Só falta o consumidor

Queda nas vendas do autosserviço não abala atratividade da Apas 2016

carrinhoCom a economia em recessão, inflação em alta e oferta restrita de crédito, as vendas do comércio varejista despencaram 4,3% no ano passado, segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Foi o pior desempenho desde 2001, início da série pesquisada pela entidade. O setor de hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo, por sua vez, acusou queda de 2,5% em 2015, a segunda maior contribuição para o fechamento do ano. Esse desempenho detonou o alarme do setor varejista, uma vez que o autosserviço fornece produtos de primeira necessidade, como alimentos e, portanto, sempre costuma ser mais resiliente a crises. Com esse pano de fundo, a Apas 2016 – 32ª Feira e Congresso de Gestão Internacional, promovida em maio, em São Paulo, recepcionou mais de 71 mil varejistas, atacadistas, empresários e executivos do segmento, atraídos pelo tema central do evento: “As oportunidades do setor de supermercados e as perspectivas de crescimento de toda cadeia”.

Segundo os organizadores, o número de empresas que enviaram representantes aumentou 11% em relação a 2015. Para Pedro Celso, presidente da Associação Paulista de Supermercados (Apas), com o atual cenário econômico e político, o evento contribuiu para discussões, troca de experiências e, principalmente, definições de expectativas em cada negócio. “Os empresários e varejistas precisam se manter atentos para identificar os momentos oportunos para crescer”, assinala o dirigente. Entre essas oportunidades, ele inclui a parceria com a Apex-Brasil (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos) que organizou pela terceira vez uma rodada de negócios durante a feira. Participaram dessa iniciativa 32 importadores, distribuidores e compradores de grandes redes varejistas de 19 países (da Europa, América Latina, Ásia e América do Norte), alimentando expectativas de negócios para as 100 empresas brasileiras que aderiram à mesa de negociações. “A estimativa é de que cerca de US$ 60 milhões em vendas sejam concretizados, entre os fechamentos durante o evento e os que virão nos próximos doze meses”, calcula Rafael Prado, coordenador de promoção de negócios da Apex-Brasil, assinalando que produtos típicos, como açaí e cachaça, além de chocolates, vinhos, biscoitos, sucos e vários alimentos industrializados foram apresentados aos compradores estrangeiros. “O maior destaque foi para os itens que seguem as tendências recentes de consumo, como a de produção orgânica e sustentável, glúten e lactose-free, zero sugar e produtos naturais/integrais”, frisa ele.
Para a Abimapi (Associação Brasileira das Indústrias de Biscoitos, Massas Alimentícias, Pães & Bolos Industrializados), com 15 associados integrantes do projeto setorial Brasil Export na rodada, a perspectiva é de alcançar US$ 2,2 milhões nos próximos 12 meses, resultantes de contratos costurados em 120 encontros das indústrias com os traders. “Os embarques devem atingir 18 destinos, entre os quais a República Dominicana, Peru, Costa Rica, Espanha, Emirados Árabes, Rússia, Tunísia e Coreia do Sul, entre outros”, repassa Cláudio Zanão, presidente da Abimapi. Participaram da rodada de negócios, completa ele, as empresas Casa Maní, Casaredo, Cory, Dauper, Doce Amor, Feinkost, Itamaraty, Marilan, M. Dias Branco, Piraquê, Selmi, Siena, Santa Edwiges, Suavipan e Village.

Em sua sexta participação na Apas, a Piraquê saiu da rodada com boas perspectivas para três linhas do seu portfólio, informa Alexandre Colombo, diretor comercial e de marketing da empresa carioca e presidente da área de biscoitos da Abimapi. “A feira agilizou negócios potenciais para as nossas linhas de salgadinhos aperitivos (Presuntinho, Queijinho, Repetisco, Sal, Pizzaquê, Salgadinho Gergelim e Salgadinho Tradicional), para a nossa tradicional Goiabinha e para o segmento de crackers e maisena”, acrescenta. Para Colombo, além desse destaque, os lançamentos especialmente reservados para a Apas também geraram grande interesse do trade. A empresa reforçou seu portfólio com uma linha de cookies, nos sabores Baunilha com Gotas de Chocolate e Chocolate com Gotas de Chocolate, com uma versão de maisena integral e três itens com a marca Natur (Aveia & Mel, Maçã com Canela e Multigrãos).

