Sustentabilidade e transparência

As indústrias de alimentos devem, cada vez mais, trabalhar as causas ambientais e socioeconômicas
*Guilherme de Castilho Queiroz: O pior para a sustentabilidade é perder a confiança do consumidor.
*Guilherme de Castilho Queiroz: O pior para a sustentabilidade é perder a confiança do consumidor.
*Guilherme de Castilho Queiroz: O pior para a sustentabilidade é perder a confiança do consumidor.

Dentre as macrotendências apresentadas no livro “Brasil Bakery Trends 2020”**, editado pelo Cereal Chocotec (Centro de Tecnologia de Cereais e Chocolate), do Ital (Instituto de Tecnologia de Alimentos), em 2014, destaca-se o capítulo “Sustentabilidade e Transparência”. Ele corresponde ao desejo dos consumidores por produtos com foco na sustentabilidade ambiental e socioeconômica. Para os setores de Bakery & Confectionery, que inclui fabricantes de chocolates, candies, biscoitos e snacks, essa macrotendência pode ser melhor compreendida se analisarmos seus desdobramentos, que referem-se a dois agrupamentos mais proeminentes de tendências, categorizados pelo estudo como agronegócio sustentável e comércio justo e solidário.

Na corrente do agronegócio sustentável, identifica-se o crescimento de produtos com alegações quanto à proveniência de uma agricultura sustentável (Rainforest Alliance) e/ou orgânica, com autodeclarações ambientais e com especificações quanto à chamada pegada de carbono (carbon footprint). Na linha da tendência do comércio justo e solidário têm sido desenvolvidos produtos com certificação Fair Trade e também aqueles que alegam vinculações com causas sociais. Vale ressaltar a importância da transparência nas informações, certificações, declarações, rotulagens e selos de sustentabilidade e o combate ao Greenwashing e ao Fairwashing. Os termos referem-se à apropriação indevida das causas ambientais e sociais.

Uma rotulagem ilusória (Greenwashing e/ou Fairwashing) pode fazer perder todo o investimento em cultura e educação ambiental e de solidariedade, além dos avanços conseguidos nos últimos anos. O pior para a sustentabilidade é perder a confiança do consumidor. Normas e legislações devem cada vez mais ajudar a evitar o Greenwashing e o Fairwashing. O uso indevido de termos de rotulagem e de marketing “verde”, aliás, fere o Código de Defesa do Consumidor.

Orgânico, Rainforest Alliance e Fair Trade são certificações fundamentais para a sustentabilidade dos ingredientes de produtos alimentícios (como cacau, açúcar e cereais), ao passo que as indústrias de alimentos deverão, cada vez mais, trabalhar a sustentabilidade ambiental e socioeconômica nos seus processos produtivos, assim como nos seus parceiros de transporte e da produção de suas embalagens, entre outros. Pensando no ciclo de vida dos produtos, as questões de sustentabilidade estão bastante relacionadas aos recursos naturais, principalmente nos ingredientes, mas devem ser completadas com as iniciativas da própria indústria, como ações de otimização no uso de água, energia e recursos naturais e minimização das emissões para o ar (por exemplo, redução dos gases de efeito estufa como o dióxido de carbono), solo (resíduo sólido) e água (efluentes líquidos), para que sejam configuradas as iniciativas de sustentabilidade tanto ambientais quanto socioeconômicas.

Essas iniciativas então podem ser divulgadas por meio de Autodeclarações (Rotulagem Ambiental tipo II), Estudos de ACV (Avaliação de Ciclo de Vida) e Ecodesign (desenvolvimento de produto com menor impacto ambiental). Está cada vez mais difundida a aplicação do conceito de Ciclo de Vida no desenvolvimento de produtos “mais sustentáveis”. Para o Brasil, a sua matriz energética basicamente hídrica, a grande extensão territorial e o clima, propícios para a produção de alimentos, entre tantas outras vantagens competitivas, fundamentam a necessidade de estudos aprofundados de ACV, projetos de Ecodesign e Rotulagem Ambiental.
Os consumidores vão cada vez mais relacionar os alimentos à sua saúde e à sustentabilidade. Alegações de Controle e Adequação (reduzindo os teores de açúcar, gordura e/ou sódio), Nutrição e Funcionalidade (rico em vitaminas…) e Naturalidade e Autenticidade (free from aditivos/corantes/aromas artificiais) são macrotendências que trabalham em sinergia com a macrotendência de Sustentabilidade e Transparência. A preocupação do consumidor vai além da proteção do planeta (sustentabilidade ambiental), pois este está cada vez mais ético, ou seja, buscando também a sustentabilidade socioeconômica e a transparência das empresas/produtos, lembrando ainda que a tendência é dessas questões de sustentabilidade se juntarem a outras macrotendências, configurando uma sociedade cada vez mais consciente e consumidora de alimentos mais sustentáveis e saudáveis. •

 

(*) Guilherme de Castilho Queiroz é coordenador do projeto Brasil Bakery and Confectionery 2020. (**) O conteúdo completo da macrotendência Sustentabilidade e Transparência está disponível para livre acesso através de download da publicação “Brasil Bakery & Confectionery Trends 2020”, no link: http://www.bakeryconfectionerytrends.com.br/

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