, incluindo uma impressora 3D. Segundo a companhia, trata-se do primeiro processo de impressão 3D do mundo para uso em gomas de mascar, possibilitando uma ampla variação de cores, formas e sabores, individualmente personalizados.

Embarques em alta
Com alta de 20% nos embarques no último ano, a Jazam celebrou na ISM o fim do embargo a produtos do Brasil na Argentina, um dos principais destinos das suas linhas de doces. Adriano Gabaldi, gerente de exportação da indústria de Pompeia (SP), relata que, com o vento favorável a diversos itens da marca, a Jazam promoveu um intenso trabalho pré-feira, com clientes do Uruguai, Bolívia e Peru. “Fizemos nesses países, por exemplo, uma forte divulgação da marca e promoções, com sorteio de prêmios, exatamente como trabalhamos no Brasil”, insere o executivo. Com oito linhas no mix, desdobradas em 160 SKUs, a Jazam exibiu em primeira mão novos formatos da marca Coloreti.
Embarques para 40 países em todo o globo estimulam a Neugebauer a se inserir em missões internacionais, entre as quais a ISM vem se mantendo como a número um, observam Bruno Folharini e Juliano Acioly Oliveira, do time de exportações da marca de chocolate e candies gaúcha. “Além de concentrar a clientela ativa em um único evento, abrimos negociações com importadores de fora da nossa lista, na América do Sul, Oriente Médio e Norte da África”, resumem os representantes da marca.
A retomada sentida pela Jazam com relação às compras argentinas foi também um dos eixos das exportações da Harald, que cresceram 10% em 2016, considerados outros mercados-chave como Bolívia e Paraguai, repassa Milena Boggio, gerente de exportação da indústria chocolateira especializada em operações B2B. A empresa aproveitou o evento para divulgar o lançamento de sua linha de decorações à base de chocolate para confeitaria fina, composta de 11 itens, entre virutas, granulê, pencils e triângulos. “A ideia é cada vez mais fornecer chocolate premium para mercados premium, reduzindo os volumes de chocolate commoditie”, resume a executiva.
Em espaço separado da ilha coordenada pelas associações e Apex-Brasil, a Florestal Alimentos banca há vários anos os estandes da Florestal e Boavistense, em metragem maior que os demais participantes. “Assegura uma impressão e imagem melhor para nossas marcas e equipes de venda”, sintetiza Maurício Weiand, diretor presidente do grupo gaúcho. Com 420 SKUs divididos entre as duas marcas, o grupo exporta para mais de 80 países e esses embarques representam 22% das vendas totais, repassa Adriano Orso, gerente de marketing da companhia. Nessa participação na ISM, a Boavistense chamou atenção com sua linha de pirulitos Pop Tatoo de 8g, negociada a um centavo de dólar a unidade. Por conta da competitividade, os embarques da marca ganham maior expressão dentro da linha de pirulitos planos com tatuagem. Na Florestal, o destaque vai para a grife de pirulitos, balas de candies Coração, sucesso também no Brasil, confirma Orso. “Além desses itens campeões de vendas, temos um cardápio de produtos private label, com formulações e formatos exclusivos, que atrai a maior parcela dos importadores que vêm à feira”, assinala o gerente.
Considerando que sua marca atingiu maturidade suficiente para também ter estande próprio, fora da área das associações, a gaúcha Docile sentiu falta de mais mobiliário para acomodar o intenso fluxo de visitantes. “O importante é fazer uma boa pré-feira”, sublinha o diretor Ricardo Heineck. Para ele, lançamentos levados para o evento têm maior impacto quando são divulgados com antecedência, criando, inclusive, maior expectativa. “Por isso, fazemos um trabalho de contatar cada cliente em potencial e importadores ativos em nossa lista”, diz. Mesmo sob cenário de incertezas e indefinições que predominou no ano passado, a Docile cravou crescimento de 7% nas suas exportações. “O que mais incomoda não é o dólar alto ou baixo, mas a volatilidade”, grifa Heineck. A Docile, emenda ele, vem já há bastante tempo substituindo linhas de baixo valor por itens mais sofisticados. Para essa edição da ISM, destacou o redesign na linha de minipastilhas Mini Minty, apresentada agora em dispenser de 14g; novos formatos na linha de marshmallows MaxMallows e as novas embalagens na linha de balas de gelatina Gelatines.
Dona da marca Sam’s, celebrada na cena de candies dos EUA, a indústria potiguar Simas exporta hoje cerca de 10% da sua operação, cifra que já chegou a bater em 50% no passado. “Estamos retomando mercados e a expectativa é dobrar essa participação ainda este ano, principalmente com a recente conquista da certificação BRC, que é a norma global alimentar”, anuncia Luiz Eduardo Simas, diretor da empresa que embarca suas linhas de candies para 40 países. Para a ISM, a Simas levou cinco linhas de seu portfólio, com destaque para os pirulitos Cherry Pop de 14g e Mega Pops de 28g. •

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