Apesar da retranca na demanda de biscoitos, a Piraquê cravou 3,5% de crescimento no ano passado em relação ao período anterior e, segundo Colombo, avançava na faixa de 1,5% de janeiro a abril do exercício atual ante a mesma referência de 2015. “No momento, a maior dificuldade está na incerteza do cenário político e econômico, que faz com que muitos clientes fiquem mais cautelosos na hora de fazer negócios”, considera o dirigente.

Também a Bela Vista pegou garupa na Apas para reposicionar suas marcas e mix. Além da reformulação de embalagens, a empresa abriu um pacote de lançamentos que exibe diversos itens enquadrados na onda de saudabilidade. “Aproveitamos a feira principalmente para mostrar investimentos nos segmentos de saudáveis, pequenas porções e snacks”, sintetiza Jorge Conti, diretor geral da empresa. Apesar das dificuldades do momento econômico que afeta o país, complementa ele, a Bela Vista mantém seus objetivos de crescimento para 2016. O aumento da distribuição, o foco no médio e pequeno varejo e no atacado, lançamentos e extensão das linhas de produtos são alguns deles. “O mercado e o ambiente de negócios continuarão desafiadores este ano. Uma estratégia de negócio assertiva e bem executada é essencial para a sustentabilidade dos resultados”, sublinha Conti. Entre as novidades apresentadas no evento, ele destaca as linhas Ecoo, Fazendinha, Bela Vista e Tuc’s, esta última com nova embalagem e produto integral.

Celebração e lançamentos   
Destaque no reduto de confeitos, a Docile comemorou na Apas 25 anos de atuação. Para marcar a passagem, a empresa gaúcha reservou para a feira lançamentos e o anúncio da inauguração da nova fábrica no Nordeste, além de recepcionar os visitantes com um portfólio de mais de 200 itens. Paralelamente, os dirigentes celebraram 80 anos de atuação da família Heineck, proprietária da marca, no mercado de candies. Criada em 1991 como uma distribuidora de insumos para a indústria alimentícia, a Docile adquiriu a sua configuração atual em 1998, relembra  Alexandre Heineck, diretor comercial da empresa.

Entre as novidades apresentadas em primeira mão ele inclui um novo formato exclusivo da sua linha de balas de gelatina: a Docile Gelatines Pezinho e Pezão, lançamento que propõe a mistura de sabor e brincadeira. Disponível nos sabores banana, morango, tangerina e tutti-frutti, com solado de baunilha, a linha é apresentada em embalagens de 300g e 80g.

“Nesse primeiro semestre acionamos a nova fábrica da empresa em Vitória de Santo Antão (PE)”, anuncia Heineck. Fruto de um investimento de R$ 9 milhões, a unidade amplia a capacidade de atuação da Docile no Nordeste, quadruplicando a presença da marca na região, situa ele. A unidade vai também reforçar os embarques crescentes da empresa, hoje direcionados a aproximadamente 50 países, da América do Sul, Norte da África e países árabes. “É muito simbólico para a Docile comemorar 25 anos de história participando da Apas. Muito do que aprendemos e colocamos em prática vem da vivência e, como maior feira supermercadista, esse evento tem papel fundamental nos nossos negócios”, comenta o diretor comercial.
Reforçando a corrente de apresentar ao trade linhas de maior valor, inspiradas em tendências de saúde e bem-estar, a Santa Helena abriu na Apas a Paçoquita Mini Esportes, a pasta de amendoim First Crunchy e a linha Cuida Bem, resume Luis Bertella, diretor comercial da indústria de Ribeirão Preto (SP). Segundo ele, um dos pontos altos no evento foi o anúncio do posicionamento da marca dentro de um conceito que valoriza a sua essência de mais de 74 anos na cena de amendoim. Com visual alegre e uma logomarca inspirada na vagem do grão, a empresa busca ser a referência da categoria no país. “O conhecimento e o extenso portfólio de produtos com amendoim, como a Paçoquita em todas as suas versões, da tradicional à cremosa, e o Mendorato (amendoim tipo japonês), campeões de vendas, agora apresentam-se com nova postura diante do mercado, ainda mais próxima de seus consumidores. Essa nova fase já está estampada em todo o portfólio da empresa”, frisa o executivo.

Para consolidar esse posicionamento, a empresa escalou a Top Brands, consultoria de branding responsável por todo o processo de pesquisa, produção e implantação do novo conceito, relata Bertella. Análises foram realizadas nos principais mercados da Santa Helena, tanto com o trade quanto com consumidores. Ele detalha que o processo de decisão e a estratégia da ação foram acionados a partir das pesquisas, que comprovaram, entre outras questões, a qualidade da marca. “A empresa se apresenta com força ainda maior a partir de agora, e o layout diferente, mais moderno, é a coroação dessa etapa que se inicia. A identidade visual ficou mais alegre, e o formato alusivo ao amendoim, acrescido das cores vibrantes, lembram os bons momentos que a Santa Helena divide com os consumidores”, assinala Bertella.

Com a mudança, alguns produtos deixaram de ter a marca Santa Helena estampada nas embalagens, mas continuam a ser fabricados pela empresa, casos da linha de saudabilidade (Diet e Zero), que passou a se chamar Cuida Bem; da linha fitness (First) e os snacks que não têm como base o amendoim (linha Troféu), esclarece o diretor.

Produtos clean label  
Em sua terceira participação na Apas, a Flormel aproveitou a maciça concentração do trade para comunicar cinco lançamentos, dois deles inéditos no Brasil, além de reformulações na receita e embalagens das linhas de doces, repassa Alexandra Casoni, diretora de negócios da empresa. “Completamos na feira um bonito ciclo de posicionamento, branding e comunicação. Agora toda a nossa linha está com as embalagens atualizadas, mais modernas e comunicativas”, assinala ela, completando que a empresa adota um cuidado especial com a transparência na lista de ingredientes e na leitura do rótulo. Segundo a executiva, os resultados superaram a expectativa, com o estande  lotado durante os quatro dias do evento. A aposta em lançamentos de fácil entendimento, giro rápido e agrado de todos os públicos foi certeira. O destaque maior foi para a linha de bolinhas de doce de leite e brigadeiro, ambos zero adição de açúcares e zero glúten. “Praticamente 100% dos visitantes já colocaram pedidos e já estamos despachando para todo o Brasil”, comemora Alexandra. Ela relata que, em paralelo, a Flormel testou o lançamento com consumidores finais da Casa Santa Luzia, de São Paulo, alcançando bons resultados. “Em uma semana de ação foram vendidas mais de dez caixas máster, só de brigadeiro”, contabiliza a diretora.

A partir da Apas, a Flormel aumentou as áreas de distribuição e consolidou parcerias com grandes varejistas brasileiros, a exemplo das redes Carrefour, Lojas Americanas, Walmart, Mundo Verde e Droga Raia, entre outras, enumera Alexandra. “A grande tendência do mercado saudável é oferecer produtos clean label, ou seja, com ingredientes mais naturais, atendendo à necessidade do consumidor de reconhecer os ingredientes que compõem o produto”, frisa ela.

Também referência em chocolates funcionais e alimentos especiais, a Chocolife atraiu o interesse do trade supermercadista com lançamentos como o Cacau em Pó 100 % Cacau, o Achocolatado 45% Cacau e uma versão da linha Chocolife Senses 71% Cacau, agora em embalagem com 50g (2 tabletes com 25g cada), nos sabores frutas vermelhas, matcha e limão, cúrcuma, pimenta preta e laranja e puro cacau, elenca Virgínia de Ávila Dias, diretora da Chocolife. Além de oferecer os benefícios do cacau, a novidade foi apresentada em primeira mão em embalagem clean, suprindo uma demanda que era lacuna no varejo, informa a executiva. “Nosso produto não contém açúcar, ingredientes lácteos, nem soja e glúten”, enfatiza ela. Da mesma forma, o achocolatado 45% segue para o grande varejo também para suprir a falta de itens com perfil “zero”, com alto teor de cacau e zero açúcar, lactose, glúten, gordura trans e soja. “É opção para suprir necessidades do público infantojuvenil, que aprecia muito a bebida, seja fria ou quente, e agora terá um produto de alto valor agregado, com sabor e conteúdo nutricional”, argumenta Virgínia. Ela acentua que a lista de ingredientes incorpora adicionalmente amido de milho ceroso, maltodextrina, goma acácia, goma xantana, lecitina de girassol, estévia (Rebaudiosídeo A) e aromatizante idêntico ao natural de chocolate.

Marca reconhecida na cena de chocolates funcionais, a Chocolife fez sua estreia na Apas com resultados positivos, considera Virgínia, sem abrir valores. “Após 10 anos investindo somente no canal verde, acreditamos que a cada dia cresce a procura por alimentos saudáveis dentro do varejo de massa. A alimentação do brasileiro está mudando e a Chocolife é uma empresa que se preocupa em atender esse público”, assinala a diretora. •

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